Caligo é um jogo que se encaixa perfeitamente na definição do gênero “walking simulator”, que começou a ganhar popularidade com Dear Esther em 2012. Se você não está familiarizado com esse estilo de jogo, ele se caracteriza pela ausência de combate, desafios ou qualquer forma de gameplay tradicional, como plataforma ou enigmas. Em vez disso, o jogo oferece uma experiência onde o objetivo principal é caminhar por ambientes lindos, absorvendo uma narrativa imersiva, muitas vezes contemplativa e filosófica. É um jogo de simulação de caminhada que se destaca pela exploração de temas profundos, como morte, perda, renascimento e amor, ao mesmo tempo que apresenta uma jogabilidade simples e uma narrativa desconexa. Desenvolvido pela Krealit e publicado pela Sometimes You, o título se apresenta como uma experiência contemplativa, mas com uma execução que pode não agradar a todos os jogadores.
A história de Caligo coloca o jogador na pele de um protagonista sem memória, em um mundo estranho, guiado por uma figura enigmática. À medida que você explora esse mundo, encontros com diferentes personagens e cenários desconexos começam a formar uma história mais coesa. A trama, embora não revolucionária, é interessante pela maneira como se desenrola lentamente, mantendo o jogador imerso enquanto tenta compreender o significado por trás das memórias e dos eventos apresentados. O estilo de narração é único, com uma atmosfera que carrega uma carga filosófica, mas que pode ser vaga demais para alguns jogadores.
Neste caso, Caligo se destaca por explorar questões profundas sobre a alma humana e filosofia, colocando o jogador no papel de um protagonista que parece estar em uma jornada existencial. Em muitos aspectos, o jogo é menos sobre uma história linear e mais sobre a sensação e a atmosfera criada ao longo de sua experiência.
Como é típico dos walking simulators, a jogabilidade em Caligo é bem simples — você apenas caminha, e caminha, sem pressa. Não há botões de correr ou saltar, e isso pode ser frustrante para alguns jogadores, especialmente aqueles que esperam mais dinamismo no controle do personagem. No entanto, o ritmo mais lento e introspectivo do jogo combina com a proposta filosófica e o tom relaxante da experiência. Em vez de buscar desafios ou obstáculos físicos, o foco está em explorar uma paisagem cheia de significados sutis e visuais impactantes.
Além disso, não há enigmas ou puzzles a serem resolvidos, e nenhuma interação com portas ou outros elementos tradicionais de jogos de aventura. A interação do jogador é limitada principalmente à exploração e descoberta de colecionáveis — pinturas feitas à mão que podem ser tocadas ao longo da jornada. Isso adiciona um elemento de replayability, já que encontrar todas as coleções pode ser um desafio adicional para aqueles que querem explorar mais a fundo os temas do jogo. No entanto, o tempo de jogo é relativamente curto, e muitos jogadores provavelmente terminarão a experiência em poucas horas.
A narrativa de Caligo não é apresentada de maneira tradicional. Em vez de uma história clara e linear, o jogo se revela por meio de atmosferas e símbolos, deixando o jogador interpretar as mensagens conforme avança. O protagonista parece estar à deriva em uma realidade que mistura paisagens paradisíacas com cenários infernais — desde florestas exuberantes até campos de batalha congelados no tempo, e prisões infernais onde a tortura e o auto-castigo dominam. Esses ambientes, carregados de simbolismo, são uma metáfora para a luta interna do personagem, refletindo sobre a vida, as memórias e as escolhas.
O jogo não dá respostas fáceis, e a interpretação dos lugares e situações é aberta a uma variedade de leituras filosóficas. Em alguns momentos, Caligo pode parecer um pouco autoindulgente, oferecendo experiências que podem ser difíceis de digerir, especialmente para aqueles que buscam uma narrativa mais concreta.
Um dos pontos fortes de Caligo está nos visuais, com uma mistura de realismo mágico e cenários sombrios, como os infernais campos de batalha ou os mundos celestiais. Cada ambiente foi cuidadosamente projetado para evocar um estado emocional, seja de beleza ou de terror. A trilha sonora do jogo complementa perfeitamente essa atmosfera, com momentos de crescente intensidade que se encaixam bem com a narrativa contemplativa. Além disso, o jogo é totalmente dublado, com uma performance sólida dos atores, que ajudam a dar vida ao material.
Caligo é uma jornada filosófica que pode ser difícil de explicar com palavras simples, mas é memorável na sua atmosfera e na maneira como toca temas profundos sobre a existência humana. Embora o jogo não ofereça mecânicas tradicionais de gameplay, ele cria uma experiência que vai ressoar com aqueles que buscam um jogo introspectivo e contemplativo. No entanto, para quem prefere mais ação ou interação com os elementos do ambiente, como portas e objetos, Caligo pode parecer um pouco vazio em termos de gameplay.
Com duas finais possíveis e um mundo que fica com você muito depois de terminar, Caligo é uma viagem que vai atrair principalmente os fãs do gênero, mas também pode ser desafiadora para aqueles que esperam mais do que apenas uma caminhada. Se você se permitir ser imerso na jornada filosófica, vai encontrar algo que vale a pena refletir muito após o término do jogo.