Estação de Transmissão KosoKoso de Yubo & Mashirito – Programa TOKYO M.A.A.D SPIN da Rádio J-WAVE (22 de fevereiro e 22 de março de 2025)
CONVERSA ENTRE OS 3 EX-EDITORES DE AKIRA TORIYAMA
Obs: O texto aqui apresentado é uma tradução do resumo/tradução em inglês feito pelo @Venixys no X/Twitter:
https://x.com/Venixys/status/1893760600058069331
https://x.com/Venixys/status/1904272214842544244
Parte 1 – (22 de fevereiro de 2025)
O FIM DA SAGA CELL
Durante a fase final da saga Cell, Toriyama expressou repetidamente sua intenção de terminar Dragon Ball neste arco narrativo. Inicialmente, aqueles que o ouviram não entenderam completamente sua vontade, pensando que, mesmo que a saga Cell terminasse, a série poderia continuar de outra forma. No entanto, a equipe editorial sofreu forte pressão para que a história prosseguisse, impulsionando Toriyama a continuar.
Apesar disso, Fuyuto Takeda sempre apoiou o autor, tentando encontrar maneiras de aliviar sua carga de trabalho e tornar a continuação da série menos obrigatória. No final, tanto Toriyama quanto Takeda insistiram que a história deveria concluir definitivamente com o fim da saga Majin Boo, em respeito a Toriyama e seu desejo de encerrar a série.
A FASE FINAL DE DRAGON BALL
Durante a fase final de Dragon Ball, Toriyama foi perguntado se realmente gostava de desenhar novos personagens, ao que ele respondeu que, na verdade, preferia criar figuras mais redondas, mais fofas e com um toque de humor. Essa reflexão levou à ideia de criar um vilão com essas características: Majin Boo.
Conforme a saga Boo tomava forma, Torishima continuava insistindo que a série deveria ter terminado antes. No entanto, apesar disso, Toriyama parecia estar se divertindo muito trabalhando nela.
Isso ficou particularmente evidente nas piadinhas absurdas que lembram os “Toriyama primordial”, como o ataque de fantasmas de Gotenks, que deixou o editor atônito e perplexo. Mas ficou claro que o sensei estava gostando da parte final precisamente porque sabia que a história estava chegando ao fim.
COMO DRAGON BALL CONTINUOU POR MAIS 2 ANOS E MEIO?
Perto do fim da saga Cell, Toriyama provavelmente pretendia concluir Dragon Ball em algumas semanas, talvez três ou quatro. No final, no entanto, a série continuou por mais dois anos e meio. Ele poderia ter pensado em concluir tudo em seis meses, mas a história acabou durando muito mais do que o esperado.
Em vez de convencê-lo a continuar, os editores se concentraram em encontrar maneiras de tornar o trabalho mais agradável para ele. A abordagem deles foi mais na linha de: “Vamos tentar adicionar algo divertido a este arco para que ele possa aproveitar um pouco.” Um exemplo-chave disso foi o Mr. Satan: a ideia de torná-lo central e exagerar sua estupidez foi introduzida especificamente para adicionar um elemento cômico que poderia aliviar o tom. E, ironicamente, no final, foi ele quem salvou o mundo.
A GRANDE MUDANÇA DE TOM
Anteriormente, sob a direção de Yuu Kondo, a estrutura da série era clara: um novo vilão poderoso era introduzido, levando a um confronto épico com Goku. Mas, após repetir esse padrão com Freeza e Cell, Toriyama pareceu se cansar desse tipo de narrativa. Ele sentiu que já havia dado o suficiente em termos de batalhas e antagonistas implacáveis, razão pela qual a saga de Majin Boo assumiu um tom mais cômico, assemelhando-se ao estilo de Dr. Slump.
Essa mudança de tom foi, de certa forma, inevitável. A saga Cell tornou-se cada vez mais complexa com viagens no tempo e paradoxos, criando uma estrutura narrativa difícil de gerenciar. Se um erro fosse cometido na cronologia, tornava-se quase impossível corrigi-lo sem gerar mais inconsistências. À medida que a história avançava, tornou-se evidente que as coisas estavam se tornando cada vez mais complexas.
Como resultado, a saga Majin Boo tornou-se uma espécie de reação a esse excesso de complexidade. Toriyama e os editores decidiram remover as complicações narrativas: “Chega de paradoxos, chega de lógica intrincada”. Em vez disso, optaram por uma estrutura mais simples e leve, repleta de piadas. Em retrospectiva, esta foi provavelmente a melhor escolha para concluir a série de uma forma mais livre e agradável.
TORIYAMA NÃO GOSTAVA DE FREEZA
Durante uma conversa, Toriyama foi questionado se ele realmente gostava de desenhar certos personagens. Ele respondeu que Kondo sempre dizia que, se um personagem não fosse legal, não era bom o suficiente. Nesse ponto, a discussão mudou para Freeza, revelando que ele era, na verdade, um personagem forçado, um personagem que Toriyama não queria particularmente criar, mas foi obrigado a incluir. No entanto, quando uma história sofre mudanças repentinas, como quando o próprio Toriyama pediu para passar para um novo oponente porque não queria mais desenhar Freeza, isso pode complicar a estrutura da trama e levar a situações um tanto caóticas. No final, porém, a mente de Toriyama sempre encontrava uma maneira de manter a história em movimento.
POR QUE KONDO REJEITOU O CELL?
Muitas vezes, ao reorganizar a narrativa, pode parecer que certas ideias vieram dele ou de outra pessoa, mas, na realidade, é apenas um processo de simplificação e ajuste, exatamente como Kondo sugeriu. Portanto, é importante estar atento a como certas mudanças narrativas são interpretadas.
Costuma-se dizer que Kondo rejeitou a ideia de Cell, declarando que tudo era ruim, mas, na realidade, as coisas não foram exatamente assim. Não foi uma rejeição completa, mas sim uma crítica ao design dos personagens.
Inicialmente, Cell tinha uma aparência muito semelhante a um grande inseto parecido com uma cigarra, e Kondo expressou algumas dúvidas: ele não parecia um oponente muito legal. No entanto, quando o personagem assumiu uma forma mais humanoide, o julgamento mudou: esse design pareceu melhor, mais carismático e mais adequado para uma batalha emocionante.
HUMANOS ERAM MAIS ATRATIVOS DO QUE MONSTROS
A ideia era que um antagonista muito monstruoso não envolveria o público tanto quanto um com uma aparência mais humana.
Essa observação foi baseada na experiência direta com Dragon Ball. Por exemplo, durante a transformação do Oozaru, acreditava-se inicialmente que uma batalha com um macaco gigante empolgaria os leitores. Porém, na realidade, as pesquisas de popularidade despencaram. A conclusão, como Kondo enfatizou, foi clara: o público achou as lutas entre oponentes humanoides de tamanho semelhante mais envolventes porque criavam maior tensão e engajamento.
A SIMPLICIDADE DE TORIYAMA
A ideia de Freeza como um mercador espacial e vilão galáctico surgiu durante uma reunião de planejamento, mas, a princípio, não havia um personagem claramente definido. O conceito de um empresário maligno intergaláctico era forte e universal, pois imediatamente estabelecia seu papel: um vilão implacável. Em Dragon Ball, papéis bem definidos funcionam melhor: os mocinhos são bons, os bandidos são maus. Toriyama nunca se inclinou a criar tramas complexas com traições e reviravoltas elaboradas. Em vez disso, ele dava dicas sem desenvolver histórias de fundo complexas.
Seu estilo narrativo era simples e direto, voltado para um público jovem, sem flashbacks excessivos ou mistérios de longo prazo para desvendar. Quando uma trama precisava de uma reviravolta, ele frequentemente introduzia novas ideias repentinamente. Por exemplo, a revelação de que Goku era um Saiyajin não foi resultado de um plano elaborado, mas sim de uma necessidade narrativa; quando a história encontrava um obstáculo, Toriyama rapidamente encontrava uma solução.
QUASE TUDO ERA UM GRANDE IMPROVISO
Esse método levou a surpresas inesperadas, como a destruição de Namekusei. Nesse ponto, surgiu um problema: se o planeta desaparecesse, as Esferas do Dragão também desapareceriam, mas a solução veio imediatamente com a introdução de outro Namekuseijin que poderia recriá-las.
Essa espontaneidade definiu todo o processo criativo. Não houve planejamento a longo prazo. Toriyama e os editores decidiam a direção geral e desenvolviam a história a cada semana. Até a ideia de ambientar parte da história no espaço surgiu repentinamente: Se Goku era um alienígena, fazia sentido explorar novos planetas.
Elementos icônicos, como a cauda de Goku, não foram originalmente concebidos como parte de sua herança Saiyajin, mas foram posteriormente incorporados a ela quando a história assim exigiu. Essa abordagem também influenciou a estrutura dos Torneios de Artes Marciais.
MENOS COMPLEXIDADE E MAIS DIVERSÃO
Em um cenário típico, os lutadores mais fortes se enfrentariam nas finais, mas em Dragon Ball, o duelo decisivo poderia acontecer no primeiro round. Isso frequentemente deixava os editores confusos: “O que vai acontecer depois?”, mas Toriyama, fiel à sua filosofia, simplesmente respondia: “Se eu colocar a luta mais épica em primeiro lugar, então simplesmente inventarei outra coisa.” Sua prioridade era surpreender o leitor, criar algo inesperado e não se preocupar muito com consequências a longo prazo.
Essa capacidade de subverter expectativas e improvisar soluções tornava sua narrativa inovadora e imprevisível. Seu objetivo não era construir um enredo perfeitamente estruturado, mas surpreender e entreter, sempre deixando os leitores ansiosos para ver o que aconteceria a seguir.
A FASE ESCOLAR DE GOHAN
Durante a saga Boo, houve um momento em que Toriyama decidiu experimentar uma ideia diferente: o “Capítulo Escolar”, com Gohan no ensino médio e o Grande Saiyaman. A ideia era tentar uma história leve, com Gohan tentando esconder sua identidade enquanto vivenciava pequenas aventuras cotidianas.
No entanto, depois de algumas semanas, Toriyama se cansou e abandonou a história abruptamente. Como frequentemente acontecia, se algo se tornasse muito complicado ou desinteressante, ele abandonava sem muita hesitação. O cenário escolar exigia muitas cenas lotadas, cheias de personagens secundários que Toriyama considerava tediosos e demorados de desenhar.
Então, para tornar o trabalho mais simples e agradável, ele rapidamente cortou essa história e passou para algo mais dinâmico e absurdo. Essa tendência à uma narrativa improvisada também é evidente na introdução de Trunks.
NEM TORIYAMA SABIA QUEM ERA O TRUNKS
Quando Trunks apareceu pela primeira vez, eliminando Freeza sem esforço, ninguém – nem mesmo Toriyama – havia decidido exatamente quem ele era. Não havia um plano a longo prazo para que ele fosse filho de Vegeta e Bulma. Só mais tarde Toriyama fez essa conexão e declarou: “Ok, Bulma se casa com Vegeta”.
Para os editores, isso foi um choque completo. Até então, Bulma não havia demonstrado nenhum interesse particular por Vegeta, então a revelação de que teriam um filho os deixou perplexos. Alguns sugeriram que o relacionamento deveria ser explicado com mais detalhes, mas Toriyama, em seu estilo espontâneo de sempre, ignorou a ideia com um casual “É, mais ou menos”.
Esta era sua filosofia: não planejar demais, introduzir ideias repentinamente e, se algo se tornasse inconveniente ou chato, mudar na hora. Seu objetivo sempre foi surpreender o leitor e, ao mesmo tempo, tornar seu próprio trabalho o mais simples possível.
AS DIFICULDADES DE SE TRABALHAR COM TORIYAMA
O processo de trabalho com Toriyama era bastante singular em comparação com outros mangakás. Os manuscritos eram enviados por fax, mas não como meros storyboards a serem corrigidos, pois já estavam quase finalizados.
Os editores os recebiam, davam uma olhada e geralmente os aprovavam sem muitas alterações. Se perguntassem o que aconteceria no próximo capítulo, a resposta era sempre a mesma: “Quem sabe? Veremos na semana que vem!”
Toriyama não era do tipo que fazia vários rascunhos ou se envolvia em longas discussões sobre revisões. Ao contrário de outros autores que trabalhavam em estreita colaboração com os editores para refinar e ajustar a história, ele confiava em seu próprio processo criativo, trabalhava de forma independente e entregava o produto final sem querer revisitá-lo.
No entanto, editores como Torishima e Kondo eram muito mais rigorosos: se algo não desse certo, eles não hesitavam em rejeitar com um firme “De jeito nenhum!”. Takeda, por outro lado, adotava uma abordagem diferente.
A FUNÇÃO DO TERCEIRO EDITOR
Sabendo que Toriyama queria encerrar a série, o objetivo de Takeda era facilitar as coisas o máximo possível para ele, evitando pressão excessiva. Mas o desafio recorrente permanecia: “Ok, este capítulo está concluído, mas e o próximo? O que vai acontecer?”
Essa incerteza constante era a verdadeira luta dos editores de Dragon Ball, já que o processo criativo de Toriyama era completamente instintivo e imprevisível.
A EVOLUÇÃO DA NARRATIVA DE DRAGON BALL
A transformação de Dragon Ball em um mangá de batalha aconteceu gradualmente, mas não por acaso. Em seus estágios iniciais, a série equilibrava aventura, comédia e combate, mas com a chegada da saga Saiyajins, o foco mudou cada vez mais para as batalhas, levando a história a uma ação prolongada e de alta intensidade. Essa mudança foi impulsionada pela reação do público: os leitores ficaram entusiasmados com as lutas e queriam ver mais.
Toriyama, inicialmente mais interessado em comédia e aventura, não havia planejado essa mudança desde o início. No entanto, depois de experimentar, achou divertido desenvolver batalhas cada vez mais espetaculares e elaboradas. Não foi apenas uma questão de “Vamos introduzir um novo inimigo e fazê-lo lutar contra Goku” — houve uma evolução na dinâmica dos personagens, como demonstrado pelo arco de Vegeta.
A NATUREZA DE AKIRA TORIYAMA
Inicialmente como o principal antagonista, Vegeta aos poucos se juntou aos protagonistas quando a ameaça de Freeza surgiu. Esse tipo de desenvolvimento enriqueceu a narrativa, indo além das simples estruturas de vilão do arco e criando interações mais complexas entre os personagens. A equipe editorial debateu se a antiga fórmula de inimigo transformado em aliado funcionaria e, com o tempo, percebeu que isso acrescentava profundidade à história.
O próprio Toriyama, embora não planejasse tudo com muita antecedência, se deixou guiar pelas reações do público. Ele não era do tipo obcecado por pesquisas de popularidade, mas quando os resultados eram compartilhados com ele, seu espírito competitivo o impulsionava a melhorar. Apesar de sua imagem de pessoa tranquila, Toriyama na verdade tinha uma forte natureza competitiva. Esse aspecto o levou a criar cenas de luta cada vez mais impressionantes, nunca se contentando com menos.
O RESPEITÁVEL PRIMEIRO EDITOR
A relação entre Toriyama, Masakazu Katsura e seu editor, Torishima, foi construída ao longo do tempo, marcada por momentos de tensão, mas também por profundo respeito mútuo. Quando Katsura relatava episódios passados em que parecia que Toriyama havia sofrido alguma dureza editorial, o próprio Toriyama reagia com surpresa, dizendo: “Sério? Isso aconteceu?”, só percebendo mais tarde o quão difíceis aqueles momentos foram.
Com o tempo, Toriyama e Katsura desenvolveram um profundo entendimento um do outro. Tendo trabalhado para Torishima, compartilharam experiências semelhantes e, embora ocasionalmente reclamassem de suas decisões, era mais para relembrar anedotas do que para abrigar qualquer ressentimento real. Na verdade, o fato de falarem negativamente sobre ele não era por amargura – era, na verdade, uma prova do profundo impacto que ele teve em suas carreiras.
Essa dinâmica era clara: quanto mais discutiam suas diretrizes absurdas, mais evidente ficava que Torishima havia deixado uma marca duradoura em suas trajetórias artísticas. Era uma espécie de afeição disfarçada de crítica — uma forma de reconhecer sua importância sem admiti-la abertamente.
Afinal, não se tratava de explosões de estresse ou reclamações genuínas, mas sim de uma forma de confiança duradoura. Katsura e Toriyama, apesar dos momentos de frustração, jamais negariam o papel crucial de Torishima em suas carreiras. Pelo contrário, o fato de falarem dele com tanta frequência era prova do quanto o respeitavam e apreciavam.
A IMPREVISIBILIDADE DE TORIYAMA AFETANDO TODA A FRANQUIA
Na redação da Jump, tentavam sincronizar a serialização semanal do mangá com o lançamento dos volumes completos, do anime, dos produtos e dos videogames. Toda semana, havia reuniões com empresas como a Bandai e desenvolvedores de jogos, que pediam para planejar o lançamento de produtos em torno de momentos-chave da história.
No entanto, Toriyama não trabalhava com um cronograma fixo e frequentemente respondia com um vago: “Hmm. Ainda não decidi todos os detalhes…” (risos). Isso dificultava a coordenação, pois, se ele decidisse mudar repentinamente a direção da história, os planos para o anime, os produtos e os videogames tinham que ser ajustados às pressas. Às vezes, recebiam ligações em pânico, como: “Ei, o que fazemos agora?!”
Até as capas dos volumes encadernados e seu conteúdo influenciavam a estratégia de merchandising. Por exemplo, se um determinado personagem fosse escolhido para a capa, a Bandai poderia planejar lançar uma figura baseada nele. Mas se Toriyama mudasse de ideia repentinamente sobre esse personagem, todo o cronograma de lançamentos mudaria.
Coordenar a serialização semanal, o anime, os volumes e os produtos era uma tarefa quase impossível. Dragon Ball era tão popular que os pedidos de colaborações e novos produtos não paravam de se acumular. Às vezes, os editores se perguntavam se ainda estavam trabalhando como editores ou se haviam se tornado planejadores de videogames (risos).
Apesar dos desafios, foi um momento emocionante — ver Dragon Ball se expandir em tantas direções foi incrível.
LOUCURA É DIVERSÃO
Ocasionalmente, dependendo das necessidades da Bandai, havia discussões sobre se um personagem específico deveria ter mais tempo de tela naquele momento ou, ao contrário, se sua aparição deveria ser adiada para evitar spoilers. Mas com tudo se desenvolvendo paralelamente à serialização, prever o momento exato era praticamente impossível.
Para o aniversário da Jump, a equipe editorial teve uma ideia maluca: empilhar todas as edições da revista até atingirem 25 metros de altura, usando a escada de um caminhão do corpo de bombeiros. No entanto, o vento ameaçava espalhar os volumes, então eles tiveram que colá-los para manter a pilha intacta. Foi um feito absurdo, mas representou perfeitamente o espírito da Jump — ir além, com entusiasmo e um toque de loucura.
Embora alguns questionassem o propósito de tudo isso, a resposta foi simples: “É exatamente esse o ponto! Loucura é diversão!”
Essa mesma abordagem se refletiu no desejo de envolver os fãs não apenas na leitura de mangás, mas também na interação com os personagens. A equipe editorial passou muitas reuniões descobrindo o que as crianças gostavam além dos mangás, e dessas discussões nasceram ideias como cartas colecionáveis (carddass) e videogames. O objetivo era transformar a experiência com a Jump em algo mais interativo e agradável, expandindo o universo dos personagens para além das páginas da revista.
Parte 2 – (22 de março de 2025)
A RIGIDEZ INABALÁVEL DE KAZUHIKO TORISHIMA
Durante um período especialmente intenso entre o fim e o início do ano, Toriyama se viu tendo que trabalhar simultaneamente em Dragon Ball e em um one-shot. Para piorar, a Jump exigiu que os capítulos coloridos fossem enviados com duas semanas de antecedência, forçando os autores a trabalhar em dois capítulos em paralelo. Naquela época, Toriyama também sofria de tendinite e afirmava que não conseguia mais desenhar.
Kondo, que estava trabalhando com ele, percebeu o quão grave era a situação e decidiu falar com Torishima. Os três se encontraram em uma cafeteria para discutir a possibilidade de ajustar o cronograma ou cancelar um dos dois projetos. Durante a reunião, Torishima, ciente da dificuldade, entregou a Toriyama um lápis e pediu que ele escrevesse seu nome. Quando Toriyama conseguiu fazer isso, Torishima respondeu:
“Viu? Você consegue desenhar!”, colocando-o em uma situação onde seria difícil de continuar recusando.Apesar de sua frustração, Toriyama aceitou e concluíu ambos os trabalhos no prazo. Torishima comenta que, para ele, foi principalmente uma questão psicológica: se Toriyama não tivesse sido capaz de escrever seu próprio nome, ele estava decidido a desistir e dizer a Kondo para deixar para lá. Foi uma aposta, mas no final, funcionou. Um resultado surpreendente.
O ESQUEMA DE TRABALHO DE AKIRA TORIYAMA
Toriyama tinha um acordo claro com Torishima: se ele perdesse um único prazo, seria forçado a se mudar para Tóquio. Ele odiava tanto a ideia que tornou uma regra pessoal nunca perder um prazo. Torishima inicialmente sugeriu a mudança para facilitar o fluxo de trabalho, especialmente em uma época em que nem mesmo máquinas de fax existiam. Para buscar storyboards e páginas de manuscrito, ele tinha que viajar pessoalmente para Haneda duas vezes por semana.
Quando as máquinas de fax começaram a ser usadas na redação, Toriyama se recusou a instalar uma por dois anos inteiros. Com um fax, ele não poderia mais dar desculpas, e seria forçado a enviar seu trabalho imediatamente, mesmo que ainda não estivesse pronto. Para cumprir seus prazos, Toriyama disse que às vezes dormia apenas seis ou sete horas ao longo de uma semana inteira. Em certo momento, ele não conseguia nem distinguir as cores dos semáforos. Ainda assim, ele se recusou teimosamente a se mudar, dizendo que não conseguia viver em um lugar sem um horizonte visível.
Torishima, determinado a não forçá-lo, estabeleceu um cronograma com prazos planejados com até dois meses de antecedência. Se Toriyama não conseguisse acompanhar, o plano era mudar o fluxo de trabalho e movê-lo para Tóquio. Mais tarde, durante o período em que Kondo assumiu como seu editor, a primeira coisa que ele exigiu foi que Toriyama comprasse um fax para facilitar a comunicação.
A INESPERADA PASSAGEM DE BASTÃO PARA YUU KONDO
A passagem entre Torishima e Kondo aconteceu de forma abrupta e sem muita preparação. Depois de se tornar vice-editor-chefe, Torishima de repente passou a série para Kondo, cuja única instrução foi para comprar um fax imediatamente. Em dezembro, durante a cerimônia de premiação do Prêmio Tezuka ou Akatsuka, Torishima puxou Kondo de lado e disse: “Venha, tem alguém que eu quero que você conheça”.
Kondo se viu na frente de um homem de agasalho, este era Akira Toriyama. Torishima os apresentou com “Este é Kondo!” e os dois trocaram uma breve saudação. Na época, Kondo não entendeu o propósito da apresentação, mas em janeiro, durante uma reunião editorial, Torishima anunciou que o novo editor responsável por Dragon Ball seria Kondo, sem ter informado ninguém com antecedência. Kondo estava no departamento editorial há apenas seis meses. Torishima o escolheu especificamente porque, sendo novo, ele ainda não estava muito influenciado pelo espírito Shonen Jump, o que o tornou mais adequado para trabalhar com Toriyama.
Ele estava procurando alguém direto, prático e pouco intrusivo. A razão pela qual Torishima evitou qualquer preparação detalhada para a transição foi porque ele não queria ficar no caminho. Se algo não estivesse certo com Toriyama, ele mesmo deixaria claro. Isso também se reflete em uma anedota que Kondo compartilhou: “Você me perguntou: ‘Você lê Dragon Ball, certo?’ e eu disse ‘Sim.’, e aí você respondeu: ‘Então faça o que quiser.” Toriyama disse mais tarde que se dava bem com Kondo, descrevendo-o como alguém que parecia sério, mas na verdade era muito apaixonado, e eles se uniam por hobbies em comum, como carros de controle remoto.
O OBJETIVO DO SEGUNDO EDITOR
Kondo lembra que quando entrou na Jump, ele considerou seriamente desistir, pois achou o ambiente muito rígido, quase militar. Pouco depois, foi designado para Dragon Ball, sem nenhuma preparação ou instruções claras sobre o que fazer. A cada semana, ele simplesmente tinha que garantir que a série continuasse como programado, mesmo se sentindo completamente deslocado naquilo.
Por volta de setembro, durante uma reunião, ele percebeu que havia pelo menos uma coisa com a qual poderia se comprometer: fazer tudo o que pudesse para manter Dragon Ball no topo do ranking de popularidade. Era a única meta que ele realmente estabeleceu para si, mesmo que nunca tenha contado a ninguém, nem mesmo a Torishima. Na época, havia muitas séries fortes, como Slam Dunk e Yu Yu Hakusho, que poderiam ter superado-o. Porém, Dragon Ball permaneceu em primeiro lugar até o final.
Olhando para trás, eles reconhecem que o crédito não vai para os editores, mas para a força extraordinária do trabalho de Toriyama. Quando Kondo se tornou o editor principal, ele nem teve tempo para pensar em como o público poderia reagir. Ele confiou somente no instinto: Se não sentisse nada negativo ao ler as páginas, então estava bom para ser publicado.
Kondo se enxergava como o primeiro leitor de Dragon Ball e julgava as páginas com base em sua reação imediata. Quando recebia faxes de Toriyama, às vezes ele notava que um final não era impactante o suficiente ou que um quadro estava faltando, então apontava isso. Enquanto muitos autores revisavam páginas inteiras, Toriyama era capaz de alcançar o efeito desejado simplesmente adicionando ou ajustando um único quadro ou linha de diálogo, sem alterar a estrutura geral. Isso deixou uma forte impressão em Kondo, que percebeu que precisava continuar trabalhando seguindo a mesma abordagem.
A IMPORTÂNCIA DE UM NOVO EDITOR
Torishima se lembra de ter sido surpreendido pela introdução das Forças Especiais Ginyu, uma reviravolta narrativa que ele nunca imaginou. Mais tarde, ele descobriu que o filho de Kondo e o filho de Toriyama estavam assistindo a programas de Super Sentai ao mesmo tempo, o que levou os dois pais a começarem a falar sobre eles e foi assim que a ideia nasceu. Foi naquele momento que Torishima percebeu que a mudança no editor tinha trazido uma “cor” diferente à série, introduzindo temas e influências que ele mesmo nunca teria explorado.
Por esse motivo, ele optou por não dar instruções a Kondo, porque se tivesse continuado a fazê-lo, Dragon Ball não teria evoluído. Ao mudar de editores e permitir espaço para o diálogo entre Kondo e Toriyama, o mangá foi capaz de se renovar de uma forma positiva. Kondo também lembra outro momento importante: a morte de Piccolo. Ele insistiu fortemente que o personagem deveria chorar naquela cena, mesmo que Toriyama inicialmente fosse contra isso, dizendo que isso o deixava desconfortável. No final, Kondo conseguiu convencê-lo, e ele considera esse momento, junto com a cena onde Cell atinge sua forma perfeita, como um dos momentos em que sua teimosia teve maior impacto na série.
O CURIOSO CASO DO PRIMEIRO ARTBOOK
O artbook Akira Toriyama The World foi editado por Kondo, que supervisionou todo o projeto na época. Naturalmente, ele pediu a Toriyama para desenhar a capa, mas a ilustração que chegou (agora visível na última página do livro) não o convenceu. Embora fosse incrivelmente detalhada, não apresentava Goku e não evocava Dragon Ball de imediato, o que fazia não ser impactante o suficiente para chamar a atenção dos leitores.
Com o prazo se aproximando rapidamente, Kondo consultou Torishima, que o encorajou a solicitar um novo desenho se ele realmente achava que a imagem não era adequada. Hesitantemente, Kondo ligou para Toriyama e explicou a situação. Inicialmente,
Toriyama estava relutante e defendeu sua escolha, mas após um longo e, principalmente, silencioso telefonema, durando cerca de meia hora, o que era uma eternidade pelos padrões de Toriyama, ele concordou em redesenhar a capa.Um ou dois dias depois, Toriyama enviou não uma, mas duas novas ilustrações, deixando a escolha final para Kondo. Foi um gesto que transmitiu claramente sua irritação: aquela seria sua última revisão. Kondo sentiu que, pela primeira vez, ele tinha realmente deixado Toriyama bravo. A imagem original rejeitada não era para ser publicada, mas Kondo decidiu incluí-la de qualquer forma na última página do livro, adicionando-a manualmente, já que o resto do volume já havia sido impresso. Por conta disso, Kondo tem um carinho especial por esse livro.
O INÍCIO CONTURBADO DO TERCEIRO EDITOR
Quando Kondo deixou seu papel durante a saga Cell, ele ainda continuou a apoiar Takeda, trabalhando ao lado dele e revisando os storyboards juntos quase até o fim do arco.
O primeiro encontro de Takeda com Toriyama aconteceu durante uma inspeção técnica de uma máquina de jogos da Bandai. Kondo disse a ele que Toriyama viria do interior e que seria a oportunidade perfeita para apresentá-los. Eles se encontraram na estação de Tóquio e entraram em um carro alugado: Takeda se sentou no banco do passageiro da frente, ao lado do motorista, enquanto Toriyama e Kondo sentaram-se no banco de trás. Durante aquela viagem para a Bandai, Toriyama disse a ele que pretendia terminar Dragon Ball.
A PROVÁVEL INSPIRAÇÃO DE FUYUTO TAKEDA NA CRIAÇÃO DE MAJIN BOO
Quando Torishima estava no comando, ele viajava para Nagoya cerca de uma vez por mês. Kondo, por outro lado, visitava apenas algumas vezes por ano, indo diretamente para a casa de Toriyama. Takeda lembra que visitava Toriyama a cada dois ou três meses e que Toriyama frequentemente dizia a ele: “Você não precisa vir, é sério!”
Takeda explica que sempre sentiu que era importante falar com Toriyama cara a cara. Como cortesia, ele levava biscoitos ou doces como presentes, que a esposa de Toriyama servia durante seus encontros. No entanto, Toriyama raramente os comia, então Takeda sempre acabava comendo-os. Em tom de brincadeira, ele diz que talvez tenha sido de situações como essa que nasceu a ideia para o personagem Majin Boo, aquele que transforma pessoas em doces e as come.
A INESPERADA ALTERAÇÃO DO EDITOR BONZINHO
Takeda diz que sempre tentou intervir o mínimo possível, mas houve uma cena com Majin Boo onde ele sentiu a necessidade de intervir. Na versão original, depois que um humano atira em um cão, Boo simplesmente comenta com indiferença: “Mas que humano estúpido…” Takeda apontou que uma reação tão fria não era crível e sugeriu que, em vez disso, Majin Boo deveria ficar furioso. Isso levou a uma versão mais intensa e dramática da cena, onde Boo abraça o cachorro, canta e demonstra fortes emoções. Toriyama tendia a evitar desenhar momentos excessivamente emocionais e preferia mostrar somente as consequências (como a morte de Kuririn no Torneio de Artes Marciais), em vez de mergulhar no drama em si.
AS DIFERENÇAS ENTRE O MANGÁ E O ANIME
Toriyama tendia a evitar mostrar momentos muito específicos, como o treinamento na Sala do Tempo, especialmente quando não tinha certeza de como retratá-los. No entanto, isso realmente funcionou a favor da equipe do anime. Durante as reuniões com a Toei Animation, pessoas como Takao Koyama se referiam àquela sala como um “Bônus”, já que a falta de detalhes no mangá deu a eles total liberdade criativa para preencher o conteúdo e estender a história. O mesmo se aplicava ao Caminho da Serpente.
Torishima lembra que, inicialmente, confiou a adaptação do anime a Kozo Morishita e Takao Koyama, antes de Kondo eventualmente assumir o controle. No entanto, Kondo teve que lidar com a questão do anime estar alcançando o mangá. Para ganhar tempo, ele foi forçado a expandir muitas cenas (como a cena da Genki-Dama contra o Freeza). Até mesmo as ilustrações avulsas, como a que mostra Goku e Piccolo na autoescola, foram transformadas em episódios inteiros no anime.
A ABORDAGEM DOS FILMES DE DRAGON BALL
Quando filmes baseados em séries como Dragon Ball são feitos, eles normalmente são ambientados em espaços narrativos “vazios” entre arcos de história, para evitar que os eventos do filme interfiram na trama principal. Isso se aplica tanto às séries de TV quanto aos filmes: as histórias devem ser originais, mas sem qualquer impacto duradouro na obra original.
Kondo diz que trabalhou em cinco ou seis filmes, e o personagem que mais se aproximou da história principal que ele foi permitido criar foi Coola, imaginado como o irmão mais velho de Freeza. Como não poderiam usar o Freeza, que ainda estava ativo no mangá, pediram a Toriyama algo que lembrasse ele. Ele concordou e criou Coola. Quando perguntado sobre a origem do nome, Toriyama simplesmente respondeu: “Cooler”, implicando que era uma brincadeira com o tema geladeira. Quando estava sem inspiração, Toriyama tendia a criar nomes baseados em associações de palavras soltas.
A INDIFERENÇA DE TORIYAMA COM SEUS ORIGINAIS
Depois que Toriyama terminava uma página, ele tendia a não dar mais importância a ela. Torishima se lembra de ficar chocado quando viu pilhas de desenhos originais empilhados do lado de fora no estacionamento, tanto que os levou com ele para guardá-los. Takeda adiciona uma história semelhante: depois que Toriyama se mudou para sua nova casa, ele o viu lavando seu carro Mark II na garagem, com várias caixas por perto. Quando perguntou o que tinha dentro, Toriyama casualmente respondeu: “São as páginas originais”. A água estava se aproximando, e Takeda ficou abismado com sua total indiferença.
Para ilustrar ainda mais seu desapego, Takeda lembra que quando a série terminou, Toriyama o agradeceu dizendo: “Takeda-san, obrigado por tudo. Se você quiser, fique à vontade para levar algumas páginas originais”. Toriyama, de fato, não mostrava nenhum apego nem às páginas terminadas e nem aos mangás de outras pessoas.
A CRIAÇÃO DE DRAGON BALL GT
Takeda lembra que, durante a fase final de Dragon Ball, ele informava a empresa que a série poderia terminar em um certo número de capítulos, mas que também poderia durar mais. Isso criou incerteza, mas como era Dragon Ball, ele recebeu uma flexibilidade que outros títulos não possuíam. No entanto, a falta de um ponto final claro tornou difícil planejar o que viria a seguir, e quando ficou claro que a série estava realmente terminando, a preocupação se espalhou por todo lugar, de departamentos editoriais a emissoras de TV.
Takeda se lembra especificamente de uma festa do Prêmio Tezuka ou Akatsuka onde Kenji Shimizu (agora presidente da Fuji TV) disse a ele insistentemente que: “Dragon Ball não pode acabar. Simplesmente não pode!”. Após uma longa discussão, essa pressão levou ao nascimento de Dragon Ball GT. Mesmo que sempre houvesse um atraso de tempo entre o mangá e o anime, eles ainda tiveram que se preparar com antecedência para o que se seguiria. Então, quando a Toei perguntou como continuar a série, a resposta se tornou: GT, que significa “Gran Turismo”.
Embora, com o tempo, tenha se espalhado um rumor de que GT significava “Gomen ne, Toriyama-sensei” (“Nos desculpe, mestre Toriyama”), isso é apenas uma lenda urbana. Em resumo, o próprio Toriyama disse: “Faremos uma história sobre viagem espacial no estilo Gran Turismo, e vamos chamá-la de ‘GT'”.
O FIM DE UMA LONGA ERA
Torishima explica que, durante o tempo de Takeda, a abordagem de dar a Toriyama muita liberdade criativa na escrita ainda estava sendo mantida. Mesmo que os resultados não fossem sempre perfeitos, tudo ainda seria encerrado de uma forma satisfatória. No entanto, quando Toriyama parou de desenhar mangá e mudou para escrever roteiros, ele começou a inserir elementos desnecessários porque ninguém estava mais verificando seu trabalho. Como um mangaká, ele tinha a capacidade de cortar o excesso e refinar suas ideias através de arranjos, um talento que perdeu quando fez a transição somente para a escrita.
Takeda adiciona que, depois que Dragon Ball terminou, Toriyama frequentemente dizia, talvez meio de brincadeira, que não queria mais trabalhar. Ele também se lembra de uma coluna chamada “Mangakás Esquecidos”, na qual o nome de Toriyama aparecia. Quando o contou sobre isso, Toriyama respondeu com um pequeno gesto de triunfo. Foi quando Takeda percebeu que, mesmo que não tenha dito isso abertamente, Toriyama queria genuinamente se distanciar daquele mundo.
Kondo, no entanto, responde que Toriyama sentia profundo respeito e gratidão por aqueles que contribuíram para o sucesso de Dragon Ball, pessoas como Masako Nozawa e a equipe de anime e merchandising. É por isso que ele sempre aceitava novas propostas, nunca conseguindo dizer “não”. Kondo está convencido de que novos animes vão continuar a surgir, e que algum dia a franquia pode até ser reiniciada inteiramente, com o que ele chama de “O Verdadeiro Novo Dragon Ball”. Torishima conclui observando que dinâmicas semelhantes já podem ser vistas nas séries atualmente publicadas na Jump.
A FASE “PÓS DRAGON BALL”
Takeda compartilha sua opinião pessoal, formada a partir da observação de Toriyama ao longo dos anos: ele acredita que quando Toriyama se convenceu de que nunca poderia criar nada maior do que Dragon Ball, ele voluntariamente parou de propor novos projetos. A partir daquele ponto, toda nova iniciativa relacionada à série foi recebida com um passivo “Vá em frente, faça como quiser!”, sem entusiasmo ou envolvimento direto (eles não viram o DAIMA). De acordo com Takeda, Toriyama queria que outros levassem as coisas adiante por conta própria, sem esperar qualquer contribuição criativa dele.
Torishima reflete sobre essa situação com sentimentos conflituosos, pois foi ele quem primeiro reconheceu o potencial de Toriyama e ajudou a construir o enorme ecossistema econômico em torno de Dragon Ball. Mas, no fundo, ele ainda esperava que Toriyama criasse algo novo. Ele se lembra de ficar chocado quando sugeriu que Toriyama desenhasse um novo mangá, e Toriyama respondeu que sempre que tentava desenhar quadros, começava a espirrar incontrolavelmente. Em outra ocasião, ele afirma que não poderia mais trabalhar porque tinha perdido a ponta especial da caneta que usava para desenhar. Foi quando Torishima percebeu que não havia mais nada a ser feito.
No entanto, houve um breve período em que Toriyama, movido por sua curiosidade por novas tecnologias, ficou fascinado pelos computadores da Apple. Ele começou a experimentar retículas digitais para mangás e, tomado pela emoção, desenhou simplesmente pelo prazer de usar a nova ferramenta.
COMO OS MANGÁS DEVEM SER CRIADOS?
Os antigos editores enfatizam o quão intenso e exaustivo é o trabalho diário de criar mangá, especialmente sob a constante pressão de prazos. Agora que não fazem mais parte deste sistema, eles declararam firmemente que os executivos que não entendem realmente o peso deste trabalho devem se afastar. Na opinião deles, o verdadeiro valor não está nos prédios ou números, mas na dedicação diária dos editores e das pessoas que realmente criam as obras.
Eles lembraram com emoção os momentos compartilhados com Toriyama: a espera semanal pelas páginas enviadas por fax, a emoção de ler cada novo capítulo, já familiar, mas sempre cheio de surpresas. Foi uma experiência preciosa que não existe mais hoje. Naquela época, as pessoas folheavam a revista com atenção, verificando cada detalhe, cada quadro, cada linha de diálogo. Esse nível de cuidado e atenção parece ter desaparecido. Dizem que criar uma obra é um processo exaustivo, “confuso” e primitivo, mas a emoção sentida ao vê-la concluída e testemunhar seu impacto nos leitores não tem preço.
Para finalizar, eles lembraram de um ditado bem conhecido: “Um trabalho de sucesso só nasce quando todos os envolvidos, dos principais executivos aos funcionários mais jovens, o vivem e respiram, dia e noite. Se apenas uma pessoa pensar ‘esse não é o meu trabalho’, esse sucesso nunca virá.” Uma reflexão, dizem eles, que deve estar no centro de como a publicação é verdadeiramente gerenciada.
A MORTE DE UMA LENDA
Torishima soube da morte de Toriyama um dia antes do anúncio oficial. Kondo compartilha que ouviu sobre a doença dois anos antes, depois que Torishima mencionou isso para ele durante um jantar de verão. Mesmo assim, a notícia do falecimento de Toriyama o atingiu duramente. Takeda, por outro lado, apesar de ver Torishima todo mês para jogar golfe, não sabia de nada até o anúncio público. De brincadeira, comentou que Torishima deve ser muito bom em guardar segredos, já que foi uma total surpresa pra ele.
O DESCASO DA SHUEISHA
Os editores de longa data de Toriyama expressaram críticas severas à Shueisha, acreditando que a comunicação sobre seu falecimento foi muito espaçosa e impessoal. Além disso, após a morte do autor, nenhum evento memorial oficial foi realizado. Uma decisão que poderia se alinhar com sua natureza reservada, mas na opinião deles, ainda houve a falta de uma mensagem adequada da equipe editorial da Jump, bem como um reconhecimento público da enorme contribuição de Toriyama, de Dr. Slump a Dragon Ball.
Eles enfatizam que até um gesto simbólico teria sido suficiente, por exemplo, exibir a imagem icônica de Goku acenando um adeus na fachada do prédio da Jump ou criar um espaço comemorativo onde os fãs poderiam deixar mensagens. Em outros países, homenagens públicas como murais e celebrações foram – ou estão sendo – organizadas e eles questionam por que uma homenagem semelhante não foi feita para alguém tão central na história do mangá. Há preocupação de que essa atitude possa continuar no futuro com outros criadores. Se nem mesmo Toriyama recebeu uma homenagem mais significativa, o que acontecerá com os mangakás das próximas gerações?