Dragon Ball na Mídia - Made In Japan
Folha
de São Paulo, 16/07/2000 - TV Folha (págs. 12 e 13)
Made In Japan
Made In
Japan: especialistas tentam explicar o sucesso dos desenhos
japoneses entre as crianças; produções viram arma na guerra
pela audiência entre as redes de TV.
Bruno
Garcez
TV
brasileira se rende ao desenho nipônico
Nos anos 70, "Speed Racer" dominava as pistas de
corrida e as telas de TV. Em meados dos anos 90, o futurista
"Cavaleiros do Zodíaco" desbancou diversos outros
programas infantis. Agora, não é apenas uma animação japonesa
que se destaca na programação televisiva, mas várias. A Globo,
graças a Digimon", desenho calcado em "Pokémon"
exibido pela Record, vem elevando os índices de audiência de
suas manhãs. Antes, vinha perdendo frequentemente no horário
para o SBT e a Record.
"Digimon" e "Pokémon" estão servindo,
respectivamente, de combustível para a disputa entre os matinais
"Férias Animadas", da Globo, e "Eliana &
Alegria", da Record. Tendo estreado no início deste mês
(Julho/2000), "Digimon" tem levado a melhor, segundo o
Ibope. A Record promete nova munição para outubro, quando
entram no ar 52 episódios inéditos de "Pokémon".
Os dois desenhos têm enredos com tramas fantásticas.
"Pokémon" acompanha os passos de Ash, garoto de 10
anos que decide se tornar mestre pokémon, mas antes precisará
vencer o maior número possível de batalhas, ao lado de seu
amigo Pikachu. "Digimon" fala de um grupo de crianças
que acaba tendo em mãos os digivices, aparelhos que os
transportam para um mundo digital, o digimundo. Lá, conhecem
tanto criaturas perversas como o Devimon, que tenta dominar o
digimundo e, por tabela, a Terra, como os digimons do bem, que os
ajudam a combater os vilões.
Uma trama fantástica também rege "Dragon Ball Z",
exibido de segunda a sexta pela Band. O anime, termo pelo qual
são conhecidas as animações japonesas, é inspirado numa lenda
popular do Japão. O desenho traz a evolução das aventuras
retratadas em "Dragon Ball", que até poucas semanas ia
ao ar no SBT. Na contramão das grandes redes, a emissora deixou
de passar a atrção e não tem planos de voltar atrás.
Na esteira do sucesso das atuais atrações, mais desenhos
nipônicos estão a caminho. A empresa Dá Licença, que licencia
produtos da maior produtora contemporânea japonesa de anime, a
Toei Animations, é responsável pelo licensiamento no Brasil de
artefatos ligados a "Digimon" e "Dragon Ball
Z". A empresa negocia com a Band, Record e Globo a venda de
diversas séries de animação, como "Sailor Moon" e
"Cavaleiros do Zodíaco", que pode voltar ano que vem,
na Globo. A Band pretende, a partir de agosto, ampliar sua
programação infanto-juvenil, estreando novos desenhos
japoneses.
As crianças, principal público-alvo dos desenhos nipônicos,
agradecem. Para especialistas, há várias explicações para o
sucesso que tais desenhos desfrutam entre os jovens. Segunda a
professora Sonia Luyten, que defendeu a tese de doutorado
"Mangá-O Poder dos Quadrinhos Japoneses", o fascínio
pelo anime é causado por uma série de variantes.
"A febre que caracteriza essas atrações é típica do
Japão". É uma sociedade de consumo muito forte, com uma
excelente máquina de divulgação. Assim que a animação é
lançada, chega também a versão em quadrinhos e em game.
Depois, quando um desenho cai no esquecimento, como já aconteceu
com "Cavaleiros do Zodíaco", surge logo um substituto,
afirma a professora.
O mercado confirma a análise da professora. Atualmente há 172
produtos licenciados de "Pokémon", entre artigos de
festa, álbum de figurinhas, lancheiras e até xampus. Com a
estréia do longa metragem "Pokémon 2", no próximo
dia 21, o lucro gerado por tais produtos decerto ainda
aumentará.
Além do forte apelo publicitário, os animes dispõem, segundo
Sonia Luyten, de elementos clássicos, como a ambivalência entre
o bem e o mal e heróis que lutam contra forças cósmicas. Entre
os recursos modernos que causam fascínio do público, diz ela,
figuram alusões que os desenhos fazem a recentes recursos
tecnológicos e o fato de serem modismos também nos EUA e na
Europa.
De acordo com Marcelo Tassara, professor de animação do curso
de audiovisual da USP, a febre em torno da animação japonesa
é, de certa forma, imposta. "Há uma linha publicitária
que empurra esses personagens para as crianças", afirma.
Além do consumo forçado, existe o tem escapista promovido pelos
cartuns. "Os desenhos sempre reportam a um mundo
imaginário", diz Tassara.
Segundo Rogério de Campos, diretor da editora Conrad,
responsável pela revista quinzenal "Pokémon Club", a
dramaticidade dos japoneses se aproxima do gosto brasileiro.
"A pieguice e o estilo meloso japonês têm muito a vem com
o mar de lágrimas das novelas brasileiras. Além disso, eles
possuem uma relação de fascínio e estranhamento diante da
cultura norte-americana que nós também compartilhamos.".
Além de tecer análises sobre os cartoons japoneses, o diretor
da Conrad também se prepara para lançar novos produtos. Ainda
neste semestre, a editora deve soltar no mercado duas novas
revistas ligadas aos desenhos "Dragon Ball" e
"Dragon Ball Z". As publicações chegam em um momento
que lhes é favorável. Anteontem, tinha estréia prevista nos
cinemas nacionais o longa "Dragon Ball Z - O Filme".
Além de "Dragon Ball", "Digimon" é outro
que ganhará sua própria revista. A Abril levará às bancas no
mês que vem a publicação oficial do anime, com tiragem inicial
de cerca de 300 mil exemplares.
Cartoons
japoneses tentam conquistar público adulto
A TV page exibe uma leva eclética de animes. Enquanto o canal
Fox Kids traz "Power Rangers" e "Super Pig" e
o Cartoon Network reúne "Pokémon" e "Dragon Ball
Z", o canal Locomotion visa os adultos.
As principais atrações nipônicas do Locomotion são a série
"Evangelion" e "Saber Marionette J". Em
setembro, trarão o anime cult "Bubblegum Crisis".
""Nossa programação é destinada a adultos, e há
muitos desenhos japoneses que atendem a esse público", diz
Rodrigo Piza, gerente-geral do Locomotion. A mostra Anima Mundi,
em cartaz no Rio, traz, entre outros, o longa "Ghost in te
Shell", dos produtores de "Akira", cujos direitos
de exibição são do Locomotion.
Os responsáveis por canais de desenhos explicam o sucesso dos
animes. "Eles têm linguagem e efeitos visuais típicos de
videogame, com a ação se desenvolvendo em vários níveis e
estágios", diz Barry Koch, vice presidente para a América
Latina de Cartoon. "Eles permitem à criança criar uma
realidade paralela", complementa Jackeline Cantore, diretora
de programação da Fox Kids. (BG)