Japan EXPO Paris 2025 (05 de julho de 2025)
ENTREVISTA COM TOYOTARO
Toyotaro, autor do mangá Dragon Ball Super, foi um dos convidados especiais da edição de 2025 da Japan Expo, que aconteceu do dia 3 a 6 de julho na França, no Centro de Exposições Paris-Nord Villepinte.
Ao lado de outros grandes nomes da franquia Dragon Ball, como Kazuhiko Torishima, o primeiro editor de Akira Toriyama, e Katsuyoshi Nakatsuri, animador da série animada Dragon Ball, Toyotaro viajou à França para encontrar fãs e ministrar palestras e sessões de autógrafos, mas também concedeu entrevistas à imprensa.
A rádio France Inter pôde fazer algumas perguntas a Toyotaro, nas quais ele fala sobre sua admiração por Akira Toriyama e o que ele conseguiu trazer para ele, sobre seu trabalho, seus hábitos, seu relacionamento com os fãs, ou até mesmo o arco narrativo no qual ele mais teve prazer em trabalhar.
Um ano após a morte de Akira Toriyama, que imagem você tem dele hoje?
Ele era realmente uma pessoa muito gentil, incrivelmente tolerante, um pouco como um velho sábio. Ele tinha um coração. Assim que tinha algo em mente, se tornava intransigente em relação a isso. Uma pessoa muito gentil e, ao mesmo tempo, havia esse rigor que eu sentia porque tinha medo de decepcioná-lo. Ele me ensinou a arte do mangá diretamente. As técnicas que ele me passou, que me ensinou diretamente, é um legado que eu devo proteger. Devo tomá-la em minhas mãos.
Você é o sucessor escolhido por ele. Sente alguma pressão em particular, especialmente dada a popularidade de Dragon Ball?
Não me vejo como seu sucessor, seu herdeiro, mas como um membro da equipe que tenta continuar a divulgar as obras de Akira Toriyama para o mundo. Não acho que preciso assumir tudo. Nesse sentido, obviamente tenho uma responsabilidade, mas essa responsabilidade é compartilhada e não estou sozinho. Há toda a produção. Todos os fãs. É realmente uma obra que foi criada por muitas pessoas.
Mas “sucessor” é uma palavra um tanto forte. Essa responsabilidade não é só minha. É realmente um esforço de equipe. Quando Toriyama-sensei faleceu, sentimos que precisávamos proteger ainda mais esse legado.
O fato de você ser fã de Dragon Ball desde a infância muda alguma coisa na maneira como você cria?
Eu adoro Dragon Ball, adoro quase demais. Há leitores que não estão muito familiarizados com a obra, e às vezes eu acrescento detalhes muito específicos, de nicho. Às vezes, tento evitar esses coisas um tanto nichadas, como, por exemplo, apenas em um pequeno quadro. Para os fãs, pode ser interessante, mas ainda é muito limitado. E se eu repetir esse tipo de experiência com muita frequência, os fãs “leves”, por assim dizer, correm o risco de ficar um pouco “entediados”.
Precisamente, qual é sua relação com os fãs de mangá?
Da minha perspectiva, vejo-os como parceiros com quem vamos co-criar esta obra. É um mangá que existe unicamente porque os fãs existem. Quero criar algo que todos gostem. Não quero criar algo sozinho e apenas impor a minha visão da obra.
O que te inspira quando desenha?
Akira Toriyama. Mas, no fim das contas, seria uma cópia pálida se eu me inspirasse apenas nele. Tem também cinema e outros mangás. Tento me inspirar nisso e me atualizar regularmente. Há também os filmes da Pixar e da Marvel, e eu também sou um grande fã de Star Wars. No fim das contas, às vezes percebo que fui influenciado por Star Wars, sem ter consciência disso na época. Mas há uma certa conexão. Akira Toriyama também era fã de Star Wars.
Ser um artista de mangá dá muito trabalho. Quanto tempo você dedica ao desenho diariamente?
Enquanto eu publicava a série, além de dormir, comer e tomar banho, todo o resto era dedicado ao mangá. Quando o prazo final se aproxima, na última semana, passamos a dormir apenas três ou quatro horas.
Conte-nos, como você trabalha?
No começo, as ideias vêm. Depois, quando tudo está decidido, quando começo a desenhar, ligo a televisão e coloco música. Preciso de um pouco de barulho, senão tenho dificuldade para me motivar. Quando tem letra, me deixo levar. Caso contrário, ouço a trilha sonora de um filme, como Star Wars ou cinema japonês, num ritmo acelerado.
Você tem tempo para ler mangá?
Acho que é preciso continuar lendo mangá, então arranjo um tempo para isso. Ler mangá faz parte do meu trabalho, e não é algo que eu consiga fazer enquanto estou realmente relaxando.
Indo agora para Dragon Ball, qual foi seu arco de história favorito de desenhar?
O do Trunks, eu me diverti muito escrevendo este arco. Ele é um personagem muito próximo do que eu queria criar. Os filmes americanos que eu assistia quando era jovem, aquele universo, eram algo de que eu realmente gostava, então eu sabia que tinha essa ambição e esse desejo de poder desenhar aquilo. Conseguir fazer isso acontecer foi muito bom para mim.
Você quase sempre desenhou Dragon Ball. Arrepende-se de não ter conseguido impor mais seu estilo?
Gosto muito de Dragon Ball. Eu queria escrever para Dragon Ball, e foi por isso que me tornei um mangaká. Não me arrependo de onde minha carreira está agora. Me tornei um mangaká porque queria desenhar Dragon Ball. Então, estou feliz.
Então você não sente que falta algo?
Talvez desenhar storyboards originais me ajude a crescer como mangaká. E mesmo quando eu retornar às histórias de Dragon Ball, talvez isso me permita adotar novas abordagens. Ainda tenho a motivação e a ambição de poder abordar o tema de diferentes ângulos e, quem sabe, ter um novo desenvolvimento na minha carreira e nas minhas habilidades.
Entrevista realizada por Victor Vasseur para o France Inter.