Análise – Beyond the Ice Palace 2
Beyond the Ice Palace 2 é um daqueles jogos que poucos esperavam ver renascer. O original, lançado em 1988 para o Commodore 64 e ZX Spectrum, já era um título obscuro e, francamente, não muito bem recebido na época. Agora, 37 anos depois, a desenvolvedora STORYBIRD Studios tenta dar uma nova vida a essa franquia, trazendo um jogo que transborda nostalgia, mas também herda muitas das limitações de sua época.
Lançado para PlayStation 4, PlayStation 5, PC, Switch, Xbox Series e Xbox One, Beyond the Ice Palace 2 ressurge como uma sequência que poderia facilmente passar por um Castlevania disfarçado. O enredo é direto: um rei traído por seus conselheiros (os Quatro Pages) ressuscita para retomar seu trono, empunhando as correntes que o aprisionaram. A narrativa é minimalista – diálogos curtos e lore esparsa –, mas o tom sombrio e os chefes demoníacos (como os Pages transformados em monstros) emulam o clima gótico dos clássicos da Konami.
A jogabilidade de Beyond the Ice Palace 2 mistura elementos de Metroidvania com ação linear. A grande estrela é a corrente do protagonista, que funciona tanto como arma quanto ferramenta de navegação, permitindo abrir portas, ativar alavancas e se balançar entre plataformas – claramente inspirada no icônico chicote de Castlevania.
No entanto, os controles deixam a desejar. Movimentos básicos, como escalar e descer plataformas, podem ser inconsistentes, levando a mortes desnecessárias. Além disso, a movimentação do personagem é dolorosamente lenta, tornando a exploração monótona. Um simples botão de corrida poderia ter resolvido esse problema. A configuração dos botões também não ajuda: para se lançar em outra direção ao se balançar, é preciso apertar o botão de ataque pesado, em vez do dash, o que gera confusão constante e muita frustração.
Outro problema recorrente está nos checkpoints, que são muito mal distribuídos. Muitas vezes, o jogador precisa atravessar longas seções sem um ponto de salvamento, o que pode tornar a progressão frustrante e resultar em momentos de desistência.
Visualmente, Beyond the Ice Palace 2 não tenta apenas imitar um jogo retrô – ele parece de fato um jogo encontrado em um disquete antigo. Isso pode agradar aos puristas, mas também significa que os gráficos não têm o refinamento de outros títulos inspirados em retro, como Hollow Knight ou Blasphemous. A estética sombria e gótica é bem executada, com castelos em ruínas e criaturas demoníacas bem detalhadas. As animações, por outro lado, poderiam ser mais fluidas.
Os Quatro Pages e Guardiões Leais são os destaques, com designs criativos e padrões de ataque bem desafiadores. Porém, a precisão exigida esbarra na física imprecisa do balanço e nos controles travados – morrer por falha técnica é comum, ou seja a culpa não é exclusivamente sua.
A trilha sonora captura bem o tom do jogo, com músicas sinistras e efeitos sonoros satisfatórios, especialmente o som das correntes atingindo inimigos. No entanto, as faixas acabam se tornando repetitivas devido à sua curta duração e loop constante. A falta de dublagem também limita a imersão na história.
Com cerca de cinco horas de duração e umas dez pra fazer tudo o que há no jogo, Beyond the Ice Palace 2 oferece um bom desafio, especialmente em seus combates contra chefes. Os inimigos batem forte e doído, e a gestão de recursos é essencial para avançar. O sistema de teletransporte reduz a necessidade de refazer caminhos, mas a movimentação lenta pode tornar algumas partes tediosas.
Beyond the Ice Palace 2 é um jogo de nicho. Para aqueles que cresceram nos anos 80 e querem reviver a era dos jogos de plataforma difíceis e mecanicamente simples, ele pode ser uma experiência nostálgica. No entanto, para jogadores acostumados com Metroidvanias modernos, suas limitações são difíceis de ignorar. Os controles truncados, a movimentação lenta e a falta de polimento impedem que ele brilhe entre seus contemporâneos.
Se você busca um desafio e consegue relevar suas falhas, Beyond the Ice Palace 2 pode ser uma jornada divertida. Principalmente, se você tolera jank em nome da autenticidade retrô, vale a aventura. Caso contrário, há Metroidvanias modernos mais polidos por aí.