Entrevista do canal ANIME MIND PROBE com Torishima, Toyotaro e Nakatsuru na Japan Expo 2025

Entrevista com Torishima, Toyotaro e Nakatsuru na Japan Expo 2025

Alguns meses após este evento que aconteceu na França entre os dias 3 e 6 de julho, no dia 26 de setembro de 2025, o canal ANIME MIND PROBE soltou uma entrevista em vídeo com estas três grandes figuras ligadas à franquia Dragon Ball na Japan Expo.

Segue abaixo o link para o vídeo original e a minha tradução em pt-br:

Torishima: Sou Kazuhiko Torishima, editor de mangá. Descobri Akira Toriyama e fizemos Dr. Slump e Dragon Ball juntos. Trabalhamos juntos por 13 anos.

Toyotaro: Eu sou Toyotaro, um mangaká. Eu desenho Dragon Ball Super na revista V-Jump.

Nakatsuru: Sou Katsuyoshi Nakatsuru, um animador. Sou o designer de personagens e diretor de animação de Dragon Ball DAIMA.

 

CAPÍTULO 1: CONHECENDO AKIRA TORIYAMA

Torishima: Conheci Akira Toriyama quando ele me enviou um mangá que havia criado para ganhar um prêmio em dinheiro. Vi e notei seu talento, então liguei para ele. Foi assim que nos tornamos uma dupla: mangaká e editor.

Como ele era naquela época?

Torishima: Ah, o mesmo de sempre! Um pouco brincalhão, com um talento para o humor negro e uma curiosidade insaciável. É como se ele tivesse se tornado adulto, mas continuasse criança ao mesmo tempo. Fiz Dragon Ball em parceria com Toriyama. Ele queria terminar seu trabalho anterior, Dr. Slump, então começou a desenhar Dragon Ball. Naquela época, nenhum de nós imaginava que se tornaria uma obra tão querida.

Toyotaro: Eu era um grande fã de Dragon Ball, então, naturalmente, quis desenhar um mangá de Dragon Ball. Trouxe uma história original de Dragon Ball com um novo protagonista para a Shueisha. E eles serializaram meu mangá.

Então, 10 anos atrás, quando decidiram fazer o anime de Dragon Ball Super, me confiaram a versão em mangá. Antes do Super, desenhei por 2 anos um mangá de Dragon Ball com um protagonista que era um avatar de jogo. De certa forma, esse foi meu período de treinamento como mangaká. Quando passei para o mangá serializado do Super… os prazos apertados impossibilitaram a prática do desenho.

Eu fiz o mangá baseado no filme Dragon Ball Z: O Renascimento de Freeza. Foi a primeira vez que me comuniquei com Toriyama-sensei. Foi assim que nossa conexão começou.

Torishima: Sobre o que vocês conversaram?

Toyotaro: Antes de nos conhecermos, eu lhe enviava rascunhos e ideias para o mangá de O Renascimento de Freeza. E ele me dava sua avaliação.

Torishima: Você deve ter suado frio!

Toyotaro: Sim, ele soube da minha existência pela primeira vez, então foi estressante!

Torishima: Ele foi rigoroso?

Toyotaro: Na verdade, não, e fiquei aliviado com isso.

Torishima: Ele podia ser bem duro com as pessoas!

Toyotaro: Ele foi muito gentil comigo. Deve ter havido muitas coisas que o incomodaram. Mas ele estava sempre disposto a colaborar.

Nakatsuru: Sou animador há cerca de 40 anos. Mais da metade da minha carreira foi dedicada às obras de Toriyama-sensei. Em particular, trabalhei em Dragon Ball. Também tive alguns mangás baseados na obra de Toriyama-sensei, serializados irregularmente na V-Jump. Graças a Dragon Ball, pude mostrar meu trabalho para muitas pessoas. Essa é a minha relação com Toriyama-sensei. Eu estava envolvido em Dragon Ball por meio do trabalho, mas também sou fã, é claro. Fiz o meu melhor para canalizar meu amor por este mundo e seus personagens em meu trabalho durante os muitos anos em que estive envolvido.

Fui animador-chave da série antes de me tornar diretor de animação. Depois, supervisionei a animação de filmes e especiais de TV, o que incluía alguns designs
para personagens originais. E Toriyama-sensei revisava esses designs. Acho que essa foi a nossa primeira interação. Não é como se nos conhecêssemos pessoalmente. Foi o início do nosso relacionamento. Acho que não tive muitas oportunidades de vê-lo ver meu trabalho. Acho que aconteceu quando trabalhei na serialização do mangá Chokin Senshi Cashman. Eu levava ilustrações, manuscritos e outras coisas para ele conferir.

 

CAPÍTULO 2: DRAGON BALL EM ANIMAÇÃO

Nakatsuru: Nosso trabalho era recriar as imagens que Toriyama-sensei desenhava em seu mangá e transformá-las em um filme de animação. Toda a equipe se esforçou para chegar o mais próximo possível de seus desenhos e também da energia de seu trabalho. Foi para isso que todos trabalharam.

Eu realmente sinto que essa era a mentalidade de todos os envolvidos, não apenas minha. Os animadores com quem trabalhei em Dragon Ball por cerca de 10 anos têm, claro, seus estilos pessoais. Mas todos respeitavam Toriyama-sensei e nunca perderam de vista o amor pelo seu trabalho. Toriyama-sensei era excepcionalmente bom em cenas de ação. As cenas eram sempre legais e com um ótimo senso de velocidade. Além disso, ele sempre queria terminar seu trabalho rapidamente. Somado a isso, a energia e o dinamismo de sua arte eram incríveis.

O especial de TV que mais me marcou foi o episódio com Bardock, pai de Goku, e a destruição do planeta dos Saiyajins. Desenhei os rascunhos dos personagens e os enviei para Toriyama-sensei. Ele me devolveu as ilustrações com correções específicas, mostrando como os personagens deveriam ser feitos de forma diferente. Trabalhamos usando essas ilustrações como referência.

Torishima: Eu não estive envolvido no episódio do Bardock. Foi o meu sucessor, Yū Kondō. Normalmente, quando um editor sai, ele não se envolve mais no trabalho. Seria um incômodo para o próximo.

Você poderia nos contar sobre Dragon Ball DAIMA?

Nakatsuru: Acho que, a princípio, a Toei Animation queria fazer algo como uma continuação de Dragon Ball GT. Então, eles abordaram Toriyama-sensei com essa ideia. Desde o início, a ideia era ter um Goku pequeno novamente, embora fosse separado do GT. O Goku pequeno já estava definido como premissa. Toriyama-sensei criou um roteiro mostrando como isso funcionaria na história. Ele também elaborou os personagens com base nesse roteiro. E nós, da Toei Animation, trabalhamos para transformar isso em uma série de TV.

É difícil falar sobre a “herança” do GT aqui. Tudo dependia de como Toriyama-sensei aplicasse sua inspiração. O resultado foi esta história de Goku e seus amigos viajando pelo Reino dos Demônios.

 

CAPÍTULO 3: DRAGON BALL EM MANGÁ

Toyotaro: A ideia da Shueisha para o Super era ter um mangá promocional para gerar expectativa para o anime. Queriam essa sinergia para gerar entusiasmo por Dragon Ball. Eles confiaram o mangá a mim.

CORTE ESTRANHO NO VÍDEO

Você quis dizer o estilo dele na fase final?

Toyotaro: Acho que, nos últimos anos, desenhar se tornou difícil para Toriyama-sensei. Então, ele se baseou no poder do estilo que havia dominado para desenhar páginas impactantes em pouco tempo. Como meu mangá se passaria uns… três anos após o fim de Dragon Ball, achei melhor continuar com esse mesmo estilo, então o imitei.

Mas eu não consigo desenhar assim com a velocidade do Toriyama-sensei. Tive que desenhar com muito cuidado enquanto tentava recriar a mesma atmosfera. Durante a transmissão de Dragon Ball Super, trabalhei com os roteiros originais de Toriyama-sensei até o arco do Torneio do Poder. Eu desenhava com base neles.

Eu mostrava a ele o que tinha desenhado e, quando ele dava sinal verde, eu seguia em frente. Mas depois do arco do Torneio do Poder, escrevi o… arco do Moro… quer dizer, o arco Prisioneiro da Patrulha Galáctica, sozinho. Mostrei o roteiro ao Toriyama-sensei para sua aprovação. Depois disso, comecei a desenhar com base no roteiro que havia escrito. A cada vez, eu mostrava a ele minhas 45 páginas e, uma vez aprovado, seguia em frente.

Torishima: 45 páginas a cada vez?

Toyotaro: Sim, para uma publicação mensal. Para o arco Granola, Toriyama-sensei escreveu parte do enredo. E eu me baseei nele para desenhar o mangá. A abordagem variou a cada série.

Torishima: Que tipo de correções Toriyama fez?

Toyotaro: Às vezes, a maneira como os personagens falavam era estranha ou meus desenhos careciam de tridimensionalidade. Às vezes, ele não fazia nenhuma correção.

Torishima: Você sempre concordou com as correções dele?

Toyotaro: Claro! No mínimo, fiquei feliz em receber as correções dele.

Torishima: Entendi!

Toyotaro: Ele realmente olhava os meus trabalhos!

Torishima: Não ter nenhuma resposta é mais assustador, né?

Toyotaro: Eu ficava preocupado que ele estivesse apenas fazendo vista grossa. Por isso, eu sempre ficava feliz quando ele mandava correções.

Torishima: Não estive envolvido em nada no trabalho entre Toriyama e Toyotaro. Portanto, estou ouvindo tudo isso pela primeira vez.

 

CAPÍTULO 4: A V-JUMP E OS VIDEOGAMES

Torishima: A Shonen Jump só tem obras originais. Na Shueisha, todas as mídias complementares são território da V-Jump.

Era essa a sua intenção quando lançou a revista?

Torishima: Naquela época, mangás, animes e jogos estavam começando a ser considerados sob a mesma perspectiva. A V-Jump foi minha maneira de me preparar para isso. A Shonen Jump é centrada em mangás, então animes e jogos não recebem muita atenção. A V-Jump foi criada para compensar isso.

Eu só fiz isso porque achei interessante. Só que outras pessoas não gostavam de jogos. Eu tinha uma coluna na Shonen Jump chamada “O Punho de Deus do Famicom”. Eu curtia bastante videogames. Aliás, o direcional em cruz inventado pela Nintendo foi incrível. Antes disso, não era possível mover um personagem e fazê-lo parar quando quisesse.

Revistas especializadas como a Family Computer Magazine e a Famicom Tsūshin surgiram. Explicações sobre segredos de jogos estavam em alta e as revistas vendiam bem. Contratavam especialistas para decodificar programas de jogos. Era difícil para uma revista mensal de mangás como a V-Jump competir. Queríamos competir com essas revistas especializadas em jogos. Então, nos concentramos no processo de criação de jogos para despertar a curiosidade das crianças.

Como tínhamos nossa própria leitura exclusiva sobre os jogos, outras revistas não conseguiam acompanhar o ritmo, mesmo após o lançamento do jogo. O gênero RPG funcionou melhor com essa abordagem única. Yūji Horii e eu gostávamos de Wizardry, então fizemos Dragon Quest na Enix. Toriyama cuidou do design dos personagens porque precisávamos colocar o jogo na Jump. As crianças entendem as coisas que são mostradas de um jeito interessante. Wizardry era muito complexo. Precisávamos de algo como uma “mensagem” para que as crianças entendessem. Horii cuidou dessa parte, já que, como escritor, sabia como tocar o coração das crianças.

 

CAPÍTULO 5: LOST SAMURAI, O PRÓXIMO TRABALHO DE TOYOTARO

Toyotaro: Fizemos um evento especial nesta Japan Expo. Mostrei ao Torishima-san os rascunhos do meu próximo mangá. Eu queria desenhar um mangá original há muito tempo. Não consegui pensar em um momento melhor.

Você continuará com seu estilo de desenho de Dragon Ball Super?

Toyotaro: Esse estilo foi emprestado de Toriyama-sensei, então quero fazer isso no meu próprio estilo. Contudo, acho que não consigo evitar algumas semelhanças. Mas encaro Lost Samurai como uma obra separada do estilo de Toriyama-sensei.

 

Outras entrevistas do evento Japan Expo 2025:

Tradução das Entrevistas e Painéis de Dragon Ball no evento Japan EXPO 2025 em Paris

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