DRAGON BALL NA MÍDIA BRASILEIRA

Dragon Ball na Mídia

Aqui disponibilizaremos textos, transcrições, fotos e scanners de colunas feitas por jornalistas, pseudo-jornalistas, amadores e religiosos sobre Dragon Ball e outros assuntos onde seu nome é citado, no Brasil.

Se você possui matérias de revistas brasileiras acerca da franquia Dragon Ball, mande-nos um email!

Matérias disponíveis:

Socos no Oriente – Revista VEJA, 02/04/1997
Desenhos animados do Japão (Divulgação) – Jornal Folha de São Paulo, 30/08/1997
O melhor desenho animado da televisão – Jornal Folha de São Paulo, 07/04/2000
”Dragon Ball” é da idade da pedra – O Estado de São Paulo, 14/07/2000
Made In Japan – Folha de São Paulo, 16/07/2000
O violento e esquisito Dragon Ball vira mania – Revista VEJA, 16/07/2001
Dragon Ball – Mensagem Subliminar – Revista VEJA, 18/08/2001
HQ Mix premia a diversidade – Jornal do Commercio, 10/09/2001
As “mensagens” de DB e Harry Potter – Revista Mensageiro Luterano, ??/09/2001
Gov. proíbe desenho violento antes das 20h – Jornal Folha de São Paulo, 15/09/2001
De olhos quase puxados – Revista ISTO É, 19/09/2001
TV na ordem do dia – Jornal Folha de São Paulo, 27/01/02
História das Histórias em Quadrinhos – O Estado de São Paulo, 16/5/2002
Crianças aprendem a se defender da TV – O Estado de São Paulo, 09/06/02
Febre oriental – Jornal Folha de São Paulo, 20/10/02
Axiologia e Inconsciente Coletivo no Mundo dos Super-Heróis – Revista Espaço Acadêmico – Nº 29, ??/10/03
Resenha do Filme Dragon Ball Z: BATALHA NOS DOIS MUNDOS (JORNAL O DIA e JORNAL O GLOBO)

Dragon Ball na Mídia – Socos do Oriente

VEJA, 02/04/1997 – Televisão
Socos do Oriente

O charme violento de Yuyu Hakusho, o desenho que destronou Os Cavaleiros do Zodíaco
Ricardo Valladares

Desenho animado japonês tornou-se sinônimo de boa audiência. Foi assim com Os Cavaleiros do Zodíaco, estouro de dois anos e meio atrás, e é assim com Dragon Ball e Fly (Dragon Quest), que, exibidos pelo SBT, fazem 9 a 5 no Ibope contra Xuxa nas manhãs de sábado. Estreou na semana passada, nos horários das 9h30 e 18hrs, Yuyu Hakusho, desenho que bateu todos os recordes de audiência no Japão, superando o campeão anterior Dragon Ball, há onze anos no ar. Ao contrário de Os Cavaleiros do Zodíaco, desenho destinado ao público infantil, é um desenho para adolescentes que as crianças também gostam. Seu herói, Yusuke, que, quando vivo aturava a mãe alcoólatra e as pancadas dos colegas da escola, volta depois de morto para defender os bons contra os maus.

Desenho japonês é sinônimo de pancadaria, enredos amalucados e exuberância visual. YYH não foge à regra. Não é difícil ver o herói da série socando seus oponentes até sair sangue. Essa violência vem desde os tempos de Ultraseven e Ultraman, que arrancavam olhos e braços dos inimigos depois de ter destruído Tóquio inteira. Speed Racer primava pelos acidentes de carro espetaculosos. O enredo de YYH tb é mirabolante, Yusuke Trafega entre a Terra e o Mundo Espiritual. É um desenho feitos sob medida para agradar aos adolescentes dos anos 90, que cresceram esmagando os crânios de seus coleguinhas no videogame e adoram histórias complexas que nem seus pais nem os irmãos menores conseguem entender. “YYH para mim foi uma surpresa, tem um dos melhores roteiros que já vi”, diz o especialista Alvaro de Moya, 66 anos, autor de vários livros sobre quadrinhos e animação.

Licenciamento – O bom desempenho dos desenhos orientais no Ibope não ocorre por acaso. No Japão, o desenho é um negócio levado tão a sério como as novelas no Brasil. Eles ocupam 47% do horário nobre da TV japonesa. As histórias para os desenhos são tiradas dos mangás, revistas em quadrinhos com histórias e episódios. São vendidos 25 milhões de mangás por mês no Japão. Quando um deles faz sucesso, a história logo vira desenho animado e se torna um grande negócio, devido ao licenciamento. De 93 a 95, YYH faturou 50 milhões de dólares em 150 produtos vendidos, entre camisetas, lenços, guarda-chuvas e até carpetes. Fora do Japão, os maiores mercados desse tipo de desenho são França, Espanha, Itália e países da América Latina – eles fazem pouco sucesso nos EUA e nos outros países Europeus. “Choro, drama, gente se descabelando. Tudo lembra as novelas mexicanas, e latino gosta disso.”, diz André Forastieri, editor da revista Herói, especializada em quadrinhos. A esperança dos produtores, pelo menos, é grande. O Brasil é o primeiro país ponto de exportação de YYH, pois o desenho não estreou na Europa nem nos EUA. A Tikara Filmes, que negocia os desenhos no Brasil, aposta nesse apelo para faturar alto com licenciamento, “O que dá dinheiro mesmo são os brinquedos”, diz Patrícia Yoshizume, gerente da empresa. Dentro de um mês, devem chegar às lojas brasileiras os primeiros bonecos inspirados na série.

Dragon Ball na Mídia – Desenhos animados do Japão

Folha de São Paulo, 30/08/97 – Folhinha
Desenhos animados do Japão (Divulgação)

Turma do “Yuyu Hakusho”
Free-lance para a Folhinha

Personagens japoneses são heróis no Brasil. Os seriados e desenhos, exibidos pelos canais brasileiros, trazem um pouco da cultura e da fantasia das crianças japonesas.

Os primeiros heróis desembarcaram no Brasil na década de 60. National Kid se chamava Massao Hato e tinha a missão de defender a Terra contra ataques nucleares.

Zero, da série “Dragon Ball”, foi criado pelo avô, longe da civilização. Ele aprendeu artes marciais e usa um bastão para se defender.

Meninas e meninos guerreiros

Além dos heróis-meninos, existem as heroínas japonesas. São as Guerreiras Mágicas de Rayearth e Sailor Moon, que tentam defender a Terra das forças do mal. Garotos rebeldes também são ídolos. É o caso de Yusuke, da série “Yuyu Hakusho”.

Divulgação – O super-herói japonês Fly
O mago Fly e outros guerreiros

O super-herói Fly também é um garoto. Ele foi educado para ser um mago, mas seu sonho é ser um guerreiro.

Fly vive isolado em uma ilha que é habitada por monstros e tem a missão de defender uma princesa.

Os Cavaleiros do Zodíaco, também trazidos do Japão, encantaram as crianças, mas agora estão um pouco esquecidos. Eles têm poderes dos signos dos zodíacos.

Dragon Ball na Mídia – O melhor desenho animado da televisão

Folha de São Paulo, 07/04/2000 – TV Folha
O melhor desenho animado da televisão

Os Simpsons foi eleito pelos leitores do TV Folha o melhor desenho animado da televisão. A atração, que no Brasil é exibida pelo SBT e pelo canal Fox, recebeu 86 votos, ou 18,7% do total. Ao todo, 460 leitores, com idades entre 4 e 76 anos, enviaram seus votos para a redação do TV Folha (foram 41 cartas, 44 faxes e 375 e-mails). Os fãs de Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie têm ainda outro motivo para comemorar: estão ganhando este mês um site em português, o www.ossimpsons.com.br. O site vem nos mesmos moldes da página norte-americana, apresentando um guia com todos os episódios dos dez anos da série, além das biografias de cada personagem. O desenho japonês Cavaleiros do Zodíaco que era exibido pela TV Manchete foi o segundo mais votado na pesquisa do TV Folha, com 71 votos (15,4% do total). Pokémon, outro desenho japonês, exibido pela Record, ficou em terceiro, com 37 votos. Mas os desenhos tradicionais não foram esquecidos pelos leitores: os eternos Pica-Pau (4º), Tom & Jerry, Scooby Doo (empatados em 8º) e Os Flintstones (10º) ficaram entre os dez mais votados.

O pouco ortodoxo South Park (exibido pelo Multishow e pela MTV) ficou em quinto lugar, com 21 votos. Ao todo, foram mencionados 54 desenhos diferentes, entre eles os clássicos Manda-Chuva e Popeye, e outros nem tanto, como Gárgulas, Brasinhas do Espaço e Dragon Ball Z, que ficou empatado com Caverna do Dragão em sexto lugar, com 18 votos.

Dragon Ball na Mídia – “Dragon Ball” é da idade da pedra

O Estado de São Paulo, 14/07/2000 – Caderno 2
“Dragon Ball” é da idade da pedra

Goku, o personagem japonês,que surgiu na TV, já conquistou a Europa e os EUA.
Luis Carlos Merten

Ás vésperas da estréia de Pokémon 2, na proxima sexta, outro desenho japonês parecido chega aos cinemas brasileiros. Dragon Ball Z surgiu na TV do Japão e continuou ganhando telespectadores na Europa, nos Estados Unidos e agora na América Latina. Virou filme de Daisuke Nishio, que segue o modelo criado pelo pai da série, Akira Toriyama.

Não deixa de ser um mistério saber por que Dragon Ball, como Pokémon, faz tanto sucesso entre a garotada. Deveria ser proibido para adultos – é brincadeirinha, ninguem quer ser sensor de coisa alguma. O desenho é tosco, as cores são péssimas, as figuras, feias, e não há noção nenhuma de volume nem perspectiva.

Parece datar da idade da pedra da animação. A trama não é a melhor, mas a luta do jovem Goku e seus amigos para salvar a Terra encanta os baixinhos.
Essa trama tem a ver com ecologia e nunca será demais lembrar que o Japão foi o único país que sofreu com os efeitos da bomba atômica.

Volta e meia o assunto assombra o imaginário dos japoneses. E assim surgiu a história de Goku e seus amigos que enfrentam o perigo do espaço, quando extraterrestre planta uma semente maligna que, em pouco tempo vira árvore gigantesca, capaz de sugar toda energia da Terra. Assim começa a superbatalha do mundo.

Dragon Ball surgiu nos quadrinhos em 1986. Goku, um menino de rabo-de-cavalo adepto das artes marciais, busca esferas mágicas que permitem invocar o Dragão Shenron, como sabem os fãs. Ele enfrenta os guerreiros de Saiyan. A idéia é que o pequeno protagonista complete sua evolução física e espiritual, o que, para quem gosta, dá valor educativo ao personagem.

Dragon Ball na Mídia – Made In Japan

Folha de São Paulo, 16/07/2000 – TV Folha (págs. 12 e 13)
Made In Japan

Made In Japan: especialistas tentam explicar o sucesso dos desenhos japoneses entre as crianças; produções viram arma na guerra pela audiência entre as redes de TV.
Bruno Garcez

TV brasileira se rende ao desenho nipônico

Nos anos 70, “Speed Racer” dominava as pistas de corrida e as telas de TV. Em meados dos anos 90, o futurista “Cavaleiros do Zodíaco” desbancou diversos outros programas infantis. Agora, não é apenas uma animação japonesa que se destaca na programação televisiva, mas várias. A Globo, graças a Digimon”, desenho calcado em “Pokémon” exibido pela Record, vem elevando os índices de audiência de suas manhãs. Antes, vinha perdendo frequentemente no horário para o SBT e a Record.

“Digimon” e “Pokémon” estão servindo, respectivamente, de combustível para a disputa entre os matinais “Férias Animadas”, da Globo, e “Eliana & Alegria”, da Record. Tendo estreado no início deste mês (Julho/2000), “Digimon” tem levado a melhor, segundo o Ibope. A Record promete nova munição para outubro, quando entram no ar 52 episódios inéditos de “Pokémon”.

Os dois desenhos têm enredos com tramas fantásticas. “Pokémon” acompanha os passos de Ash, garoto de 10 anos que decide se tornar mestre pokémon, mas antes precisará vencer o maior número possível de batalhas, ao lado de seu amigo Pikachu. “Digimon” fala de um grupo de crianças que acaba tendo em mãos os digivices, aparelhos que os transportam para um mundo digital, o digimundo. Lá, conhecem tanto criaturas perversas como o Devimon, que tenta dominar o digimundo e, por tabela, a Terra, como os digimons do bem, que os ajudam a combater os vilões.

Uma trama fantástica também rege “Dragon Ball Z”, exibido de segunda a sexta pela Band. O anime, termo pelo qual são conhecidas as animações japonesas, é inspirado numa lenda popular do Japão. O desenho traz a evolução das aventuras retratadas em “Dragon Ball”, que até poucas semanas ia ao ar no SBT. Na contramão das grandes redes, a emissora deixou de passar a atrção e não tem planos de voltar atrás.

Na esteira do sucesso das atuais atrações, mais desenhos nipônicos estão a caminho. A empresa Dá Licença, que licencia produtos da maior produtora contemporânea japonesa de anime, a Toei Animations, é responsável pelo licensiamento no Brasil de artefatos ligados a “Digimon” e “Dragon Ball Z”. A empresa negocia com a Band, Record e Globo a venda de diversas séries de animação, como “Sailor Moon” e “Cavaleiros do Zodíaco”, que pode voltar ano que vem, na Globo. A Band pretende, a partir de agosto, ampliar sua programação infanto-juvenil, estreando novos desenhos japoneses.

As crianças, principal público-alvo dos desenhos nipônicos, agradecem. Para especialistas, há várias explicações para o sucesso que tais desenhos desfrutam entre os jovens. Segunda a professora Sonia Luyten, que defendeu a tese de doutorado “Mangá-O Poder dos Quadrinhos Japoneses”, o fascínio pelo anime é causado por uma série de variantes.

“A febre que caracteriza essas atrações é típica do Japão”. É uma sociedade de consumo muito forte, com uma excelente máquina de divulgação. Assim que a animação é lançada, chega também a versão em quadrinhos e em game. Depois, quando um desenho cai no esquecimento, como já aconteceu com “Cavaleiros do Zodíaco”, surge logo um substituto, afirma a professora.

O mercado confirma a análise da professora. Atualmente há 172 produtos licenciados de “Pokémon”, entre artigos de festa, álbum de figurinhas, lancheiras e até xampus. Com a estréia do longa metragem “Pokémon 2”, no próximo dia 21, o lucro gerado por tais produtos decerto ainda aumentará.

Além do forte apelo publicitário, os animes dispõem, segundo Sonia Luyten, de elementos clássicos, como a ambivalência entre o bem e o mal e heróis que lutam contra forças cósmicas. Entre os recursos modernos que causam fascínio do público, diz ela, figuram alusões que os desenhos fazem a recentes recursos tecnológicos e o fato de serem modismos também nos EUA e na Europa.

De acordo com Marcelo Tassara, professor de animação do curso de audiovisual da USP, a febre em torno da animação japonesa é, de certa forma, imposta. “Há uma linha publicitária que empurra esses personagens para as crianças”, afirma. Além do consumo forçado, existe o tem escapista promovido pelos cartuns. “Os desenhos sempre reportam a um mundo imaginário”, diz Tassara.

Segundo Rogério de Campos, diretor da editora Conrad, responsável pela revista quinzenal “Pokémon Club”, a dramaticidade dos japoneses se aproxima do gosto brasileiro. “A pieguice e o estilo meloso japonês têm muito a vem com o mar de lágrimas das novelas brasileiras. Além disso, eles possuem uma relação de fascínio e estranhamento diante da cultura norte-americana que nós também compartilhamos.”.

Além de tecer análises sobre os cartoons japoneses, o diretor da Conrad também se prepara para lançar novos produtos. Ainda neste semestre, a editora deve soltar no mercado duas novas revistas ligadas aos desenhos “Dragon Ball” e “Dragon Ball Z”. As publicações chegam em um momento que lhes é favorável. Anteontem, tinha estréia prevista nos cinemas nacionais o longa “Dragon Ball Z – O Filme”. Além de “Dragon Ball”, “Digimon” é outro que ganhará sua própria revista. A Abril levará às bancas no mês que vem a publicação oficial do anime, com tiragem inicial de cerca de 300 mil exemplares.

Cartoons japoneses tentam conquistar público adulto

A TV page exibe uma leva eclética de animes. Enquanto o canal Fox Kids traz “Power Rangers” e “Super Pig” e o Cartoon Network reúne “Pokémon” e “Dragon Ball Z”, o canal Locomotion visa os adultos.

As principais atrações nipônicas do Locomotion são a série “Evangelion” e “Saber Marionette J”. Em setembro, trarão o anime cult “Bubblegum Crisis”. “”Nossa programação é destinada a adultos, e há muitos desenhos japoneses que atendem a esse público”, diz Rodrigo Piza, gerente-geral do Locomotion. A mostra Anima Mundi, em cartaz no Rio, traz, entre outros, o longa “Ghost in te Shell”, dos produtores de “Akira”, cujos direitos de exibição são do Locomotion.

Os responsáveis por canais de desenhos explicam o sucesso dos animes. “Eles têm linguagem e efeitos visuais típicos de videogame, com a ação se desenvolvendo em vários níveis e estágios”, diz Barry Koch, vice presidente para a América Latina de Cartoon. “Eles permitem à criança criar uma realidade paralela”, complementa Jackeline Cantore, diretora de programação da Fox Kids. (BG)

Dragon Ball na Mídia – O violento e esquisito Dragon Ball vira mania

VEJA, 16/07/2001
O violento e esquisito Dragon Ball vira mania

Nos últimos tempos, o mundo dos desenhos animados trouxe uma boa e uma má notícia para os pais brasileiros. A boa: a garotada já está se cansando dos monstrengos do Pokémon. A notícia ruim: outra animação japonesa, com mais pancadaria e esquisitices, virou febre não só entre as crianças, mas também entre os adolescentes.

Trata-se de Dragon Ball, uma série cujo mote são as artes marciais. Atração do Cartoon Network, o desenho é atualmente o mais assistido da TV paga, com audiência média de 9 pontos. Na televisão aberta, a Bandeirantes o exibe desde 1999, mas a Rede Globo comprou 120 capítulos e deverá levá-los ao ar em breve. Dragon Ball é uma verdadeira saga. Estreou no Japão em 1986 e levou dez anos para desenrolar-se em três fases – Dragon Ball, Dragon Ball Z e Dragon Ball GT. Assim como ocorreu no país de origem, o desenho passou despercebido ao estrear no Brasil. Aos poucos, sua trama mirabolante, que mistura alienígenas com dragões, foi caindo no gosto da garotada.

A história em quadrinhos do Dragon Ball também virou campeã de vendas nas bancas. Mensalmente, 130.000 exemplares são vendidos, contra 120.000 da revista do Pokémon. O protagonista de Dragon Ball não solta raios como o velho Pikachu. Goku (esse, infelizmente, é seu nome) resolve tudo no braço. Ele já se tornou, é óbvio, personagem de videogames, brinquedos e outras bugigangas.

Dragon Ball na Mídia – Dragon Ball – Mensagem Subliminar

VEJA, 18/08/2001
Dragon Ball – Mensagem Subliminar

Animação japonesa, com muita pancadaria e esquisitices, cuja temática são as Artes Marciais, já virou febre, não só entre as crianças, mas também entre os adolescentes.O desenho é o mais assistido atualmente da TV paga (Cartoon Network), com audiência média de 9 pontos (lembrando que cada ponto, equivale a 80 mil telespectadores).

O desenho estreou no Japão (pra variar…) em 1986 e levou 10 anos para desenrolar-se em três fases: – Dragon Ball, Dragon Balll Z e Dragon Ball GT. O desenho, que também faz sucesso na TV aberta, em sua trama mirabolante, mistura alienígenas, dragões e uma dose de simbologia ocultista. O personagem principal é Goku, um garoto que sai pelo mundo em busca de 7 esferas de cristal que, quando juntas, invocam um dragão (Shen-lon) que satisfará seus desejos. A história tem também um Mestre (este não podia faltar) que o fará um grande lutador, de quebra, um demônio chamado Piccolo. A febre também atingiu as histórias em quadrinhos e, 130 mil revistas já são vendidas mensalmente, sem falar, é claro, dos games, brinquedos e outras quinquilharias com o personagem. Pode-se observar também, a inserção subliminar do número 666, também conhecido como ‘número da besta’, na porta do carro do personagem Mr. Satã.

Dragon Ball na Mídia – HQ Mix premia a diversidade

Jornal do Commercio, 10/09/2001 – Caderno C (ZINE)
HQ Mix premia a diversidade

Carol Almeira

HQ Mix Brasil é uma balança. Trata-se de um concurso votado em sua maioria por pessoas que acompanham o dia-a-dia dos quadrinhos nacionais e internacionais e, por essa relação produto-consumidor (nada de corporativismos e pressões). Na última quinta-feira, saiu a lista dos premiados do 13º HQ Mix e, com ela, a prova de que, mais do que nunca, a indústria de produção dos quadrinhos nacionais se espelha agora na palavra de ordem do mercado: descentralização. Ao contrário do que vigorava em anos anteriores, quando a editora Abril era responsável por algumas das melhores publicações no setor, hoje, há uma diversificação das editoras que estão ganhando destaque na atenção dos leitores (que, de uma forma ou de outra, refletem a opinião dos especialistas).

Desde o HQ Mix do ano passado, que premiou as publicações de 1999, essa revigorada do mercado começou a se manifestar, quando a Via Lettera ganhou o prêmio de melhor editora (antes havia uma predominância da Abril Jovem nessa categoria). Este ano foi a vez da Conrad receber o prêmio maior. Vale ressaltar que a avaliação é feita em relação às edições publicadas no ano passado. Destaque também para os nordestinos que abocanharam nesta 13ª edição alguns dos prêmios mais importantes. Melhor livro de charges foi para Humor do Fim do Século, de Miguel e Ronaldo (chargistas do Jornal do Commercio), Samuca, Clériston, Laílson; livro de cartum: Paraíba e Piauí no Cartum – Com todo o Risco e revista independente: Hipocampo, de Amaral, do Piauí.
Confira abaixo alguns dos vencedores:

Desenhista nacional:
Lourenço Mutarelli (foto), por O Rei do Ponto

Desenhista estrangeiro:
Ivo Milazzo, por Ken Parker

Roteirista nacional:
André Diniz, por Fawcett e Subversivos

Roteirista estrangeiro:
Alan Moore, por Do Inferno

Desenhista revelação:
Fabio Yabu, dos Combo Rangers

Chargista:
Angeli, da Folha de São Paulo

Revista seriada:
Dragon Ball, de Akira Toriyama, da Conrad

Álbum de humor:
Luke & Tantra, de Angeli, da Devir

Álbum de ficção:
O Rei do Ponto, de Lourenço Mutarelli, da Devir

Site sobre HQ:
Universo HQ

Site de HQ:
Cybercomix.

Dragon Ball na Mídia – As “mensagens” de Dragon Ball e Harry Potter

Revista Mensageiro Luterano, Setembro 2001
As “mensagens” de Dragon Ball e Harry Potter

Na dúvida, não ultrapasse
Dieter Joel Jagnow

É ou não é? É o que parece, ou só parece que é? Existe alguma mensagem “escondida” na música, no livro, no jogo, no filme? Existe alguma mensagem subliminar?

Segundo a psicologia, subliminar é todo estímulo que é produzido abaixo do limiar da consciência. A inserção de imagens, palavras, ícones ou idéias não pode ser percebida pelo consumidor em nível normal de consciência. Existem estímulos direcionados para os diferentes sentidos humanos, sendo os principais a visão e audição. Os principais métodos de influência são as músicas e imagens. O objetivo final é fazer com que o consumidor assimile determinada idéia ou comportamento sem que ele realmente se dê conta do que está acontecendo. (Para detalhes, veja o site www.mensagemsubliminar.com.br)

A discussão sobre a subliminaridade é antiga. Sempre de novo, surge alguma denúncia de que alguém está querendo passar uma mensagem subliminar. Nos últimos meses, ocupou espaço significativo na mídia, inclusive em algumas congregações da IELB. Pelo menos dois fenômenos mundiais desencadearam este interesse recente: o desenho animado Dragon Ball Z e a série literária Harry Potter.

Dragon Ball

Dragon Ball Z é, aparentemente, apenas mais um destes desenhos animados japoneses esteticamente horríveis que acabam conquistando a simpatia das crianças do mundo todo. Existem denúncias de que o desenho é, na verdade, uma propaganda de satanismo, bruxaria e afins. Parte dos argumentos foi colocada em artigo de Gabriel Ballerini publicado no El Expositor Batista e reproduzido na edição de agosto de 2001 da revista El Nuevo Luterano, da Igreja Evangélica Luterana da Argentina.

No artigo, Ballerini mostra que, no logotipo Dragon Ball, está presente o pentagrama, símbolo utilizado em rituais satânicos. O principal personagem do desenho é o guerreiro Goku, cujo nome verdadeiro é Kakaroto, que quer dizer “possessão maligna”. Ele pertence ao mundo dos sayayines; em algumas cidades orientais se acredita que as pessoas podem ser possuídas pelo demônio Sayayin. A sua esposa se chama Milk, nome de uma colônia ao sul da China onde seus habitantes são quase que exclusivamente bruxos e feiticeiros. Seu sogro se chama Exsatan, que quer dizer “meu Satã”. Enfim, nos personagens, nos lugares e nas ações, existe uma marcante presença direta ou indireta de demônios, espíritos malignos, bruxos e práticas relacionadas com eles.

Harry Potter

Harry Potter tornou-se um fenômeno editorial mundial, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos. A série mostra as aventuras de um menino bruxo, cujos pais foram mortos por um bruxo poderoso.

Um dos brasileiros que atacou duramente a série Harry Potter foi o jornalista Jeohozadak A. Pereira. Em artigos publicados num portal da Internet (http://www.uol.com.br/aleluia/artigos/), ele procura mostrar o que existe de sorrateiro em Harry Potter. Para ele, a afirmação de que o conteúdo da série é meramente figurativo é uma fantasia. Nada é casual. Existe uma mensagem subliminar sendo transmitida. O raio estampado na cabeça de Harry nada mais é do que um símbolo do esoterismo (um instrumento e arma divinos, símbolo da atividade celeste sobre a terra).

Pereira afirma que a temática de Harry Potter é profundamente mística e inteiramente comprometida com bruxaria, feitiçaria e esoterismo, e é apresentada como literatura mimetizada em contos pueris, quando na realidade é perversa e advinda do inferno. Os livros da série são manuais de feitiçaria e bruxaria disfarçados de entretenimento. Por isso, lamenta que as crianças, em vez de brincar ou aprender coisas sadias, estão “mergulhando de cabeça em práticas místicas e profundamente comprometidas espiritualmente, sob o olhar complacente de pais e mães, a exemplo do que acontece com o halloween.”

Cuidado

O campo da subliminaridade sempre se mostrou propício para especulações de toda ordem. A todo momento, alguém enxerga um inimigo em potencial à fé em alguma música tocada de trás pra frente, em algum símbolo, em alguma luz piscando, em alguma imagem meio esquisita. É preciso cuidar para não subestimar nem exagerar o que se enxerga. É certo que cada autor, fotógrafo, diretor de arte, desenhista, músico quer passar uma mensagem, explícita ou subliminar. Mas também é verdade que cada pessoa também enxerga o que quer enxergar.

De qualquer forma, é necessário que as denúncias contra Dragon Ball e Harry Potter e todas as outras similares sejam levadas a sério. Afinal, talvez não seja um acaso que o sobrenome do bruxinho Harry Potter queira dizer, em inglês, oleiro. Talvez não seja um acaso, pois Isaías 64.8 diz: “Mas, tu, ó Senhor Deus, és o nosso pai; nós somos o barro, tu és o oleiro, todos nós fomos feitos por ti.” Talvez não seja um acaso, já que o bruxinho oleiro tem na testa o sinal do esoterismo que indica o domínio do céu sobre a terra…

Talvez não. Talvez sim. Na dúvida, não ultrapasse!

Peçamos a Deus discernimento para termos condições de filtrar programas de tv, videogames, livros e sites que ocupam o nosso dia-a-dia e o de nossos filhos.

Dragon Ball na Mídia – Governo proíbe desenho violento antes das 20h

Folha de São Paulo, 15/07/2001
Governo proíbe desenho violento antes das 20h

Pela primeira vez na história recente, o governo brasileiro está censurando um desenho animado considerado violento. Em despacho publicado no “Diário Oficial”, o Ministério da Justiça classificou como impróprio para menores de 12 anos o desenho animado japonês “Power Stone”.

Os 26 primeiros capítulos da série, produzidos no ano passado, foram comprados pela TV Globo, que pretendia exibi-los na sua programação infantil, de manhã. Se a classificação do ministério for mantida, o programa não poderá ir ao ar antes das 20h.

“Power Stone” tem linguagem gráfica semelhante à de produções como “Pokémon” e “Digimon” e é tão violento como “Dragon Ball Z” – no ar na Band (18h) e na Globo (de manhã).

Na internet, o seriado japonês é descrito como uma saga de adolescentes lutadores, especializados em artes marciais. Alguns personagens são descendentes de ninjas. O protagonista, Falcon, “destrói o mal com movimentos rápidos e socos violentos”.

A Globo pode recorrer do veto do Ministério da Justiça, mas teria que assumir compromisso de cortar cenas violentas, o que mutilaria o desenho. Também pode ignorar a classificação, pois a portaria do governo que obriga as emissoras a cumprirem os horários determinados pelo ministério está suspensa pela Justiça.

Dragon Ball na Mídia – De olhos quase puxados

ISTO É, 19/09/2001
De olhos quase puxados

Surge uma nova tribo, os otakus, jovens viciados em animação japonesa que vivem num mundo totalmente virtual.
Camilo Vannuchi

Os pais olham desconfiados. Acham que desenho animado é coisa de criança, e não de jovens de 20 anos. Os demais garotos da mesma idade os desprezam. Afinal, só um nerd dispensaria as baladas para ficar trancado no quarto, devorando quadrinhos japoneses. Mas quem entra no universo dos mangás, animes, cosplay e garage kits encontra mil justificativas para não trocar sua paixão virtual por nada. Quando reunidos em eventos e feiras, cada vez mais comuns no Brasil, os fãs de animação japonesa podem exercer sua fantasia sem dar ouvidos aos desaforos de quem não faz parte da tribo. Em outubro, dez mil pessoas são esperadas nos três dias da Animecon, em São Paulo, a maior convenção da turma na América Latina. Lá, alienígenas são os que nunca ouviram falar em Samurai X ou Evangelium, duas das séries de desenho animado de maior sucesso no mundo. Não, eles não são nerds. São otakus (pronuncia-se otákus). A expressão nipônica, formada com a junção dos termos “casa” e “você”, não tem tradução literal. Seu significado se aproxima de “o outro em seu casulo”. O casulo, no caso, abraça um planeta paralelo, habitado por curiosas figuras de queixo triangular e olhos esbugalhados.

Consolidada no Japão, a tribo dos otakus se expande em território verde-e-amarelo, onde já conta com lojas e feiras especializadas nos quadrinhos e vídeos. Na Rede Globo, três séries são exibidas nas manhãs de segunda a sexta: Sakura Card Captor, Dragon Ball Z e Digimon 2. Essas e outras produções também fazem sucesso na Rede Bandeirantes e em canais pagos como o Cartoon Network e o Locomotion. No país de origem, centenas de histórias de mistério, violência e sexo povoam os gibis e os desenhos animados, assim como romances açucarados. A febre é tão intensa que a principal revista japonesa de quadrinhos, a Shonen Jump, atinge a surpreendente marca de cinco milhões de exemplares semanais. Toda a indústria audiovisual depende dos otakus. O processo é simples: um mangá (gibi) bem-sucedido vira anime (desenho animado) rapidamente e logo se transforma em fita de videogame. Fanzines hentai (eróticos) e garage kits (miniaturas) com os personagens não tardam a invadir as prateleiras.

Incentivo – As idades dos fãs variam. Pequenos admiradores de pokémon são otakus, assim como Sérgio Peixoto, o veterano editor das revistas especializadas Anime Ex e Hanime. Aos 37 anos, ele transformou seu hobby em profissão. E nem sempre foi compreendido. “Meus pais queriam que eu me tornasse um contador. Para eles, eu ainda não cresci”, admite. Considerado um dos papas dos otakus no Brasil, Peixoto incentiva os fãs a resistir à enxurrada de críticas. No primeiro domingo de cada mês, às 10 da manhã, ele leva 200 fãs para o Centro Cultural São Paulo, onde exibe gratuitamente animes inéditos no Brasil em uma tevê de 29 polegadas. Peixoto recorda seu primeiro gibi japonês. “Estudei na Liberdade (bairro oriental de São Paulo) e vivia folheando revistas nas livrarias. Em 1979, fui trabalhar como office boy e comprei um mangá com meu salário.”

Não raro, fãs se matriculam em cursos de japonês movidos pela sede de beber direto na fonte. Peixoto aprendeu o idioma sozinho, com a ajuda de uma tabela com o alfabeto e um dicionário. “Os otakus lêem muito, são grandes conhecedores de filmes e mergulham de cabeça na cultura oriental. São pessoas inteligentes e sonhadoras, apesar de tímidas”, acredita ele. Júlia Cleto é uma dessas pessoas tímidas a que Peixoto se refere. Aos 20 anos, ela encontrou nos quadrinhos sua identidade secreta, a inocente Sakura Kinomoto, de apenas dez anos. “É uma estudante da quarta série que tem a missão de recuperar 52 cartas mágicas desaparecidas, sempre acompanhada pelo ursinho Kero”, conta. Ela resolveu empregar tempo e dinheiro em um disfarce da heroína. Travestir-se em personagens dos desenhos é uma prática comum entre otakus. Os adeptos são chamados de cosplayers (do inglês, “aquele que atua com fantasia”). Até a popstar Madonna resolveu brincar de cosplayer e, na turnê atual, Drowned World Tour, encarna uma guerreira japonesa vestindo kimono e peruca preta. Para Júlia, o cosplay é uma ferramenta para vencer a timidez. “Nas convenções, muita gente vem falar com quem está fantasiado. Acabamos fazendo amigos”, diz.

Foi assim que Júlia conheceu Daniel Sicchi, 22 anos, ganhador de prêmios de melhor cosplayer nas maiores convenções brasileiras. No ano passado, Daniel vestiu-se de Goku, o galã da série Dragon Ball Z, para ir ao cinema. “Pareço um E.T. Se precisar, pinto meu cabelo de loiro por causa do personagem”, diz Daniel, envergonhado por ter seu cabelo raspado pelos veteranos da faculdade de publicidade. “Um Goku sem a cabeleira amarela não é a mesma coisa”, lamenta o jovem. Recentemente, duas admiradoras fundaram até um fã-clube para homenagear Daniel. Peixoto explica que isso é comum entre os aficionados. “É o que Freud chamava de transferência. Os fãs admiram um personagem e passam a desejar o cosplayer, aquele que está por trás da fantasia”, diz.

Às vezes, a atração se torna obsessão e o limiar entre a vida real e a ficção se dilui na mente dos otakus. O jornalista francês residente em Tókio Étienne Barral, autor do livro Otaku – os filhos do virtual, destaca a proliferação de colecionadores de miniaturas de heroínas como indício da substituição de namoradas reais por companheiras de 15 centímetros de altura. As bonecas, conhecidas como garage kits, são vendidas desmontadas em caixas de papelão. No Brasil, um kit nacional custa de R$ 25 a R$ 70, enquanto um importado não sai por menos de R$ 100. Cabe ao fã modelista montar, lixar, polir, pintar e envernizar suas heroínas. “A palavra-chave para qualificá-las seria ‘inocência perversa’. A maioria está posta em uma atitude ao mesmo tempo sexy e assustada, arregalando grandes olhos interrogadores, como se estivessem surpresas de encontrar-se em trajes menores diante do olhar de um voyeur autorizado”, escreve Barral. Um de seus entrevistados transforma a boneca em sua amante. “Eu prefiro as bonecas, porque elas são mais puras do que os humanos. Nos desenhos, nos mangás, as garotas são como deveriam ser”, diz.

Musa – Mas o que há de errado em desejar um ser virtual? A guerrilheira Aki Ross, por exemplo, protagonista do filme Final fantasy, em cartaz no Brasil, foi eleita pela revista inglesa Maxim uma das 100 mulheres mais atraentes do planeta no mês passado. A musa foi inteiramente gerada em computador, mas seus admiradores nem ligam. O mineiro Marcus Vini, 40, tornou-se um dos maiores modelistas de garage kits no País. Além de copiar moldes japoneses, ele comercializa bonecos prontos. Prefere construir robôs e seres cibernéticos a graciosas garotas de resina, linha que deixa para o colega de trabalho Celso Ryuji. “Somos dois tarados pelas miniaturas. Minha tara é pela estética, e não pela sensualidade das peças, mas meus clientes costumam buscar modelos que os excitem. As mais vendidas são as personagens em poses sensuais”, diz. A miniatura preferida da coleção pessoal de Vini é Felícia, uma sensual mulher-gata com garras vermelhas e cabelos azuis. Gosto não se discute. Ou se discute?

Glossário
Mangá – quadrinhos, normalmente em preto-e-branco, publicados em grossas revistas que devem ser lidas da direita para a esquerda.
Anime – desenho animado baseado nos sucessos dos quadrinhos japoneses.
Gekigá – quadrinhos para adultos, não necessariamente eróticos
Hentai – quadrinhos ou animes de conteúdo erótico
Cosplay – A arte de se disfarçar de personagens de mangás, animes ou games, assumindo suas roupas e acessórios e imitando fala e gestos.
Garage kit – modelismo de miniaturas dos heróis e, principalmente, das heroínas dos quadrinhos.

Dragon Ball na Mídia – TV na ordem do dia

Jornal Folha de São Paulo, 27/01/02
TV na ordem do dia

Rodrigo Dionisio

A exibição de cenas de sexo, mesmo que insinuado, em “O Quinto dos Infernos” (Globo) é considerada crime e punida com multa e prisão. Desenhos com imagens de violência, como “Pokémon” e “Dragon Ball Z”, não podem ir ao ar. O horário eleitoral gratuito ganha espaço nos canais pagos.

Essas são algumas das mudanças na TV propostas pelo Legislativo. Muitas delas afetam diretamente o conteúdo recebido pelo telespectador. Segundo a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), há cerca de cem projetos em tramitação na Câmara com propostas relacionadas ao tema.

“Aí no meio tem de tudo, são apenas projetos”, afirma o advogado e articulista da Folha Luís Francisco Carvalho Filho. Segundo ele, aqueles que simplesmente pretendem proibir a veiculação de um tipo de conteúdo, como sexo e violência, já pecam por poderem ser taxados de inconstitucionais.

“É possível regulamentar a exibição de certos conteúdos, mas não proibi-la. Na minha opinião, isso representa um embaraço à liberdade de expressão”, afirma. Antes de virarem leis, essas propostas passam por uma série de comissões, como a de Constituição e Justiça, têm de ser votadas na Câmara e no Senado e sancionadas pelo presidente.

Para a assessora parlamentar da Abert, Stella Cruz, muitos desses projetos são “de momento”. Ela cita o caso de um que proibia a exibição de cenas de violência em telejornais, motivado pelas imagens do sequestro, no Rio, de um ônibus da linha 174, em junho de 2000.

“Algumas vezes, conseguimos mostrar aos parlamentares as dificuldades de implementar certas iniciativas, e há uma flexibilização na redação dos projetos. Impedimos ainda que muita coisa ruim seja apresentada”, afirma Stella.

Segundo a assessora, a principal questão para as TVs neste ano é o Projeto de Emenda Constitucional 203, de 95. Aprovado em primeiro turno na Câmara, o projeto permite participação de até 30% de capital estrangeiro em empresas de comunicação nacional, entre outras mudanças. “Todas as emissoras estão precisando desse dinheiro”, diz Stella.

Para a TV paga, um dos assuntos que atraem maior atenção é a Medida Provisória 2.219, de setembro de 2001. Ela criou a Ancine (Agência Nacional de Cinema) e estipulou novas regras para o fomento da produção audiovisual. A íntegra da MP está no site http://208.184.234.136/mp22192001.htm.

Como determinação da medida, passará a ser cobrada uma taxa de 11% sobre o pagamento de obras compradas no exterior pelas TVs. A cobrança deveria ter começado já este mês, mas foi adiada para março.

A medida já está em vigor, e foi escolhido um presidente para a Ancine, o cineasta Gustavo Dahl. Segundo ele, a taxação só não está sendo feita porque a agência ainda não foi aparelhada para a arrecadação e fiscalização.

“Com mais essa taxa, empresas estrangeiras deixarão de investir, e a qualidade da programação diminuirá”, diz o diretor jurídico da ABTA (Associação Brasileira de Telecomunicações por Assinatura), José Carlos Benjó.

Além disso, segundo o diretor, o adiamento da cobrança acabou fazendo com que o cinema nacional ficasse sem incentivo desde setembro de 2001.

“Alegra-me esse zelo. Espero encontrar essa atitude na hora do pagamento da contribuição”, diz Gustavo Dahl.

Ele afirma que só pagarão os 11% empresas que abrirem mão de investir o valor devido do Imposto de Renda na produção nacional, seguindo o disposto na Lei do Audiovisual. Segundo Dahl, a nova legislação poderá elevar a arrecadação atual, cerca de R$ 4 milhões anuais, para 80 milhões por ano.

“A TV é sustentada pela publicidade, que é bancada pelo consumidor. Esse binômio, TV e publicidade, tem uma contribuição a dar. Televisão é uma concessão pública e não pode ser usada apenas em benefício próprio”, afirma Dahl.

O presidente da Ancine diz que mudanças na forma de cobrança podem ser feitas e que tem mantido diálogo com os representantes dos canais pagos.

Outras propostas de mudanças estão na sessão de Assessoria Parlamentar do site da Abert (www.abert.org.br).

Dragon Ball na Mídia – História das Histórias em Quadrinhos: o acervo da USP

O Estado de São Paulo, 16/05/2002 – Caderno 2
História das Histórias em Quadrinhos: o acervo da USP

O que para muitos pode significar coisa de criança, para um professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP) é fonte permanente de estudo: as histórias em quadrinhos. Coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (NPHQ) na USP, Waldomiro Vergueiro, professor da Faculdade de Biblioteconomia, quer instituir o Diretório Geral de HQs no Brasil. Para tanto, vai dar início, em parceria com professores e alunos, a um projeto de organização e disponibilização de todos os títulos de quadrinhos já publicados, nacionais ou traduzidos para o português.

Até agora, o núcleo tem uma base de 270 títulos catalogados. A previsão é de que, quando o NPHQ chegar a 400 títulos, o conteúdo já possa ser pesquisado na Internet, ainda no segundo semestre. O passo seguinte será partir para materiais reunidos em gibitecas e acervos pessoais de colecionadores. O próprio professor possui uma expressiva coleção, com pelo menos 15 mil revistas.

“A princípio, vamos fazer um levantamento de títulos, para depois registrarmos autores e desenhistas”, explica Vergueiro. O banco de dados concentrará informações desde 1905, quando foi publicada a primeira edição da revista Tico-Tico. O exemplar serve de referência por ser considerado pioneiro na linha de HQs. “O Tico-Tico foi muito popular, baseado no modelo europeu de revistas para crianças. Tinha quadrinhos, histórias infantis, contos, curiosidades, desenhos.”

Antes do lançamento da revista, o Brasil já ‘flertava’ com os comics por meio de sua imprensa humorística. Segundo o coordenador do NPHQ, chegou a ser editado em São Paulo um jornal chamado Diabo Coxo, o primeiro ilustrado no País, feito pelo italiano Angelo Agostini. A carreira de Agostini foi pontuada por passagens em diversos jornais brasileiros, no Império e no período republicano. “Agostini tinha um traçado que se assemelhava muito com o das HQs e, por isso, vários autores o consideram precursor do gênero”, explica. “Inclusive o logotipo da Tico-Tico foi criado por ele.”

Na década de 30, houve a publicação de um suplemento juvenil nos moldes norte-americanos, no jornal A Nação. Algum tempo depois, passou a ser vendido separadamente, diante do sucesso que fazia entre as crianças. Suas páginas esboçavam as aventuras de super-heróis, como Flash Gordon e Mandrake. As editoras Globo Juvenil, Ebal e Abril tiveram papel importante no fortalecimento da indústria de quadrinhos no Brasil.

Na linha de nacionais, os gibis de Mauricio de Sousa são imbatíveis no quesito popularidade. Mauricio de Sousa idealizou seu primeiro personagem, o Bidu, em 1959, mas a revista Mônica só surgiu mesmo na década de 70. “São histórias que são muito próximas das crianças brasileiras”, analisa Vergueiro.

Nos anos 90, foi a vez dos anti-heróis, criaturas violentas, com vícios, imperfeitas, no estilo de Volverine, do X-Men, e O Justiceiro. Na mesma década, surgiram os mangás, comics japoneses que fazem sucesso no mundo todo. Com a nova tendência, chegou a febre Pokémon, Dragon Ball e tantos outros, cujos quadrinhos deram origem a desenhos animados – e vice-versa.

Hoje, o perfil predominante do leitor de HQs é o do jovem de sexo masculino, entre 13 e 25 anos, que encontra nos super-heróis uma espécie de válvula de escape, para extravasar sua agressividade.

Para o professor, falta no Brasil um registro preciso desse material histórico, diferente do que acontece nos Estados Unidos e na Europa. “O crescente interesse por quadrinhos nas universidades me supreendem cada vez mais. Recebo uma média de cinco a dez e-mails por mês de estudantes que querem desenvolver trabalhos relacionados ao assunto, mas não encontram orientadores nem material de pesquisa.”

Fundado em 1990, o NPHQ promove reuniões mensais, nos quais são discutidos textos de comics, atraindo uma média de 20 pessoas. Há ainda grupos de debates virtuais, aberto a qualquer interessado, por meio do e-mail agaque-l@listas.usp.br. Outras informações podem ser obtidas no site www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca.

Dragon Ball na Mídia – Crianças aprendem a se defender da TV

O Estado de São Paulo, 09/06/2002 – Criança e TV
Crianças aprendem a se defender da TV

Cristina Padiglione

Proibir que as crianças se apeguem a produções pirotécnicas, repletas de heróis de vida fácil – todos são dotados de superpoderes – não é negócio. A proibição só aguça a vontade dos pequenos. Mais eficiente é ensiná-los a “digerir” esse cardápio, filtrando a TV que tanto os encanta. Esse foi o caminho tomado pela direção do Colégio Santa Maria (zona sul de São Paulo), ao perceber que a brincadeira predileta de alguns alunos na faixa de 4 a 5 anos era “brincar de Power Rangers”.

Veio daí a decisão da orientadora de Educação Infantil Suely A. Gonçalves Gomes de promover sessões de TV entre os alunos. Em dias alternados, foram exibidos o Sítio do Picapau Amarelo, o Castelo Rá-Tim-Bum e um filme dos Power Rangers. A excitação da criançada, após a apresentação desse último, era evidente. “Nós percebemos que eles ficavam mais agitados e mais agressivos na hora de brincar. Dizem que gostam também do Sítio, mas preferem os Power Rangers. O Castelo, já acham mais parado”, afirma Suely. Entre as meninas, o Sítio leva a melhor na preferência.

Orientadora e professoras partiram então para a tarefa de educar a leitura que as crianças devem fazer da TV. Para tanto, tiveram de fazer a lição de casa.

“Nós fomos conhecer esses programas. Concluímos que os heróis de antigamente ainda tinham um ideal, um caminho a seguir para conquistar suas vitórias. O Zorro tinha uma honra. Esses heróis japoneses de hoje conquistam tudo magicamente, não em razão de um ideal. Não são astutos, inteligentes, nada disso. Tudo empobrece muito a imaginação da criança”, avalia Suely. Nessa linha incluem-se o Dragon Ball Z, Digimón e Pokémon.

Um dos alunos contou a Suely que a mãe o proibira de ver Dragon Ball. “Por quê?”, quis saber a orientadora. “Não sei, ela não me disse”, respondeu o garoto. “Não adianta proibir e não explicar o motivo”, observa.

Em abril, numa reunião sobre a exposição das crianças à violência, os pais puderam discutir como orientar os filhos a digerir a programação que consomem. Alguns deles se prontificaram a coibir os excessos.

Documentado – Em depoimentos gravados longe dos pais, alguns alunos explicam a Suely suas preferências. Um deles conta que assistiu ao Dragon Ball Z (uma saga de guerreiros) escondido da mãe. As cores dos Power Rangers são citadas como um dos atrativos da produção – cada um veste um tom: vermelho, azul, amarelo e, representando o topo hierárquico, o branco. Tudo se resolve com pouco diálogo, muita ação e maniqueísmo, num formato cuja assimilação nem requer grande atenção da criançada.

“E por que eles lutam tanto?” questionou Suely no vídeo. Um dos meninos ponderou: “Eles não lutam, atacam.” E explica que é necessário “matar” o monstro. Suely pergunta se é mesmo necessário matá-lo: “E se a gente conversasse com ele para que ele ficasse bom?” O menino diz: “A gente pode conversar, mas, se ele não ficar bom, tem que matar”.

O fato de Power não ser desenho animado (como Digimón, Pokémon e Dragon Ball Z) excita ainda mais as crianças. “O cenário é de verdade, tem gente de verdade. Tudo isso dá a idéia de um mundo mais real”, explica Suely.

A crianças de 6 anos, a orientadora já chegou a revelar que aquilo é uma produção “de mentirinha”, fruto de efeitos especiais. Questionar, duvidar e achar outras saídas são exercícios mentais que as crianças podem fazer diante dos filmes e desenhos. É a aprendizagem do senso crítico da escolha, do pensamento divergente. “Eles precisam saber que não é com luta que tudo se resolve.”

Dragon Ball na Mídia – Febre oriental

Jornal Folha de São Paulo, 20/10/02 – TV Folha
Febre Oriental

Mais três desenhos animados japoneses estréiam na TV paga para alegria dos fãs. Mas qual o segredo de tanto sucesso?
Marcelo Migliaccio

Para que se tenha uma idéia da penetração dos desenhos animados japoneses no planeta, a expressão “Dragon Ball” foi a mais procurada no site de busca Lycos no ano passado, deixando para trás Britney Spears, Napster, Osama bin Laden e World Trade Center. Neste mês, os fãs brasileiros do gênero foram presenteados com mais três estréias, todas no canal pago Fox Kids, que já está exibindo “Beyblade” (18h), “Shaman King” (19h) e “Medabots” (22h), no bloco “Invasão Anime”.

Mas qual a razão de tanta popularidade? “Diferentemente do desenho tradicional, nos “animes” [abreviação de “animations'” todos os episódios são amarrados, como uma novelinha. Os personagens são desenvolvidos a fundo. Esse elo que o telespectador cria com a história pode ser uma explicação”, diz Flávio Rocha, diretor responsável pela programação infantil da Globo.

A emissora exibe atualmente a terceira temporada de “Digimon Tamers” e “Dragon Ball” na faixa “TV Globinho”, e “Dragon Ball Z” na “Sessão de Desenhos”. “Em alguns poucos casos, torna-se necessário suavizar o conteúdo de alguma cena para adequá-lo à faixa etária do programa”, diz Rocha. “Os “animes” têm forte conteúdo moral e dão uma clara distinção entre o bem e o mal”, afirma Herbert Greco, diretor responsável pela programação do Fox Kids. Para Cindy Kerr, vice-presidente de programação e aquisições do Cartoon, “sendo você jovem ou velho, um roteiro é capaz de conquistar a sua fidelidade.”

A direção ágil, a animação limitada (12 quadros por segundo contra 24 dos desenhos clássicos) e as cores contrastantes também contribuem para o interesse despertado por essas produções, segundo Cristiane Sato, presidente da Abrademi (Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações). “Comecei a ver “animes” aos 10 anos. Olhamos nos olhos dos personagens e vemos as emoções. Alguns deles crescem com os telespectadores, como acontece em “Dragon Ball'”, diz Lilian Maruyama, 23, ativista da Orcad (Organização Cultural de Animação e Desenho), que reúne fãs em São Paulo.

Violência
Mas há os que enxergam uma dose excessiva de violência nos “animes”, assim como ocorre nos desenhos americanos, nos quais levar uma bigorna na cabeça é rotina. Para Maria Angela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP, o desenho japonês violento pode estimular a agressividade nas crianças. “O mundo da criança está perdendo o encanto”, afirma. O diretor de programação do SBT, Mauro Lissoni, concorda: “Em função do teor agressivo desses desenhos, e em respeito ao público, resolvemos não incluir tais produções em nossa grade de programação”. “Temos cautela, equipes do Fox Kids e da Disney [proprietária do canal” avaliam e cortam cenas agressivas”, diz Flávio Medeiros, diretor do grupo Disney.

Claudemir Edson Viana, pesquisador do Lapic (Laboratório de Pesquisa sobre Criança, Imaginário e Televisão), concorda que o desenho é capaz de influenciar crianças com problemas emocionais cuja separação de fantasia e realidade não esteja clara. “Mas a maior influência vem do meio em que a criança vive. Por isso, o papel dos pais na formação moral e social é fundamental”, diz. Viana, porém, afirma que a violência dos desenhos japoneses não é gratuita, mas parte do desafio do personagem dentro de um contexto narrativo. Ele considera os “animes” mais sutis que as produções dos EUA, onde as lutas envolvem quase sempre disputas individuais por bens materiais. “Não há oposição tão estereotipada e mecânica. Jovens lutam pelo bem da humanidade.”

Público alvo
Aí entra outra questão: muitos desenhos japoneses consumidos no Brasil por crianças não foram concebidos para o público infantil. “Os “animes” exibidos aqui geralmente são os lançados para adolescentes ou adultos no Japão”, diz Cristiane Sato, que, no entanto, considera noticiários e “talk shows” mais nocivos às crianças.

Dragon Ball na Mídia – Axiologia e Inconsciente Coletivo no Mundo dos Super Heróis

Revista Espaço Acadêmico – Nº 29 – Outubro de 2003 – Mensal – ISSN 1519.6186
Axiologia e Inconsciente Coletivo no Mundo dos Super-Heróis

Nildo Viana*

Em um texto anterior sobre os super-heróis das histórias em quadrinhos[1], apresentamos a tese de que o mundo dos super-heróis tem duas faces: a axiologia (com seu caráter conservador) e a do inconsciente coletivo (com seu caráter contestador). Essa dupla face dos super-heróis revela que o objetivo consciente dos criadores das histórias é determinado pelos valores dominantes e em certos períodos históricos isto se torna mais forte ainda. Entretanto, ao dar vida à história, escapa-lhes o seu domínio total e quando a fantasia se manifesta, o inconsciente individual, e, muitas vezes, o coletivo, também aparece. Os leitores, porém, não são atraídos graças aos aspectos axiológicos e sim pelo aspecto inconsciente.

O aspecto axiológico, isto é, fundado numa determinada configuração dos valores dominantes, sem dúvida, exerce influência sobre os leitores mas em grau muito menor do que se pensa, pois a atenção do leitor fica mais presa não nos detalhes da narrativa que expressam o seu caráter axiológico e sim nos aspectos fantásticos da história (os combates, a luta pelo poder, os tipos de poderes, os mundos estranhos e maravilhosos, etc.). Aqui existe, sem dúvida, alguns elementos axiológicos, pois a luta pelo poder e os combates muitas vezes expressam o desejo de liberdade, a luta contra a opressão, mas outras vezes temos apenas a reprodução da competição típica da sociedade capitalista. Nunca é demais lembrar que a sociedade capitalista tem como um dos fundamentos de sua sociabilidade a competição, sendo uma sociedade essencialmente competitiva[2].

Podemos ver em Dragon Ball uma expressão axiológica da competição, já que seus personagens (Goku, Vendita, etc.) a naturalizam, pois vivem numa luta eterna e infinita por possuir mais força, em ficar com mais poderes dos que os outros. O objetivo é ganhar a competição e isto é tão explícito que inúmeros torneios são inseridos nas histórias, mesmo quando a situação é marcada pelos mais decisivos e mortais combates com “seres maléficos”. Esta característica de Dragon Ball está presente em vários outros desenhos e histórias em quadrinhos japoneses, revelando o papel estruturante da competição na sociedade japonesa, bem como também expressa a competição internacional deste país com os demais países do bloco imperialista mundial. Mas também se pode perceber em Dragon Ball o inconsciente coletivo, tal como colocaremos adiante.

Os aspectos axiológicos da superaventura, e das histórias em quadrinhos em geral, é palco de uma disputa política intensa e isto é tão verdadeiro que a intervenção do estado neste tipo de produção, visando manter a “moral e os bons costumes”, produziu uma extensa legislação restritiva a respeito[3].

Mas, ao contrário do caso dos heróis, onde surgiram vários “heróis revolucionários” e “contestadores”, no mundo dos super-heróis quase não há contestação consciente. Poderíamos dizer que existem poucos super-heróis contestadores, tal como Namor, O Príncipe Submarino – que sempre aparece na superfície terrestre para combater a poluição e destruição ambiental que afeta os mares. Porém, as últimas histórias de Namor provocaram uma reviravolta neste personagem. Este, em seu passado, chegou a se unir com O Incrível Hulk para derrotar Os Vingadores – grupo de super-heróis comandado pelo Capitão América e que teve diversas formações, sendo que a formação desta época contava com o Homem de Ferro, Thor, Homem-Formiga, entre outros –, um grupo tão bem visto pelo poder que tinha sua sede fornecida pelo governo dos Estados Unidos. As últimas histórias deste super-herói apresentaram sua reformulação e sua personalidade foi alterada. O seu “ódio contra a humanidade” (na verdade contra suas ações destrutivas e irracionais) foi explicado por um “desequilíbrio sangüíneo” que provocava “flutuações de personalidade” (em especial sua ira…) e um dispositivo de reciclagem “corrigiu o problema”. A partir daí Namor não seria mais o mesmo: tornou-se calmo e controlado como qualquer outro super-herói conservador.

A luta cultural que existe nos demais gêneros das histórias em quadrinhos está praticamente ausente no mundo dos super-heróis. Neste mundo, criado a partir de um contexto histórico preciso e voltado para satisfazer necessidades de uma nação em guerra (os primeiros super-heróis da história – Super-Homem e Capitão América – surgem nos Estados Unidos, tanto os da Marvel Comics quanto os da DC Comics, e só depois começam a ser criados também em outros países e só nestes casos começam a romper com o conservadorismo exacerbado existente nos EUA), não se poderia esperar nenhuma mudança revolucionária consciente. Tal mundo se desenvolve de forma ligada às grandes empresas oligopolistas, mantendo íntima relação com o poder. Isto esvaziou o seu conteúdo crítico consciente.

Por outro lado, em nenhum gênero de história em quadrinhos se encontra a presença tão marcante do inconsciente coletivo como na superaventura. E isto ocorre ao lado, muitas vezes, de construções que revelam uma forte construção axiológica, tal como Dragon Ball. Neste pequeno submundo de super-heróis, temos Goku, personagem central, assumindo muitas vezes uma forma infantil, o que contesta o que Lapassade chamou de “o mito do adulto-padrão”[4]. Uma sociedade marcada pela competição e burocratização das relações sociais, com o predomínio da “sobriedade” e formalismo, a infância é um período no qual este mundo ainda não está diretamente presente e assim ela passa a ser refúgio imaginário da recusa deste mundo. Ao lado disso, evidentemente, temos a expressão axiológica da necessidade de superação da infância, tal como no caso de Gohan, filho de Goku, que é pressionado pela mãe para estudar, ser um “cientista famoso”, isto é, se preparar para entrar no mundo adulto. Também em Dragon Ball temos uma expressão inconsciente do desejo de liberdade, tal como se vê na permanente busca de superação dos limites, e no desejo de justiça, que é algo reprimido em nossa sociedade, pois, ao lado das mais intensas e extensas formas de injustiça, tal desejo não pode se manifestar, já que isto provocaria inúmeros conflitos e comprometeria o “funcionamento normal” da sociedade capitalista. E isto é mais grave ainda quando muitos seres humanos cometem atos de injustiça devido aos seus valores, a competição.

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[1] Viana, Nildo. Super-Heróis, Axiologia e Inconsciente Coletivo. In: Quinet, A.; Peixoto, M. A.; Viana, N.; Lima, R. Psicanálise, Capitalismo e Cotidiano. Goiânia, Edições Germinal, 2002. Veja também: Viana, Nildo. Super-Heróis e Axiologia. Revista Espaço Acadêmico. Nº 22, Março de 2003; Viana, Nildo. Super-Heróis e Inconsciente Coletivo. Revista Espaço Acadêmico. Nº 25, jun. 2003.

[2] Cf. Viana, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. In: Quinet, A.; Peixoto, M. A.; Viana, N.; Lima, R. Psicanálise, Capitalismo e Cotidiano. Goiânia, Edições Germinal, 2002

[3] Cf. Marny, J. Ob. cit. A censura oficial aos quadrinhos, como não poderia deixar de ser, assumiu um caráter extremamente conservador. No Brasil, o Código Moral que rege as Editoras especializadas tem os seguintes itens: “as histórias em quadrinhos devem ser um instrumento de educação, formação moral, propaganda dos bons sentimentos, a exaltação das virtudes sociais e individuais; é necessário o maior cuidado para evitar que as histórias em quadrinhos, descumprindo sua missão, influenciem perniciosamente a juventude ou dêem motivo a exageros da imaginação da infância e da juventude; não é permitido o ataque ou a falta de respeito a qualquer religião ou raça; os princípios democráticos e as autoridades constituídas devem ser prestigiados, jamais sendo apresentados de maneira simpática ou lisonjeira os tiranos ou inimigos do regime e da liberdade” (Cirne, Moacir. A Explosão Criativa dos Quadrinhos. Petrópolis, Vozes, 1974, p. 11).

[4] Lapassade, Georges. A Entrada na Vida. Lisboa, Edições 70, 1975.

Dragon Ball na Mídia – Dragon Ball Z – Batalha nos Dois Mundos – RESENHA

Jornal O DIA e Jornal O GLOBO (da esq. p/ dir.)

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5 Comentários

  1. Morelato Filho

    Estou seguindo seu blog diariamente a 1 mês e estou impressionado. Por favor continue com o bom trabalho.

  2. Marcos d'Avila Pacheli

    Não li todas as matérias, pois tem muita coisa. Algumas tem bom conteudo, divulgando bem o desenho na época que foi lançado aqui em nossas terras, assim como falam com respeito a outras séries. Entretanto outros trechos que li só tem comentários impertinentes em relação a dbz e outros animês. Um absurdo. Mas infelizmente é como tratam formas artisticas diferentes na mídia.
    Bom trabalho no blog. Continue o bom trabalho!

  3. Vítor Henrique

    Por isso que hoje não tem nenhum anime na tv aberta e quase nenhum nos canais pagos, fala sério dizer que pokémon é violento, pelo amor de Deus. Eles querem dizer que as crianças brasileiras são retardadas pois as crianças japonesas assistem tudo isso(e sem censura ainda!) e não saem por aí brigando com outras crianças por causa de um anime, acho que aqui ninguem nunca viu alguma reportagem de crianças japonesas brigando, já aqui no Brasil o tanto de reportagem que tem de crianças brigando é brincadeira e não por causa de desenhos, mais por causa de namorados ou por causa de Bulling mesmo!

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