Sonic Wings Reunion – Análise

Análise – Sonic Wings Reunion

Sonic Wings Reunion chega com um peso que é retomar, depois de quase três décadas, uma série de “navinha” que cresceu em arcade, Neo Geo e Super Nintendo, sob o nome Sonic Wings no Japão e Aero Fighters no Ocidente. O novo jogo, desenvolvido pela SUCCESS Corp., se apresenta como continuação direta, ambientada num futuro indefinido em que a organização Fata Morgana controla o arsenal global com superarmas absurdas, enquanto o esquadrão internacional Project Blue sobe aos céus para impedir que cidades inteiras sejam engolidas por montanhas móveis, prédios articulados, catedrais que se erguem como fortalezas voadoras e outras bizarrices.

Na prática, nada aqui dá certo. Não há abertura cinematográfica, explicação formal do conflito ou construção de contexto ao estilo visual novel. O jogo abre direto na tela de seleção de piloto e despeja o jogador na primeira fase. O que sobra de história aparece em diálogos curtos entre estágios, variando de comentários cômicos a frases soltas e completamente desconexas, que até tentam reforçar a nacionalidade e a personalidade de cada personagem, mas nunca chega a amarrar o enredo. Nunca mesmo.

O elenco retoma figuras clássicas da série, sendo os oito pilotos iniciais todos vindos de jogos anteriores, mais dois secretos desbloqueados sob certas condições. Há o americano espalhafatoso, o britânico, o sueco, os russos, o representante japonês e, claro, o golfinho agente da ONU que pilota caça com nadadeiras sem qualquer esforço de verossimilhança. Cada um traz um padrão de tiro próprio, que começa relativamente simples, mas ganha formas mais excêntricas quando a nave está fortalecida: o ninja Hein dispara shurikens e kunais explosivas, a dupla russa Chaika e Pushka espalha torres inspiradas na Praça Vermelha e arremessa matrioskas gigantes como bombas, enquanto outros pilotos optam por feixes mais diretos ou leques de projéteis mais abertos.

Um dos poucos elementos realmente interessantes nessa camada inicial é o sistema de ala. Em vez de apenas escolher um personagem, Sonic Wings Reunion permite selecionar um segundo piloto como acompanhante, e esse parceiro empresta sua bomba especial para o arsenal principal. Em termos práticos, isso significa combinar o padrão de tiro de um personagem com a bomba de outro, criando combinações específicas que podem facilitar certos trechos ou simplesmente deixar a tela mais caoticamente satisfatória. Essa combinação influencia também os desfechos, onde cada piloto tem um final solo e um final único com cada outro membro do elenco, resultando em uma centena de encerramentos possíveis, que vão de dramáticos a estranhamente engraçados, mas todos irrelevantes. Além disso, o jogo não oferece qualquer galeria, registro ou menu de consulta para esse conteúdo.

Por baixo dessa camada de elenco e combinações, Sonic Wings Reunion é um shoot’em up vertical extremamente direto, que segue o manual clássico. O jogo oferece oito fases por ciclo, sendo sete estágios principais e um bônus nem um pouco inspirado, organizados em locações do mundo real como Barcelona, Flórida, Abu Dhabi, Tóquio, Planalto das Guianas, Mar Cáspio e Oceano Ártico, sempre misturando cenários urbanos reconhecíveis com máquinas de guerra futuristas e chefes que transformam construções inteiras em armas. Um detalhe está nos pequenos ícones de dinheiro espalhados pela tela, que assumem símbolos de moeda diferentes de acordo com a região da fase, como dólares e libras, assim como nos jogos antigos.

Os chefes de fase, em teoria, deveriam ser o ponto alto da curva de desafio, porém se revelam absurdamente genéricos no desenho e nada marcantes nas sequências de ataque. Disparam padrões que qualquer veterano de navinha identifica de longe, alternam algumas variações, repetem ciclos e caem sem deixar grande lembrança, com destaque ainda mais negativo para o chefe final, que falha tenebrosamente em transmitir qualquer senso de clímax. Visualmente sem graça, mecanicamente pouco inventivo, esse último encontro reforça a sensação de que o jogo não teve qualquer ambição de transformar o encerramento em uma recompensa digna de um tortuoso caminho percorrido.

A duração de cada fase expõe com clareza essa falta de compromisso da equipe. Com um pouco de prática, um ciclo completo de oito fases leva algo entre quinze e vinte minutos, e o próprio jogo assume esse tempo reduzido ao adotar o looping arcade clássico. Ao ver um final, a campanha recomeça automaticamente com dificuldade levemente maior, sem novos estágios, sem variações significativas na estrutura e sem qualquer incentivo além da pontuação. E entre o modo Fácil e o Muito Difícil, a grande diferença está apenas no grau de poluição visual, não propriamente em um desenho mais elaborado de padrões ou de situações.

Sonic Wings Reunion possui essencialmente dois modos: História, que é o arcade em looping, e Treino, focado em repetir estágios isolados com parâmetros customizáveis. Não há modos extras com regras alternativas, desafios cronometrados, variações de rotas ou qualquer tipo de conteúdo que incentive a dominar sistemas mais profundos. A lista de troféus e conquistas segue a mesma lógica minimalista, concentrando-se quase exclusivamente na exigência de finalizar a campanha com cada piloto. Como cada corrida leva cerca de vinte minutos e o sistema oferece dez personagens, cumprir toda a lista consome algo em torno de três horas, que esgotam praticamente todo o repertório de surpresas, sem pedir looping em dificuldades mais altas ou condicionar recompensas a performances excepcionais.

A presença de uma centena de finais diferentes poderia compensar essa secura, se houvesse um sistema interno que os registrasse ou alguma interface que convidasse a explorá-los. Como isso não acontece, a estrutura passa a impressão de que Sonic Wings Reunion exige esforço de arcade sem devolver a mesma moeda em termos de memória, de documentação de seu próprio universo ou de sensação de conquista. O retorno à base entre uma corrida e outra não destrava artes conceituais, trilhas separadas, fichas de chefes ou qualquer coisa que ajudasse a contextualizar o legado da série para quem está chegando a partir deste jogo.

Esse estranhamento fica ainda mais evidente quando o título é colocado lado a lado com outras franquias históricas de navinha que foram resgatadas recentemente. Enquanto coletâneas de Gradius, Darius ou relançamentos de shoot’em ups clássicos se esforçam para cercar o jogo com extras, filtros de emulação, textos históricos e modos adicionais, Sonic Wings Reunion se contenta com o mínimo funcional, como se fosse apenas mais um episódio de rotina lançado três anos depois do anterior, e não o primeiro capítulo inédito em quase trinta anos.

Mas o pior de tudo em Sonic Wings Reunion está na opção estética adotada. Em vez de abraçar por completo o pixel art de arcade e consoles 16-bit, ou investir em um visual tridimensional detalhado, digno, que tirasse proveito dos consoles atuais, o jogo se posiciona numa espécie de meio-termo em 2,5D simplesmente horroroso, ao ponto que, sem qualquer exageros, o Playstation 2 conseguiria oferecer visuais muito melhores. Os cenários são compostos por modelos simples, com texturas chapadas e pouco detalhadas, o que gera a sensação de estar diante de um título de baixo orçamento de três gerações atrás, apenas com resolução mais alta.

Essa mediocridade gráfica seria mais fácil de aceitar se servisse claramente ao gameplay, mas por conta da péssima direção visual, inimigos e tiros compartilham paletas e contrastes pouco definidos, e a combinação de planos de fundo carregados com projéteis pequenos e de cor discreta resulta em diversos momentos de “o que me acertou?”, especialmente nas dificuldades mais altas, quando a tela se enche de balas e explosões simultâneas. O estágio final leva essa estética ao limite, com um visual especialmente desagradável, tanto em termos de gosto quanto de legibilidade.

Ao menos, o som trabalha quase no sentido oposto. Sonic Wings Reunion oferece três modos de trilha sonora distintos, todos com curadoria bastante cuidadosa. O modo Original recupera a identidade musical clássica da série, com composições de Soshi Hosoi, que misturam temas animados de arcade com linhas melódicas carregadas de nostalgia Há também um modo Arrange, que reaproveita músicas de títulos anteriores em versões completamente rearranjadas por compositores veteranos, o que permite criar misturas personalizadas, combinando faixas novas e antigas conforme o gosto de cada jogador.

Além dessa variedade estrutural, o jogo atrela trilhas a pilotos, criando associações específicas entre estilo de nave e clima sonoro. Nem todas as músicas vão agradar a todos, e alguns temas soam datados ou estridentes, mas no conjunto a trilha se destaca como um dos poucos elementos em que Sonic Wings Reunion realmente parece estar dialogando com seu próprio passado de maneira consciente, oferecendo alternativas concretas para quem quer ouvir a série soando como antigamente ou como releitura contemporânea.

De toda forma, Sonic Wings Reunion é um retorno que falha justamente onde um reencontro de peso deveria brilhar. O elenco é carismático, o sistema de ala cria combinações interessantes de tiro e bomba, e a trilha sonora com suas músicas clássicas e rearranjadas falam diretamente com a memória afetiva de quem passou a adolescência cercado de monitores de tubo e fichas metálicas, mas sua campanha é curta demais e pouco inventiva, os chefes raramente se destacam, o chefe final é uma piada de mal gosto, a seleção de modos se limita ao essencial, e o jogo quase não oferece motivos reais para ser revisitado, além do gosto pessoal pela repetição arcade ou da obsessão por rankings. A ausência de uma galeria histórica, de um registro de finais, de qualquer esforço para contextualizar seis jogos anteriores em um lançamento que se vende como reunião, faz com que a própria palavra “Reunion” pareça grande demais para o que está de fato em mãos.

Para quem é fã de longa data de Sonic Wings e sente curiosidade em ver pilotos antigos de volta aos céus, Sonic Wings Reunion decepciona. Quem buscava um grande retorno, um capítulo capaz de colocar a série de novo no mapa das navinhas contemporâneas, encontrará aqui apenas um voo direto, curto e sem escala, com nada verdadeiramente memorável.

Nota 5,0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

INSCREVA-SE NO NOSSO CANAL!