Análise – Pac-Man World 2 Re-Pac
Pac-Man atravessou décadas sendo reconhecido sobretudo por seus primórdios no arcade, mas o início dos anos 2000 marcou uma tentativa de reposicionar a mascote da Bandai Namco dentro da lógica dos plataformers 3D. O título central dessa empreitada foi a série Pac-Man World, sendo Pac-Man World 2 (2002), lançado no PS2, GameCube e Xbox, o mais sólido da trilogia. Em 2025, como parte das celebrações de 45 anos da franquia e após o remake do primeiro Pac-Man World em 2022, chega Pac-Man World 2 Re-Pac. Desenvolvido pela Now Production, o projeto segue a linha de “remake nostálgico” que refaz integralmente os visuais e a apresentação, mas preserva quase todas as bases de design do jogo original.
A trama permanece essencialmente fiel, onde os fantasminhas Blinky, Inky, Pinky e Clyde roubam os Frutos Dourados da Árvore do vilarejo, quebrando o selo que aprisionava o espírito maligno Spooky. O remake reconta esse prólogo com cutscenes refeitas e a aventura se distribui em seis mundos temáticos, cada um com três fases e um chefe, totalizando 25 níveis principais. Esses ambientes passeiam pelos arquétipos clássicos do gênero, como florestas densas, regiões geladas, vulcões, pradarias ou áreas aquáticas, e estão todos conectados pelo hub do Pac-Village, remodelado como centro de atividades.
Cada fase mescla coleta de frutas, plataformas móveis, inimigos simples e segredos escondidos. Entre os extras, retornam os labirintos clássicos de estilo arcade, acessíveis ao encontrar chaves durante a jornada, trazendo uma pausa nostálgica em meio ao 3D. Embora a estrutura linear seja mantida, os níveis foram ampliados e redesenhados, incorporando novos segmentos, zonas secretas e ajustes de layout que alteram sensivelmente a experiência em comparação ao original. Embora ofereça mais espaço para exploração, ela também alonga a duração de algumas fases a ponto de torná-las mais extensas do que realmente precisariam ser.
A jogabilidade continua baseada na ideia de plataforma 3D linear, mas o remake traz ajustes que alteram parte dessa dinâmica. Pac-Man conserva seus movimentos clássicos: pode atordoar inimigos para alcançar plataformas mais altas, aplicar um chute frontal em ataques diretos, arremessar bolinhas de energia e usar uma corridinha. A esses recursos somam-se novidades, como o super salto de rebote, que facilita a exploração vertical e o acesso a áreas secretas; o ataque carregado, eficiente contra grupos de inimigos ou para quebrar obstáculos; e um chute para trás. Os níveis são construídos pensando nessa ampliação, com rampas que permitem ganhar impulso rolando, trampolins que funcionam em série para trechos de plataforma aérea, superfícies escorregadias em mundos gelados e zonas aquáticas agora revistas com novas mecânicas de nado, incluindo um sprint que ajuda a escapar de inimigos submersos. Cada fase também inclui missões internas, com objetivos que vão desde chegar ao final sem morrer até coletar todos os frutos ou atingir determinada pontuação, e cumpri-las recompensa com novos trajes desbloqueáveis.
O combate contra chefes foi retrabalhado. Os chefes de cada mundo ganharam segundas fases e ataques mais variados. E essas batalhas com múltiplas fases ocorrem sem checkpoints intermediários, exigindo atenção redobrada mesmo em padrões relativamente simples. Embora não sejam extremamente difíceis, a ausência de salvamento no meio das lutas implica reiniciar todo o confronto. Isso se soma ao limite de quatro golpes que Pac-Man pode receber, o que torna esses encontros os pontos um pouco estressantes, para quem não quer estresse. Ainda assim, a estrutura de vidas limitadas foi suavizada, e a inclusão da Fairy Mode praticamente elimina a possibilidade de frustração, pois Pac-Man torna-se invulnerável e plataformas extras aparecem, guiando o jogador nessas zonas mais problemáticas.
Após concluir uma fase, desbloqueia-se a opção de time trials, em que frutas são substituídas por relógios que reduzem o tempo final, incentivando rotas otimizadas. Há também um modo multijogador local assimétrico, no qual um segundo jogador controla um Pac-Drone capaz de coletar itens e atacar à distância. Não chega a ser uma cooperação plena, mas funciona como um recurso acessível para crianças ou jogadores menos experientes participarem da aventura.
O Pac-Village é o ponto de acesso aos mundos e é lá que se concentram várias novidades do remake. Além de servir como hub central para entrar nos níveis, a vila abriga NPCs que oferecem pequenos desafios, recompensas e interações. É também nesse espaço que se encontra a Sala Arcade, ampliada em relação ao primeiro Re-Pac: agora, além do clássico Pac-Man de 1980, há arcades desbloqueáveis baseados em motores 3D do próprio jogo, acessíveis após coletar frutas específicas nos estágios.
Outro sistema que marca presença é o gacha de estátuas colecionáveis, com pelo menos 250 figuras. Durante as fases, é possível coletar moedas especiais que permitem “sacar” miniaturas temáticas de personagens, inimigos ou até dos próprios frutos icônicos. Os modelos podem ser duplicados (sem sistema de troca), mas podem ser exibidos em pedestais na vila, funcionando como uma espécie de museu pessoal. Acaba sendo um bom motivador para revisitar fases em busca de moedas que reaparecem após cada tentativa.
A vila também abriga a Boutique, comandada pela personagem Nova. É lá que roupas desbloqueadas nas missões podem ser equipadas, variando de fantasias de caçador ou cowboy até homenagens mais inusitadas, como capacetes inspirados nos fantasmas. Há ainda crossovers, como a roupa de Toc-Man (vinculada ao save do primeiro Re-Pac) e o traje de Sonic, disponível via DLC. Mas infelizmente esses elementos não mudam a jogabilidade.
O remake também adiciona uma trilha sonora retrabalhada. Embora mantenha as melodias originais como base, cada faixa foi reorquestrada para o novo motor. Inclusive, Pac-Man agora fala, algo que pode soar estranho para quem está acostumado ao silêncio icônico do personagem, mas que aqui ganha leveza, funcionando como comentário cômico nos encontros com inimigos ou cutscenes. Há ainda um jukebox escondido na vila, no qual o jogador pode reouvir os temas já desbloqueados e até configurá-los como música ambiente do hub.
A combinação entre hub, gacha e jukebox pode parecer supérflua em comparação ao núcleo de plataforma, mas cumpre bem a função de prolongar a vida útil do título, sugerindo um senso de progressão mais palpável que não estava presente na obra original.
O motor atual permite resolução em 4K e 60fps estáveis nos consoles modernos, com opção entre modo Qualidade e modo Desempenho. Os visuais são vibrantes, com cores saturadas e modelagem mais detalhada e os mundos agora se apresentam com texturas limpas, com uma iluminação mais rica. Apesar disso, a câmera ainda é um problema. Em trechos verticais ou mais estreitos, o enquadramento pode travar em ângulos pouco intuitivos, comprometendo corriqueiramente saltos mais precisos.
Após os créditos da campanha principal, Pac-Man World 2 Re-Pac surpreende com um conteúdo pós-jogo que introduz a Era Pac-Knight, transportando Pac-Man de volta no tempo, ao período da primeira guerra contra Spooky, logo após o desaparecimento de Pac-Boy e Pac-Sis no portal do Árvore dos Frutos Dourados, com 12 “novos” níveis. Esses novos níveis da Era Pac-Knight são variações remixadas das fases principais, mas com layout mais complexo, inimigos mais difíceis e novos obstáculos. Cada área apresenta versões alternativas dos chefes que recebem padrões expandido. E é só através dessa expansão que o jogador terá acesso ao verdadeiro chefe final secreto.
Complementando o pós-jogo, o título ainda conta com conteúdos de DLC. O mais notável é o Pac-Man x Sonic Collaboration, que adiciona três estágios inéditos inspirados em cenários da série Sonic the Hedgehog, com mecânicas típicas como dash panels e loopings, além de uma luta especial com chefe. Há ainda outros bônus, como o Team Ghost DLC, que destrava de imediato os trajes inspirados em Blinky, Pinky, Inky e Clyde, e o Toc-Man Costume, obtido caso haja save do primeiro Re-Pac no console.
No fim, Pac-Man World 2 Re-Pac é um remake competente, que vai além de um título meramente comemorativo, sem a pretensão de ser uma reinvenção. Ele existe dentro de uma zona de conforto clara, respeitando a estrutura do original, acrescentando mecânicas e sistemas pensados para dar fôlego e, principalmente, para tentar transformar um jogo curto e limitado dos anos 2000 em algo que caiba no padrão de consumo atual. A maior virtude está justamente aí, ao ter a noção de que não pode competir com os grandes nomes do gênero em 2025, mas que é capaz de entregar algo simples, até meio genérico, mas divertidinho. Há, sim, um jogo que continua sendo leve, direto e jogável em blocos curtos, algo que ainda tem valor em meio a um mercado saturado de experiências intermináveis e que lamentavelmente regem o comportamento de consumo dos atuais jogadores.
Se o objetivo era devolver Pac-Man ao palco principal, o jogo obviamente não chega lá. Mas se a ideia era consolidar o personagem como uma presença estável, com apelo tanto nostálgico quanto acessível, a missão foi cumprida. O resultado é um remake nada ambicioso, mas que convence pelo cuidado, sem tentar ser maior do que é, e talvez seja justamente isso que o torne relevante em pleno 2025.
Nota: 9,0