Mostroscopy – Análise

Quando pensamos em jogos de luta, é comum que nomes como Street Fighter, Tekken e Mortal Kombat venham imediatamente à mente. Essas franquias têm décadas de história, mecânicas afiadas e cenas competitivas bem estabelecidas. Justamente por isso, Mostroscopy, da Seashell Studio e Oribe Ware Games, surpreende com sua proposta. Com uma estética inspirada no cinema mexicano dos anos 1950, especialmente os filmes de horror e lucha libre, o título chega ao Xbox prometendo um combate acessível, vibrante e peculiar. O que encontramos, no entanto, é uma experiência tão inusitada quanto limitada, uma celebração estilística cheia de identidade, mas cuja profundidade mecânica pode não sustentar o interesse dos fãs mais exigentes por muito tempo.

A grande força de Mostroscopy está no seu visual. A direção de arte é um espetáculo à parte. Cada luta parece sair diretamente de um rolo de filme em preto e branco ou de uma produção B de terror latino. Máscaras coloridas, criaturas monstruosas, robôs gigantes e gatinhos antropomórficos convivem em perfeita harmonia estética, todos desenhados em pixel art com muito estilo. A cada combate, o visual pode mudar com o uso de filtros de cor, granulação e saturações exageradas. Tudo isso contribui para transmitir a sensação de estar assistindo a um filme antigo em VHS, com glitchs visuais e texturas nostálgicas.

A trilha sonora, embora extremamente alta por padrão (algo que pode ser ajustado no menu), também reforça esse clima retrô. Com batidas dançantes e uma sonoridade peculiar, ela dialoga bem com a estética teatral e carnavalesca do jogo. O conjunto audiovisual é, sem dúvida, o elemento mais consistente e envolvente de Mostroscopy.

Diferente da complexidade de comandos que caracteriza muitos jogos de luta modernos, Mostroscopy aposta na simplicidade, o que é sempre questionável, a depender do público que o consuma. O controle se resume a três botões: dois de ataque, que podem ser combinados para pequenos combos, e um destinado a golpes especiais. Esses golpes são ativados com direcional mais botão, podendo ser carregados para causar mais dano. Essa abordagem torna o jogo acessível a jogadores de todos os níveis, inclusive iniciantes e crianças, no entanto, a falta de profundidade se evidencia rapidamente. Todos os personagens compartilham um sistema de golpes praticamente idêntico, e o sistema de combos não recompensa variação nem técnica. Apesar de cada lutador possuir visual e animações próprios, os estilos de jogo acabam parecendo iguais. O resultado é uma curva de aprendizado quase inexistente e uma sensação de repetição após poucas partidas. Apesar disso, Mostroscopy não tenta competir com Guilty Gear ou The King of Fighters. Seu foco está no público que valoriza mais a estética e a diversão casual do que a performance e a competição.

A experiência oferecida pelo jogo inclui quatro modos principais: Arcade, Versus local, Sobrevivência e Desafio. O modo Arcade segue o formato tradicional, apresentando pequenas narrativas para cada personagem em estilo de história em quadrinhos, com combates sequenciais até um desfecho simples. As tramas são propositalmente absurdas, como um plano de dominação mundial por uma raça de gatos, e abraçam o nonsense típico dos filmes de terror mexicanos da década de 1950. Embora divertidas, essas histórias são muito curtas e têm pouca influência direta na jogabilidade.

O modo Versus local permite até quatro jogadores, porém, a ausência de multiplayer online representa uma grande limitação. Sem essa funcionalidade, a longevidade do jogo é seriamente comprometida, principalmente para quem joga sozinho ou não tem companhia local com frequência.

O modo Sobrevivência oferece algum desafio ao propor lutas em sequência com dificuldade crescente. Ainda assim, como a inteligência artificial dos inimigos é limitada, esse modo também se esgota rapidamente. Já o sistema de desafios funciona apenas como um complemento, sem recompensas significativas que incentivem o progresso.

Apesar do visual ousado, Mostroscopy sofre com falhas de polimento técnico. É comum ver animações com quadros pulando, mudanças bruscas de direção sem transições visuais e golpes especiais que falham em registrar o impacto corretamente. Esses problemas não tornam o jogo injogável, mas comprometem a fluidez esperada de um jogo de luta.

Também há uma sensação de indecisão entre o tributo estético e a funcionalidade mecânica. A apresentação visual é impressionante, mas faltam sistemas de progressão, desbloqueio ou customização que estimulem o jogador a continuar. Após algumas horas, especialmente jogando sozinho, a experiência tende a se esgotar.

Mostroscopy é um jogo feito com paixão por uma cultura específica. Ele celebra o cinema mexicano de forma criativa, com visuais encantadores, personagens carismáticos e uma trilha sonora vibrante. É o tipo de jogo que, quando colocado em uma sala com amigos e controles extras, rende risadas e bons momentos. Como peça cultural, é autêntico. Contudo, como jogo de luta, ele carece de profundidade, desafio e variedade. A ausência do modo online compromete sua relevância a longo prazo. Para fãs casuais do gênero ou entusiastas da estética lucha libre e horror retrô, pode ser uma experiência válida e única. Mas para quem busca mecânicas refinadas, progressão envolvente ou competição real, há alternativas bem mais robustas no mercado.

Nota final: 7,5/10

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

INSCREVA-SE NO NOSSO CANAL!