Elden Ring: Nightreign – Análise

Elden Ring: Nightreign e a Reinvenção do Soulslike com DNA Multiplayer

Desde o seu anúncio, Elden Ring: Nightreign carrega o peso do nome de um dos jogos mais aclamados da década, se não o mais importante. Lançado pela Bandai Namco para PC, PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series X|S, a associação direta ao universo Soulsborne e, mais especificamente, ao sucesso estrondoso de Elden Ring gerou imediatamente uma expectativa alta entre fãs e crítica. No entanto, o que se revelou com a chegada desse novo título é uma proposta radicalmente distinta, que divide opiniões e se distancia, em muitos aspectos, da experiência single-player meticulosa da FromSoftware. Apesar das críticas pontuais e preocupações legítimas levantadas por parte da comunidade, Nightreign oferece uma abordagem ousada e, para alguns, promissora ao incorporar mecânicas roguelite, co-op intenso e uma cadência de jogo mais ágil e casual.  O resultado é um retrato equilibrado de um título ambicioso que pode não agradar a todos, mas que acerta em pontos-chave de inovação.

Diferentemente de seu antecessor, Nightreign não é um RPG de mundo aberto com foco em narrativa, exploração livre e progressão individualizada. Ele é, antes de tudo, um roguelite cooperativo. A estrutura central do jogo é baseada em runs de cerca de 50 minutos, em que três jogadores (ou apenas um, em modo solo) enfrentam hordas de inimigos, chefes intermediários e um chefe final ao fim do ciclo. A cada morte do grupo, a progressão se reseta. Ainda que alguns elementos persistam entre partidas, como runas passivas e melhorias compradas com moedas específicas, o cerne é o reinício constante e a reinterpretação das mecânicas Souls em um contexto mais arcade.

Nightreign se estrutura em torno de “Expedições”, missões com ciclos de três dias in-game. Durante os dois primeiros, os jogadores exploram Limveld livremente, coletando armas, runas e itens cruciais. À noite, enfrentam chefes obrigatórios em arenas delimitadas pela “Maré da Noite”, um fenômeno que contrai a área segura do mapa com uma urgência semelhante aos vistos em um battle royale. No terceiro dia, o grupo encara um Avatar do Lorde da Noite, fechando a expedição com recompensas permanentes.

Essa mudança não é apenas cosmética. A estrutura da campanha, agora contida em três dias e três noites de ação, exige planejamento estratégico do grupo, divisão de tarefas, e entendimento de como aproveitar o mapa procedural para farmar recursos de maneira eficiente. Esse mapa, Limveld, uma região no Reinado Noturno de Elden Ring, recicla com inteligência visuais e inimigos de Elden Ring, oferecendo familiaridade aos fãs, mas reformulando o propósito e a função de cada ambiente.

É aqui que Nightreign brilha em sua proposta cooperativa: o jogo foi claramente pensado para ser jogado com amigos. O ritmo acelerado, os eventos sincronizados (como o fechamento do mapa) e a importância da comunicação para troca de itens e formação de builds otimizadas criam momentos orgânicos de tensão e coordenação tática. Para muitos jogadores, esse aspecto colaborativo é o que há de mais divertido e recompensador em Nightreign. Mas não para todos.

Elden Ring: Nightreign - Análise

Nightreign oferece inicialmente seis personagens jogáveis.

Cada personagem jogável, ou “Nightfarer”, tem seu próprio estilo de combate, curva de aprendizado e afinidade com armamentos específicos. Wylder, por exemplo, é um combatente corpo a corpo que combina força bruta com mobilidade graças à sua habilidade “Claw Shot”. Já Ironeye é um especialista em combate à distância com a notável capacidade de marcar inimigos e perfurá-los com flechas que ignoram qualquer tipo de defesa.

Com nove personagens jogáveis (sendo dois desbloqueáveis), o jogo oferece uma diversidade tática rara, expandida ainda mais pelas “Relíquias” e “Ritos”: modificadores permanentes que permitem customizar builds profundamente e até alterar completamente o estilo de jogo de um personagem. Um guerreiro pode se beneficiar mais de runas vermelhas, ligadas a atributos físicos. Conforme o jogador realiza runs, mais personagens e habilidades são desbloqueados, oferecendo um bom leque de customização, dentro dos limites da estrutura roguelite. Além disso, cada Nightfarer possui missões narrativas únicas, oferecendo uma camada de lore pessoal que amplia o envolvimento do jogador com cada um deles.

O sistema de equipamentos também foi reformulado para priorizar agilidade e decisões rápidas. O inventário é simplificado e pode ser confuso até para os jogadores do título anterior e sua pomposa DLC: armas, amuletos e consumíveis são as três categorias principais. As armas possuem habilidades passivas que se ativam apenas por estarem no inventário, incentivando o acúmulo e a experimentação de builds alternativas. Isso permite, por exemplo, que um mago carregue espadas que amplificam seu dano mágico, mesmo sem usá-las ativamente.

Já a progressão de nível é automatizada. O jogador não distribui pontos manualmente; ao atingir pontos de evolução suficientes, sobe-se de nível de acordo com a classe escolhida, numa tentativa de acelerar o gameplay e evitar microgestão de builds. Essa decisão divide opiniões, mas está coerente com o estilo de jogo mais dinâmico de Nightreign.

Elden Ring: Nightreign - Análise

Em combate, Nightreign mantém a essência Soulslike: esquivas com i-frames, barras de stamina, golpes pesados e ataques mágicos. A principal diferença está na velocidade, onde os personagens se movem de forma muito mais ágil do que em Elden Ring, e o design do combate é mais permissivo, quase que um sistema esperado em um arcade. Itens como escudos e cajados ainda têm seu papel, mas a ênfase está na mobilidade e no ataque rápido.

A ausência do corcel espectral Torrent foi substituída por um sistema de corrida e pulo aprimorado. Saltos duplos e a habilidade de escalar montanhas tornam a exploração mais fluida e adaptada ao ritmo de urgência do mapa que encolhe com o tempo. Esses elementos trazem um dinamismo incomum à franquia Souls e foram bem recebidos como uma boa adaptação às necessidades do novo formato.

O design dos bosses também merece elogios. Apesar de muitos inimigos serem reciclados de outros títulos da FromSoftware, os chefes principais apresentam boas variações de padrão de ataque e exigem coordenação em grupo para serem vencidos. O sistema de fraquezas elementais, revelado antes do início da partida, incentiva o planejamento e a caça por armas com afinidades específicas durante a exploração.

Embora jogável solo, Nightreign foi claramente desenhado para o modo cooperativo entre três jogadores. O sistema de “Quase Morte”, por exemplo, cria oportunidades tensas onde aliados devem ressuscitar uns aos outros com ataques diretos antes que o cronômetro da morte expire, e cada nova queda torna esse processo mais lento e arriscado.

Apesar das boas ideias, o jogo sofre com problemas de ritmo e recompensa. As runs de 50 minutos frequentemente incluem longos períodos de tarefas repetitivas de coleta de XP e enfrentamento de inimigos menores que pouco acrescentam à experiência. Ao contrário de Elden Ring, que recompensa exploração com lore, segredos e melhorias substanciais, Nightreign entrega “migalhas”, tornando a aventura um tanto hercúlea se for jogada principalmente no modo solo.

As runas recebidas ao fim das partidas são aleatórias e, muitas vezes, incompatíveis com a build do jogador. O sistema de “cassino”, que permite trocar moedas por novas runas com efeitos aleatórios, também pode ser frustrante, prolongando artificialmente a progressão. A falta de um sistema de compensação após várias derrotas e de checkpoint entre os bosses pode cansar jogadores, especialmente os menos pacientes.

Ainda assim, para aqueles dispostos a repetir runs, existe uma curva de aprendizado e desbloqueio que leva a builds mais eficientes. A customização limitada pelas cores das runas e o desbloqueio de novos slots são incentivos legítimos para o grind, mas exigem um comprometimento que nem todos os jogadores estarão dispostos a fazer.

Elden Ring: Nightreign - Análise

Um dos pontos mais discutidos é a identidade de Nightreign. Ele é um spin-off, um modo multiplayer expandido, ou uma tentativa de transformar o Soulslike em um serviço contínuo, com DLCs e matchmaking? Essa ambiguidade pesa sobre a recepção do jogo. Para alguns, o título parece uma DLC expandida de Elden Ring, com cara de projeto experimental, mas vendida como um jogo completo. Para outros, representa um corajoso primeiro passo da FromSoftware no território multiplayer cooperativo de forma mais estruturada.

O fato de não haver crossplay no lançamento, ou seja, jogadores de PlayStation, Xbox e PC não podem jogar entre si, é uma limitação grave para os dias de hoje, principalmente considerando o foco cooperativo tão exigido para este jogo. A ausência de servidores dedicados e o sistema de matchmaking também afetam a experiência geral.

Elden Ring: Nightreign - Análise

Elden Ring: Nightreign está muito longe de ser um jogo ruim, mas tampouco é uma continuação espiritual de Elden Ring. Ele é uma proposta distinta, muito boa por sinal, construída sobre mecânicas reconhecíveis, mas adaptadas a uma lógica de gameplay rápida, cooperativa e procedural. Seu maior mérito está na reinvenção do formato Soulslike (ou melhor, um roguelite com skin soulsbourne) para o multiplayer moderno, ainda que com concessões que afastem os puristas.

Para quem busca jogatinas com amigos, combates intensos e uma estrutura de progressão baseada em tentativa e erro, Nightreign tem momentos genuinamente divertidos. Para fãs hardcore de Elden Ring, no entanto, o título pode soar como uma diluição da fórmula original, e talvez a ausência de uma campanha profunda, lore densa ou exploração orgânica seja um empecilho intransponível e dispensável. O único desconforto considerável com Nightreign está em uma jornada solitária. Definitivamente ele não foi construído com esse objetivo, diante de sua dificuldade desproporcional, onde o maior inimigo é o tempo.

Por ora, Nightreign é um experimento curioso que encontra sucesso ao propor algo novo. Com atualizações futuras, melhoria no sistema de recompensas, crossplay e mais conteúdo, pode vir a conquistar todos os públicos, até os que nem se interessam pelo gênero que elevou a FromSoftware a uma das mais respeitadas desenvolvedoras da indústria. Mas até lá, a recomendação é clara: entre com as expectativas ajustadas e, de preferência, com dois bons amigos ao lado. A diversão é absoluta.

Nota: 9,6

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