Somber Echoes – Análise

Somber Echoes – Análise

Somber Echoes é um metroidvania indie que aposta alto em uma ambientação sci-fi com forte inspiração greco-romana. Desenvolvido pela Rock Pocket Games em parceria com a Lav Games e distribuído pela Bonus Stage Publishing, o jogo se passa a bordo da estação espacial Atromitos, um cenário devastado por uma catástrofe que transformou um antigo lar em um labirinto sombrio repleto de horrores.

A narrativa gira em torno de Adrestia, uma guerreira ressuscitada após ser exilada por sua irmã gêmea, Harmonia. A premissa é promissora e conecta mitologia grega ao mistério de um universo prestes a colapsar. Os elementos mitológicos são bem utilizados e nomes como Aether, Nyx, Hephaestus e Artemis aparecem de forma coerente, mas a condução da história tropeça em sua própria ambição.

Os diálogos narrados por Melina Spetsieri impressionam pelo timbre e pela fidelidade cultural, com um autêntico sotaque grego. No entanto, a escrita sofre com excesso de vagueza. Mini cutscenes e trechos narrativos com poesia soturna surgem em demasia e acabam se tornando cansativos. A tentativa de criar uma atmosfera enigmática é válida, mas acaba dificultando a conexão emocional com os eventos do jogo.

Visualmente, o jogo equilibra simplicidade técnica com uma direção de arte marcante. A Unreal Engine 5 é usada de forma inteligente para criar cenários variados em iluminação e arquitetura, misturando ruínas mitológicas com corredores high-tech. Ainda assim, o excesso de detalhes às vezes atrapalha: objetos interativos se confundem com o cenário, e superfícies destrutíveis nem sempre se destacam. Felizmente, o mapa compensa essa falha por ser extremamente útil.

A trilha sonora, composta por Jordan Aguirre (bliNd), utiliza arranjos orquestrais discretos que ganham força em momentos-chave, principalmente durante batalhas contra chefes. No restante do tempo, o silêncio e os sons ambientes dominam, reforçando a sensação de isolamento e decadência da Atromitos.

Adrestia dispõe de uma boa variedade de habilidades e armas. A Gladius permite ataques direcionais e contra-ataques, a Lança do Legionário pode ser lançada e recuperada, o escudo de Nyx defende e rebate projéteis com base no tempo de reação, e há ainda arco, machado e outras ferramentas adquiridas com o progresso. Apesar dessas opções funcionarem bem na maior parte do tempo, em momentos de combate intenso surgem falhas de responsividade e rigidez nos controles.

O sistema de movimentação é um dos destaques, com a habilidade de se transformar em uma esfera de energia no ar, o que abre novas possibilidades de exploração. Entretanto, a exigência de precisão em certas áreas ultrapassa o desafio natural e beira a frustração. Muitas vezes, o jogador não sabe se o caminho está inacessível por falta de habilidade ou por ainda não possuir o upgrade necessário. Essa incerteza compromete o ritmo da exploração.

A navegação pela Atromitos também levanta questões. As viagens rápidas são divididas em locais e distritais, sendo necessário desbloquear manualmente os reatores para acessar certas áreas. Embora adicione um elemento estratégico, esse sistema torna a movimentação mais burocrática do que deveria.

O jogo valoriza a exploração, oferecendo recompensas como upgrades, fragmentos de armadura, sobreviventes ocultos e estátuas dos deuses que expandem o universo narrativo. No entanto, nem sempre o esforço vale a pena. Após longas seções de plataformas difíceis, é comum receber apenas uma pequena fração de um item, o que pode gerar frustração.

Por outro lado, todos os itens colecionáveis são registrados no mapa, o que facilita alcançar os 100% de progressão. O jogo também permite que tudo seja concluído mesmo após o ponto de decisão final, o que é um acerto no design geral.

No aspecto técnico, o jogo apresentou performance estável, sem travamentos ou bugs críticos. A localização para o português (de Portugal) tem alguns erros notáveis, como o uso da palavra “Poupança” em vez de “Salvando” no sistema de autosave. Há ainda trechos sem tradução. São pequenos deslizes, mas que afetam o refinamento geral do produto.

Somber Echoes é um metroidvania ambicioso e visualmente marcante, com ideias criativas e uma ambientação singular. Apesar disso, falha em oferecer uma experiência consistente. O jogo oscila entre momentos inspirados e trechos que exigem mais polimento, especialmente na condução narrativa, no combate e nas seções de plataforma.

Mesmo com problemas de ritmo, escrita excessivamente vaga e escolhas de design questionáveis, o jogo demonstra personalidade e paixão por parte de seus desenvolvedores. Para os fãs do gênero, há conteúdo suficiente para justificar a jornada, desde que o jogador esteja disposto a lidar com alguns tropeços pelo caminho.

Nota: 8.0

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