Dungeons & Dragons Neverwinter Nights 2: Enhanced Edition – Análise

Dungeons & Dragons Neverwinter Nights 2: Enhanced Edition marca o retorno de um dos RPGs mais ambiciosos da era pós-Baldur’s Gate, agora revitalizado para um público moderno. Desenvolvido originalmente pela Obsidian Entertainment e lançado em 2006, o jogo conquistou destaque por seu enredo denso, sistema profundo baseado nas regras da 3.5ª edição de Dungeons & Dragons e por uma comunidade ativa que explorou ao máximo seu robusto conjunto de ferramentas de criação. A nova versão, lançada em 15 de julho de 2025, promete tornar essa experiência finalmente acessível, estável e tecnicamente refinada.

Seguindo a bem-sucedida trilha aberta pelas Enhanced Editions de Baldur’s Gate, Planescape: Torment e Icewind Dale, a remasterização de Neverwinter Nights 2 se insere como uma celebração dos grandes CRPGs do final dos anos 1990 e 2000. A proposta aqui, no entanto, vai além do simples resgate gráfico. O título foi adaptado para funcionar perfeitamente em sistemas modernos, com melhorias em textura, efeitos visuais aprimorados, controles refinados, interface redesenhada para gamepads, suporte ao Steam Deck e integração com Steam Workshop para mods. Consolida-se como uma versão definitiva, ainda que contenha as marcas de sua geração. Ou seja, não esperem gráficos compatíveis com a geração atual ou a anterior. Estamos falando de uma remasterização de um jogo de 2006.

Mesmo sem um remake completo dos modelos, as atualizações visuais trazem mais nitidez e estabilidade, sem sacrificar a identidade artística original. As cenas de abertura, agora em alta resolução, mostram que houve um cuidado com o tom cinematográfico, onde as cutscenes foram refeitas. Ainda assim, o conjunto é sólido, funcional e imersivo e, acima de tudo, respeitoso com o material original.

O ponto mais alto segue sendo a história. Em uma campanha que se estende por dezenas de horas (e que se duplica com as expansões incluídas), o jogador é lançado de um vilarejo modesto a uma trama que envolve intriga política, pactos arcanos, traições, entidades imortais e escolhas morais genuinamente difíceis. O arco narrativo ultrapassa o clichê do “bem contra o mal”, e os diálogos são escritos com inteligência e profundidade. Aqui, a Obsidian já dava sinais de sua assinatura: personagens com camadas, dilemas éticos e subversões criativas dos arquétipos clássicos de fantasia. Um exemplo é o anão aspirante a monge que vê artes marciais como uma extensão de brigas de taverna, um toque de humor e originalidade que pontua o tom do jogo todo.

Diferente do primeiro Neverwinter Nights, que foi mais lembrado pelo seu editor de campanhas do que pela narrativa em si, NWN2 apresenta uma campanha original sólida por mérito próprio. A decisão da BioWare de entregar a sequência à Obsidian resultou num jogo que se aproxima mais do legado de Planescape: Torment e Baldur’s Gate II do que da estrutura modular e fria do original. O mapa do mundo é amplo e remete diretamente à estrutura de Baldur’s Gate, com múltiplas localidades interconectadas, opções de viagem e uma sensação de jornada contínua.

Os companheiros de grupo, além de permitirem variedade tática no combate, carregam histórias próprias, com ideologias conflitantes e reações orgânicas às decisões do jogador. A dinâmica de influência, que permite conquistar ou repelir aliados com base em ações e diálogos, adiciona profundidade emocional à progressão da campanha.

O combate, baseado em tempo real com pausa, continua exigente e técnico, embora a IA de aliados e inimigos (mesmo na Enhanced Edition) ainda possa gerar momentos de frustração. O comportamento imprevisível dos companheiros em espaços estreitos foram problemas históricos que, mesmo com a possibilidade de microgerenciamento e desativação da IA, ainda não encontram solução totalmente satisfatória. Falta, também, uma opção de controle em grupo mais fluida, como em Dragon Age: Origins ou Guild Wars. Ainda assim, com o uso inteligente da pausa e uma boa composição de grupo, o sistema funciona e permite lutas desafiadoras e estratégicas.

Todas as expansões vêm inclusas, com destaque absoluto para Mask of the Betrayer, amplamente aclamada como uma das melhores campanhas já escritas em um RPG eletrônico. No entanto, nem tudo envelheceu bem. A interface continua pesada e com controles pouco intuitivos. A ausência de auto-saves mais frequentes, a dependência do jogador por salvar manualmente e a curva de aprendizado íngreme para quem não está familiarizado com D&D 3.5 podem afastar os menos experientes. Também há limitações como a falta de redefinição de botões em tempo real e menus que exigem paciência para organizar equipamentos e itens. Ainda assim, tudo isso pode ser superado com um pouco de adaptação.

A grande questão que se impõe é: Neverwinter Nights 2 Enhanced Edition é apenas um relançamento nostálgico ou ainda tem relevância em 2025? A resposta depende de como você valoriza um RPG. Se procura combate puramente técnico e interface moderna, talvez o título pareça datado. Mas se o que busca é profundidade narrativa, decisões significativas, desenvolvimento de personagens, liberdade tática e um mundo crível, este continua sendo um dos melhores exemplos do que o gênero CRPG já produziu.

No fim das contas, a Enhanced Edition não só corrige falhas que dificultavam o acesso à obra original como reabre as portas de um dos últimos grandes RPGs da era clássica. Não é o futuro do gênero, mas talvez o último sopro verdadeiramente grandioso de um estilo que moldou uma geração de jogadores. E pelo seu preço no lançamento, com mais de 100 horas de conteúdo, Neverwinter Nights 2 Enhanced Edition se torna, mais do que nunca, um RPG obrigatório.

Nota 9,0

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