Deliver At All Costs – Análise

Deliver At All Costs é uma aventura insana que homenageia o estilo dos primeiros GTA, ambientada nos anos 50, trazendo uma experiência que diverte mais até do que The Precinct. Desenvolvido pelo estúdio sueco Far Out Games e publicado pela Konami, o título coloca o jogador no papel de Winston Green, um jovem cientista que chega à fictícia ilha de St. Monique em 1959 buscando recomeçar sua vida. O jogo se destaca por seu mundo aberto isométrico que remete aos GTA originais, porém com uma abordagem única e recheada de humor absurdo, caos veicular e alta destruição ambiental.

A ambientação é um dos pontos fortes, com referências marcantes à estética americana dos anos 50, desde o design dos veículos e personagens até a trilha sonora que mistura rockabilly, jazz e rock sessentista, criando uma atmosfera envolvente que remete à época. A ilha de St. Monique é apenas o primeiro dos três mapas distintos que o jogador poderá explorar ao longo da trama, cada um com características urbanas, rurais ou até invernais, oferecendo diversidade visual e de gameplay. A narrativa acompanha a contratação de Winston em empresa de entregas comandada por Harald e seu filho Donovan, que escondem segredos e conspirações que se desenrolam ao longo dos três atos da história. Inclui toques de sátira política e até espionagem ao estilo noir, com direito a traições, agentes misteriosos e dilemas morais.

No núcleo da jogabilidade está o ato de entregar encomendas cada vez mais inusitadas e complexas, sempre “a todo custo”, como indica o título. O jogador passa a maior parte do tempo dirigindo uma caminhonete em missões que vão desde transportar um peixe-espada vivo, que balança o veículo, até distribuir melões que precisam ser limpos e repintados para enganar o cliente. Outras entregas envolvem bombas ativas, caminhões possuídos e até vazamentos de napalm, situações que beiram o surreal e lembram desenhos animados de sábado de manhã. Cada entrega é um desafio único, com mecânicas que variam desde a física dos objetos, o uso de acessórios instaláveis no veículo como braços mecânicos e guinchos até interações fora do carro, como resolver puzzles simples, realizar plataformas básicas, evitar NPCs hostis e explorar os mapas em busca de colecionáveis ou caixas de dinheiro.

Apesar da liberdade, o jogo mantém uma linha linear de missões que são ativadas pela rádio do carro, guiando o jogador por um roteiro fixo. A ausência de GPS ou marcações no mapa é substituída por setas discretas no asfalto, uma solução elegante que respeita a ambientação dos anos 50 e evita poluir a tela. Mas pode frustrar quem tenta realizar missões secundárias com tempo limitado, já que não há como marcar manualmente rotas alternativas. O controle do veículo é satisfatório, com opções para adaptar o modo de direção conforme o gosto do jogador, e a interação direta com o ambiente adiciona variedade ao gameplay. Ainda assim, a condução destrutiva é a estrela principal da experiência. O mundo é amplamente destrutível, o que chega a impressionar e até frustrar nos poucos trechos onde isso não é possível. Além disso, graças a destruição quase plena dos elementos do jogo, é possível criar atalhos improvisados arrebentando paredes, cercas ou estruturas, o que só atrai a polícia em casos extremos de dano proposital.

Tecnicamente, Deliver At All Costs apresenta um estilo gráfico modesto, que lembra títulos de gerações passadas, com texturas planas e personagens que, especialmente nas cutscenes, exibem modelos pouco detalhados e expressões limitadas. Isso destoa do restante do visual mais polido dos ambientes e veículos. A câmera isométrica rotativa é funcional, mas limitada a apenas dois ângulos de 90 graus, o que prejudica a visibilidade em trechos mais complexos. O mundo aberto é dividido em zonas interligadas por estradas. No entanto, a presença constante de telas de carregamento ao transitar entre essas áreas quebra demais o ritmo e é talvez o maior defeito do jogo. Isso é incomum para os padrões das atuais gerações de consoles, embora esses tempos de carga sejam relativamente curtos. Problemas técnicos menores, como bugs ocasionais na colisão, travamentos e falhas no posicionamento dos veículos, aparecem esporadicamente, mas podem ser contornados com o sistema de reaparecimento do jogo.

A história, que começa leve e divertida, aos poucos mergulha em uma trama de conspiração e intrigas envolvendo a fictícia agência CEA (uma sátira da CIA). Apresenta um ritmo irregular, com personagens que nem sempre convencem e diálogos que oscilam entre o humor nonsense e momentos dramáticos. Ainda assim, há um charme palpável nos textos e na ambientação, que evocam tanto os filmes noir quanto a estética pulp dos anos 50. Embora a narrativa não seja seu ponto mais forte, ela funciona como pano de fundo para as missões de entrega que mantêm o jogador entretido e curioso para entender o passado de Winston.

Deliver At All Costs é acessível em termos de dificuldade, com checkpoints que impedem que fracassos punam excessivamente o jogador, permitindo a repetição de missões para melhorar o desempenho. As missões secundárias oferecem variações interessantes, como resgatar amigos perdidos ou dirigir até vulcões ativos. Porém, algumas são prejudicadas por falta de indicações claras no mapa, frustrando bastante a exploração e sendo, talvez, o segundo maior defeito do jogo. Dominar os mapas é, portanto, quase uma exigência para quem quiser aproveitar tudo que o jogo oferece.

Com uma duração estimada entre 12 a 14 horas para a campanha principal, que pode se estender consideravelmente com a busca por todos os colecionáveis, o jogo oferece é bastante divertido, principalmente para quem busca uma aventura de mundo aberto com bastante personalidade, quebradeira e uma pitada de caos cômico. Está disponível nas plataformas PS5, PC e Xbox Series X|S junto a uma edição Deluxe que inclui a trilha sonora original.

Deliver At All Costs é uma experiência divertida e cheia de personalidade. Apesar de suas imperfeições técnicas e narrativas, loadings injustificáveis para a atual geração, e um sistema de mapa ruim, ele entrega uma fórmula viciante e caótica de condução, destruição e entregas absurdas. Para quem curte o estilo dos GTA clássicos, mas quer algo com mais humor mais maluco, destruição ambiental e charme retrô, este é um título que merece atenção, especialmente pelo ótimo custo-benefício e pelas situações memoráveis que só ele oferece.

Nota 9,0

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