Lost Twins 2 – Análise
Lost Twins 2 é a nova aposta do estúdio paquistanês Playdew, que estreia em grande escala com um projeto simples na proposta, mas ambicioso na execução. Ao invés de tentar competir em narrativas cinematográficas ou em gráficos chamativos, o estúdio aposta em um quebra-cabeça enxuto, direto e que se sustenta na força de sua mecânica central. A ideia de colocar dois irmãos, Abi e Ben, em cenários como um castelo congelado, uma floresta mágica e um mundo de brinquedos funciona como pano de fundo para 33 fases onde a lógica e a cooperação são os verdadeiros protagonistas.
História? Esqueça. O jogo abre com uma breve introdução que logo é deixada de lado. Não há diálogos, motivações ou explicações sobre como os gêmeos foram parar ali, e embora essa ausência de narrativa possa frustrar quem busca envolvimento emocional, a escolha é clara, Lost Twins 2 não quer ser lembrado pela história, mas exclusivamente pelo desenho de seus quebra-cabeças. E isso obviamente dividirá públicos.
O diferencial está na mecânica de “embaralhar peças”. Cada fase é dividida em três blocos que podem ser deslizados como um tabuleiro de quebra-cabeça, abrindo passagens impossíveis e revelando novos caminhos para os personagens. Esse recurso é combinado a elementos clássicos de puzzles de plataformas, do tipo empurrar caixas, acionar botões e escalar cordas, que gera soluções criativas que exigem raciocínio espacial. Há como ver a estrutura geral de cada fase, o que funciona quase como um mapa estratégico, permitindo que o jogador trace rotas antes de agir.
Na prática, a experiência solo é fluida. Alternar entre Abi e Ben é simples e intuitivo, e o fato de o jogo não trabalhar com timers reduz a pressão. Até pequenos detalhes de design contribuem para esse conforto: quando um objeto fica no caminho da conexão entre blocos, o próprio jogo o reposiciona automaticamente, evitando frustrações desnecessárias. Isso dá ao título um caráter mais acolhedor do que muitos outros puzzle platformers com mecânicas de troca de personagens que te forçam o reset das fases, mesmo com bastante exploração.
Ainda assim, existe a possibilidade de jogar em cooperativo local, com cada jogador controlando um dos gêmeos. A dinâmica a dois pode acelerar a resolução de quebra-cabeças, embora também traga problemas ocasionais de controle quando dois dispositivos diferentes são conectados, o que é algo facilmente contornável ao alternar teclado e joystick. O ponto positivo é que o jogo permite mudar para o modo cooperativo a qualquer momento, o que pode ser útil quando um jogador fica preso em determinado enigma.
Além do objetivo principal de levar os irmãos até o círculo de pedra guardado por uma fênix em cada fase, o jogo apresenta desafios extras. Três penas estão escondidas em locais estratégicos, desbloqueando artes conceituais e estimulando a exploração, enquanto achievements opcionais pedem tarefas específicas, como completar o estágio usando apenas um dos gêmeos.
Visualmente, Lost Twins 2 aposta em cores suaves e cenários simpáticos. A trilha sonora segue a mesma linha, com melodias relaxantes, agradáveis e funcionais, que cumprem bem o papel de acompanhar o raciocínio sem distrair, mas nada marcantes. O conjunto é competente, mas também nada marcante, reforçando a decisão do estúdio de colocar todo o peso da identidade do jogo sobre a mecânica.
A duração, porém, pode decepcionar. São apenas três mundos com 11 fases cada, e a sensação é de que a curva de dificuldade engrena justo quando o jogo se aproxima do fim. Apesar disso, as soluções engenhosas e o ritmo acessível fazem da jornada algo divertido enquanto dura.
No fim, Lost Twins 2 é um quebra-cabeça honesto, que não promete mais do que entrega. Sua maior força está na clareza de vir pelos puzzles e ficar pelos puzzles. Para quem busca um jogo de raciocínio bem desenhado, seja sozinho ou em coop, ele encontra espaço entre os bons representantes do gênero, mas para quem espera narrativa, impacto visual ou longa duração, fica nítida a sensação de que havia espaço para muito mais.