Marvel Cosmic Invasion – Review

Review – Marvel Cosmic Invasion

Marvel Cosmic Invasion marca o retorno de Tribute Games ao beat ’em up após o sucesso de Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, agora trabalhando com uma licença ainda mais pesada, a Marvel. Publicado pela Dotemu, o jogo aposta na nostalgia dos arcades dos anos 1990 e no universo cósmico dos quadrinhos para construir uma experiência que, embora tecnicamente competente, acaba sendo mais conservadora do que o tema sugere.

A campanha se inspira livremente no evento Annihilation, colocando Aniquilador (Annihilus) como a grande ameaça que emerge da Zona Negativa para iniciar uma invasão em escala galáctica, onde os heróis da Terra e do espaço se unem para conter o avanço de suas tropas, atravessando diferentes regiões do universo Marvel. A história, como esperado de todo beat ’em up, cumpre apenas seu papel de justificar a sucessão de fases e confrontos. Há artes bem produzidas entre os capítulos e referências a figuras como Thanos, Galactus, Hela e Knull, mas o roteiro em si é raso e pouco desenvolvido, especialmente considerando a riqueza do material de origem.

Do ponto de vista visual, Marvel Cosmic Invasion é um trabalho de alto nível, com uma pixel art detalhada, sprites grandões e bem animados, deixando claro que inspirou-se nos jogos da Capcom e da Konami dos anos 90. Os cenários percorrem cerca de quinze localidades, incluindo Nova York, Wakanda, Asgard, Genosha, a Terra Selvagem e áreas dominadas por simbiontes, sempre com bom uso de cores, camadas e elementos de fundo. Há também pequenos detalhes pensados para fãs, como variações temáticas nos itens de cura e referências visuais espalhadas pelos estágios. E a trilha sonora acompanha bem a ação, com faixas eletrônicas de inspiração retrô.

O elenco jogável reúne quinze personagens, distribuídos entre heróis disponíveis desde o início e outros desbloqueados ao longo da campanha. O roster inicial inclui Capitão America, Homem Aranha, Wolverine, Homem de Ferro, Nova (Richard Rider), She-Hulk, Pantera Negra, Tempestade, Rocket Raccoon, Beta Ray Bill e Motoqueiro Fantasma Cósmico (Frank Castle), oferecendo desde figuras centrais do universo Marvel até escolhas mais ligadas à fase cósmica dos quadrinhos. Já os personagens desbloqueáveis são Fênix Negra (Jean Grey), Venom e Phyla-Vell, que são liberados conforme o avanço na história, enquanto o Surfista Prateado funciona como a recompensa final da campanha. Embora contenha um número alto de personagens, parece que houve certa hesitação editorial, ao priorizar figuras menos conhecidas em detrimento de ícones óbvios para o grande público. É como se quisessem fazer uma média entre o apelo popular e o fan service mais específico, porém isso acaba fazendo do elenco desinteressante para muitos, visto que a ausência de figuras centrais como Hulk ou Thor dificilmente empolgaria o público ocasional que conhece Marvel apenas pelos filmes, mas certamente a presença de personagens mais nichados agradou leitores mais familiarizados com a fase cósmica dos quadrinhos.

Em termos de jogabilidade, o combate segue a estrutura já conhecida de Shredder’s Revenge, mas com ajustes importantes. O principal deles é o sistema de dupla, no qual o jogador escolhe dois heróis por fase e pode alternar entre eles instantaneamente. Além da troca direta, é possível chamar o parceiro para assistências rápidas, estender combos e sair de situações de risco, adicionando na teoria uma camada estratégica que incentiva combinações de personagens com habilidades complementares. Mas na prática, é um recurso totalmente quebrado em termos de desafio, visto que é um recurso ilimitado que dificilmente os inimigos conseguem se safar.

O sistema de combate de Marvel Cosmic Invasion parte de uma estrutura de comandos comum a todos os personagens, mas com diferenças funcionais bem definidas no uso prático. Todos os heróis possuem ataques básicos, golpes carregados, ataque para combos aéreos, investida e golpes de assistência acionados pelo parceiro selecionado. Há também ataques especiais e ataques finais, liberados a partir do acúmulo da barra de Concentração (Focus), que podem varrer a tela ou causar dano elevado em chefes e inimigos gerais. Os personagens também contam com ações defensivas, que variam entre defesa com janela de contra-ataque ou esquivas, dependendo de cada um.

A partir dessa base, cada personagem possui suas particularidades. Alguns, como Homem de Ferro, Nova e Surfista Prateado operam com foco em ataques à distância e controle de área, enquanto She-Hulk, Venom e Wolverine privilegiam agarrões, arremessos e pressão em curto alcance. Outros, como Tempestade, Fênix Negra e Phyla-Vell, se apoiam em mobilidade, ataques aéreos e manutenção de combos no ar. O comando de corrida é recorrente para golpes de aproximação, e a presença constante de ataques de subida e contra-ataques torna o ritmo mais técnico do que em beat ’em ups tradicionais. E a progressão até o nível 5 libera uma habilidade passiva exclusiva por personagem, que interfere diretamente na forma de jogar, seja por regeneração de vida, infusão elemental, ganho de Focus ou fortalecimento das assistências.

No geral, a profundidade do combate está menos na execução de comandos complexos e mais na combinação entre troca de personagens, leitura de situações e exploração das funções específicas de cada herói. Mas, como um beat ’em up, Marvel Cosmic Invasion acaba se tornando um esmagador de botões frenético, principalmente combinado aos recursos de assistência e de ataques especiais, que pode até agradar quem nunca se preocupou em terminar Final Fight ou Cadillacs and Dinosaurs com mais de 20 fichas, mas com certeza frustrará quem ao menos tentava ter o mínimo de estratégia na hora de enfrentar ou chamar pro pau os inimigos desses jogos antigos. O jogo não parece desafiador, tal como era encarar com uma só ficha o beat ‘em up do X-Men lançado em 1992. E por mais que tenha um número surpreendente de personagens, com suas próprias particularidades, a sensação que temos é que a quantidade de ataques próprios e usuais na campanha são menores do que os de Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge. Nesse, parecia que o jogador realmente fazia jus de todos os recursos possíveis dos personagens. Já em Cosmic Invasion, apertar loucamente o botão de assistência combinado aos outros, deixando os inimigos perdidos nesse tipo de ação, acaba se tornando o principal recurso, fazendo os demais esquecíveis. Em cooperação, essas lutas até funcionam melhor, mas jogando sozinho, elas tendem a ser mais desgastantes e repetitivas.

A progressão é simples e direta. Os personagens sobem do nível 1 ao 10, ganhando aumentos de atributos como vida e Focus. No nível 5, cada herói desbloqueia uma habilidade passiva exclusiva, que ajuda a reforçar seu estilo de jogo. Cada fase traz desafios específicos e um Cubo Cósmico escondido, que alimentam a Matriz Cósmica, sistema usado para desbloquear extras como perfis, músicas, modificadores de arcade e paletas de cores alternativas.

O jogo oferece basicamente dois modos principais: Campanha e Arcade. A campanha possui progressão contínua e salvamento, enquanto o arcade adota uma estrutura mais clássica, com vidas e dificuldade ajustável. Muitas vezes, o jogador precisa repetir fases não por falta de habilidade, mas para fortalecer personagens. Em coop, essa limitação praticamente desaparece, deixando claro que o jogo foi pensado prioritariamente para múltiplos jogadores.

Em termos de conteúdo, Marvel Cosmic Invasion é enxuto e, além da campanha e do arcade, não há modos adicionais relevantes, e os desbloqueios se limitam majoritariamente a extras estéticos. Em um cenário em que o gênero voltou a ser competitivo e criativo, isso é um pouco decepcionante.

No fim, Marvel Cosmic Invasion é um beat ’em up bonito e agradável de jogar, especialmente em cooperação, mas francamente repetitivo e pouco desafiador, sem ambição suficiente para se destacar como referência do gênero. Para fãs de beat ’em ups e da Marvel, jogando com amigos, é divertido por algumas horas, como se espera do gênero, mas para quem esperava um passo adiante em relação a Shredder’s Revenge ou uma exploração mais ousada do universo cósmico da Marvel, fica a sensação de que poderia ir além.

Nota – 8,5

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