Akira Toriyama - World Guides 3
Quando
os mundos colidem
O mundo que aparece em Dragon Ball é como a Terra, mas não
exatamente igual a Terra. Um lugar de vastas extensões
desérticas como que saído de um desenho do Papa-léguas; ilhas
tropicais com palmeiras; cidades enormes e agitadas como nos
filmes futuristas; vilas como as casas dos Munchkins em O Mágico
de Oz. Bugigangas onde se aperta um botão e elas expandem da
"Corporação Cápsula" vindas diretamente dos Jetsons,
ambos tecnologia e esperteza; A moto aérea de Bulma nos
primeiros episódios parece um aspirador de pó da Electrolux
modificado para correr - utensílios de cozinha dos anos 50 para
um rico mundo de desenho.
"Todas as palavras que eu desenhei no mangá são diferentes
do mundo real, desde o primeiro mangá", Toriyama diz.
"Você não pode dizer onde fica a Vila Pingüim... Kishman
parecia um pouco mais real, mas você não consegue localizá-la
no mapa também. É mais fácil, apesar de tudo - meu padrão
para fazer uma escolha é facilidade. Se algo é baseado no mundo
real, eu tenho que usar referências para construções e
veículos. Desse modo, eu posso decidir cada ajuste que eu quero
e desenhar livremente".
Dragon Ball, no entanto, usou de alguns lugares do mundo real
como base. "Minha esposa estava encantada com a China na
época, então eu usei alguns livros de fotos que ela havia
comprado. Também, antes do seriado começar, eu fui para Bali
com meus familiares e assistentes. A Ilha Papaia, onde acontece o
torneio Tenka-Ichi, foi modelada completamente após Bali".
Outras situações onde Toriyama foi forçado a usar referências
da vida real foi a localização de uma espaçonave enterrada
("Eu usei uma coleção de fotos africanas para isso")
e várias terras desoladas e áridas. "As histórias mais
tardias todas aconteceram em terras desoladas, então era duro
desenhá-las diferentemente. Eu mudava o cenário toda vez. Eu
mudava a forma das rochas ou as montanhas ao longe. "Eu
tinha que fazer com que os leitores soubessem que aquele lugar
era diferente do da última vez - seria chato usar toda vez o
mesmo cenário".
"Tem sido um hábito meu desde a infância sempre estar
olhando envolta", ele continua. "Quando eu vou fazer
compras, eu me divirto mais olhando a cidade do que comprando.
Pro meu trabalho, o cenário da cidade, coisas pequenas, e as
roupas das pessoas são todos úteis - além disso, a diferença
de que eu estava em desvantagem quando eu era um empregado. Eu
reclamaria de ter que desenhar cem pares de meias", ele ri.
"Em retrospecto, aquele até que foi um exercício
útil". Ao invés de desenhar o que ele vê, ele diz que
"Eu queimo isso na minha visão, então eu normalmente falho
quando vou tentar desenhar isso depois. 'Era assim mesmo?' Mas eu
retenho a imagem geral das coisas. Eu confio naquela não-tão-completa memória exata para desenhar as coisas. Eu
provavelmente posso desenhar quase tudo desse jeito".
Filmes são outra fonte para suas idéias, embora ainda mais
subconsciente que suas observações nas ruas. Toriyama não
assiste tantos filmes como os deixa "brincar" no plano
de fundo enquanto ele trabalha ("Subtítulos não são bons
para mim - Eu não consigo trabalhar!"), mas às vezes,
pequenas inspirações aparecem. "Em termos de história
eles são inúteis", Toriyama diz. Mas como mostrar as
coisas, como explosões, onde as coisas não explodem
simplesmente - elas tem que brilhar primeiro, e então o som deve
seguir com um pouco de atraso. Além disso, os filmes de Jackie Chan devem ser uma referência para o ritmo das batalhas.
"A única outra possibilidade onde eu possa usar
referências para a minha arte seria desenhando carros e
aviões", Toriyama continua. "Modelos plásticos são
úteis. Você pode examiná-los por qualquer ângulo enquanto
desenha os carros". Essa necessidade de detalhes,
aparentemente, é parte do que levou ao estilo engraçado e
caricaturado de Toriyama para desenhar máquinas e outros
aparelhos. "Se você quiser desenhar algo exatamente do
jeito que ele é, leva uma quantidade enorme de tempo. Se você
não pega os detalhes direito, as imperfeições vão se acumular
em algum lugar. Mas não há problema se está caricaturado. Eu
tento terminar o mais rápido possível".
"Eu provavelmente me divirto mais criando veículos
originais", ele continua. "Eu geralmente considero
detalhes do tipo como entrar neles e onde ficam seus motores.
Quando você desenha um carro real, você tem que obter algumas
referências. Eu odiaria ter alguém me dizendo que está
errado", ele ri. "Mas se é algo que eu inventei, eu
posso fazê-lo do meu jeito". De fato, esse estilo
caricaturado é essencial para o mundo de Dragon Ball como um
todo. "Meu mangá é no estilo de comédia vulgar, então,
se os personagens são caricaturas humanas, seria estranho se as
outras coisas não fossem caricaturadas".
Exceto a versão da Terra de Dragon Ball, a série afunda em
muitas aventuras "fora do mundo" - no planeta Namek,
procurando pelas Dragon Balls mais poderosas. "Eu inventei a
arquitetura e as naves de Namek baseado no trono de Piccolo. Eu
só pensei em fazer o conjunto coerente quando eles foram para
Namek", Toriyama afirma. Outra ambientação única são o
paraíso e inferno bem asiáticos de Dragon Ball, onde Gokou
passa boa parte da série, tentando voltar para a Terra. A
introdução de Toriyama, porém, é longe da típica. "O
santuário de Deus parecia particularmente místico, então eu
achei que funcionaria para fazer os outros lugares parecerem
mundanos. Então Emma Daioh (rei do Mundo dos Espíritos, cidade
de Hades) e os ogros aparecem vestindo ternos como homens de
negócio". A "vida futura" (morte), na visão de
Toriyama, é cheia de referências à rotina da Terra - desde
caminhões de limpeza no Caminho da Serpente até ogros vestindo
camiseta e roupa de cooper e almas viajando para o paraíso de
avião. Em explicação, Toriyama se refere a um mapa mundi na
coleção de ilustrações de Dragon Ball.
"Esse mapa é algo que eu desenhei originalmente à pedido
de um animador, mas eu usei a oportunidade para fazer o mundo
completo. Eu geralmente faço a história primeiro e depois o
mundo. Um verdadeiro artista de mangá provavelmente desenharia o
mapa primeiro e depois pensaria na história. Isso pode fazer
parecer que eu trabalho sem pensar, mas não é verdade. Eu tenho
uma vaga noção antes de começar a história".
Brincando
de Deus
No mesmo caminho, a aproximação de Toriyama ao desenho do
personagem é a de criar personagens para se encaixarem a sua
história. Em Dragon Ball, até a premissa de que os personagens
eram aliens foi algo que Toriyama só inventou na hora. "Eu
não pensava que Goku fosse ser um alien quando ele tinha cauda
ou se transformou num macaco gigante. O mesmo com Piccolo. Eu vim
sugerindo aquilo quando Deus apareceu. Eu geralmente proponho uma explicação
mais elaborada".
Do mesmo modo, Toriyama começa o design de seus personagens com a personalidade,
preenchendo os detalhes conforme ele avança. "Eu começo com o rosto, e enquanto
eu faço o rosto, eu penso no físico. Depois da cabeça e do corpo, eu tenho uma
noção de um traje que seria adequado para o mundo onde ele vive, ou para um
lutador, algo que seria confortável durante a batalha. Basicamente, eu penso em
monocromo - depois que eu invento os personagens, seus projetos de cores estão
rudemente acertados na minha mente. É claro que eles saem diferentes quando eu
vou colori-los no papel".
Dragon Ball à parte, hoje em dia Toriyama é possivelmente mais
conhecido como designer de video games, especialmente na
América, onde animação japonesa e quadrinhos estão apenas
começando a pegar. Os personagens de Toriyama para vídeo games
populares como Chrono Trigger e Tobal nº 1 são instantaneamente
reconhecíveis, quase a ponto de serem personagens que poderiam
facilmente ter aparecido em Dragon Ball (Nós sabemos de um fã
de DBZ que usou o recurso de customização em Tobal nº 2 para fazer
uma réplica de Gotenks). Toriyama fala de suas aventuras
desenhando para vídeo games que foram provavelmente sugeridas à
ele por seu editor. "No começo eu não queria", ele
diz, "mas eu expandi meus horizontes". Sobre a
diferença entre desenhar personagens para vídeo games e desenhar
para mangá ou animação, Toriyama admite que "É
diferente", e nota que apesar dos personagens do vídeo game
serem cuidadosos, ainda é possível desenhar personagens
intrigantes.
"Em mangá ou animação, designs detalhados acusam trabalho
duro, mas: você não tem essas restrições nos vídeo games.
Você deve dar-lhes características distintas, mesmo quando eles
se reduzem a poucos pixels. Pode ser o mesmo com animação.
Você teria um personagem negro, um marrom ou até mesmo um roxo.
Para o meu mangá, eu prefiro evitar de usar tons de tela, mas em
animação, a mesma coisa deve ser feita para distinguir os
personagens. Nos vídeo games, eles podem ter trajes que eu teria
muito trabalho para fazer no mangá. Para animação, eu tenho que
ter um compromisso que não vá exigir demais dos animadores
enquanto ainda lembre o vídeo game.