Entrevista com Akira Toriyama e Kazuhiko Torishima na COMIC BOX 11 (1985)

COMIC BOX 11 Vol.24 (novembro de 1985)

EDIÇÃO ESPECIAL

Em colaboração com a Sociedade de Preservação de Akira Toriyama (seu fã-clube oficial)

A Vida Despreocupada de Akira Toriyama

[Gravura] Visitei o local de trabalho do Tori-sa

[Entrevista Longa] Aventuras que fizeram meu coração palpitar

[História de Akira Toriyama] Tudo que é conhecido sobre o Tori-sa!!

Quando éramos crianças, eram as histórias de aventura que nos davam vontade de ler.

O Sr. Torishima tornou-se um personagem regular em “Dr. Slump”, aparecendo aqui e ali. Ele é um editor muito famoso com aquela expressão facial inesquecível e sua famosa fala: “Rejeitado!”. O personagem frio, calmo, impiedoso, implacável, irracional e consequentemente do contra vêm à mente… Mas o que isso significa de verdade?

MANGAKÁ vs EDITOR

Sr. Toriyama, você mora em Nagoya há muito tempo; pretende se mudar para Tóquio?

Toriyama: Não, de jeito nenhum. Não é necessário que eu saia de Nagoya, é uma boa cidade.

Como vocês fazem as reuniões?

Toriyama: Nós fazemos isso por telefone. E cerca de uma vez a cada cinco meses, o Sr. Torishima vem me ver aqui. Mas é feito principalmente por telefone.

Torishima: Isso não é tão ruim, certo?

Toriyama: Sim, não é ruim. Mas não é muito bom, na minha opinião, já que você fala do manuscrito o tempo todo. Por isso prefiro falar ao telefone. Agora temos também a possibilidade de enviá-los por fax.

Então o Sr. Torishima lhe diz “Rejeitado!” por telefone, certo?

Toriyama: Não, acho que não experimentei isso ultimamente.

Torishima: É uma piada, repito, é apenas uma piada. Estou muito chateado que os leitores pareçam interpretar isso literalmente (risos).

Toriyama: Uh, não é uma piada. No início, era até uma realidade.

Torishima: Mas eu nunca disse “Rejeitado!” tão sem rodeios, disse? Claro, já tive que dizer “Rejeitado!” no meio de uma conversa, mas nunca disse “Rejeitado!” de repente ao atender o telefone! Eu nunca disse uma coisa tão terrível. De qualquer forma, minha reputação sofreu um grande golpe! (risos)

Toriyama: Sim, acho que é verdade. (risos) Mas não se esqueça que você me faz redesenhar completamente a cada quatro desenhos.

Então está tudo bem entre vocês ultimamente?

Toriyama: Sim, ultimamente está tudo bem. A personalidade de Torishima parece ter se suavizado. Quando ele se casou, pensei que ficaria mais “aberto”, mas quando eu trouxe um rascunho no dia do seu casamento, ele me repreendeu muito, dizendo: “não posso nem ir em lua de mel agora!” (risos)

Torishima: O quê? Sério? Eu não me lembro disso de jeito nenhum…

Toriyama: Sim, você me fez corrigir na redação.

Torishima: Ainda me lembro vagamente que você chegou atrasado ao meu casamento.

Toriyama: Ah, verdade. (risos) Bem, vamos deixar por isso mesmo… (risos)

Também fiquei deslumbrado com a recompensa anunciada de 100.000 ienes.

Dragon Ball é inspirado em “Jornada ao Oeste” e kung fu. Você gosta da China?

Toriyama: Sim. Mas, originalmente, fui influenciado principalmente por minha esposa. Ela ama a China e conhece bem o país. Minha esposa contou muitas coisas e recomendou que eu pesquisasse, então assisti a alguns filmes do Jackie Chan. Fiquei muito impressionado e acabei adorando.

De onde veio a estrutura da história?

Toriyama: Em geral, não penso na estrutura da história. É difícil decidir que tipo de mangá fazer, e me canso rapidamente. É por isso que mudo o cenário aqui e ali para não ficar entediado. Mas logo fico entediado… Depois de uns dois anos de Dr. Slump, já era demais pra mim.

Torishima: É verdade. Eu sei como você se sente, vejo muito bem quando você começa a sentir que está ficando difícil. Mas a revista simplesmente não pode encerrar uma série porque o autor está entediado. Em primeiro lugar, os superiores não gostariam muito disso… Mesmo depois de dois anos de publicação, disseram-me que era obrigatório continuar por mais um ano. Depois disso, continuei tentando persuadir meus superiores e, por fim, demorei mais um ano para convencê-los. Afinal, um mangaká simplesmente não pode se aposentar depois de se casar, como a senhorita Momoe fez. Dito isso, poderia ter sido legal também (risos).

Nota: Referência à famosa idol dos anos 70, Momoe Yamaguchi, que abandonou a carreira em 1980, no auge de sua popularidade, para se casar com o ator Tomokazu Miura.

O que inspirou os personagens que você criou, Sr. Toriyama?

Toriyama: Bem, eu gostava dos personagens fofinhos da Disney e do Astro Boy do Sr. Tezuka. Eu trabalhava em uma agência de publicidade, então, quando desenhava personagens fofos para panfletos ou qualquer outra coisa, as pessoas gostavam. É por isso que eu presto muita atenção na fofura dos meus personagens. Então, quando sento na minha mesa e penso nos personagens, me pergunto se eles têm uma personalidade forte ou se só precisam ser fofos…

Você lia mangás quando criança?

Toriyama: Até o ensino fundamental, eu gostava de ler e os desenhava apenas para me divertir, mas não li muito depois do ensino médio. Foi só quando larguei meu emprego em uma agência de publicidade que realmente comecei a desenhar. Enquanto lia um livro numa cafeteria, cerca de um ano depois de largar o emprego, deparei-me com um anúncio de um concurso de mangá. Eu tinha que fazer algo para tranquilizar meus pais, então me inscrevi. Também fiquei deslumbrado com a recompensa anunciada de 100.000 ienes.

Qual foi o resultado?

Toriyama: Não deu certo.

Foi para a Shonen Jump?

Toriyama: Sim, isso mesmo.

Torishima: Hã? Não foi, na verdade, na Shonen Magazine?

Toriyama: No começo, eu vi na Magazine, porque na época eu não conhecia a Jump. (risos) Além disso, o prêmio para o concurso da Magazine era de 500.000 ienes, então eu tentei o meu melhor para participar, mas não consegui desenhar no tempo determinado. Além disso, teria que esperar seis meses para a próxima competição e é difícil viver sem renda por um período tão longo. E foi aí que dei uma olhada na Jump e vi que eles estavam recrutando quase todo mês, então achei que seria melhor me candidatar lá, e foi o que fiz.

Foi esse trabalho que chamou sua atenção, Sr. Torishima?

Torishima: Não, acho que foi o segundo, mas o primeiro ficou entre os finalistas. Depois disso, ninguém do departamento editorial entrou em contato com ele, então acho que ele deve ter sentido muita frustração, principalmente porque não foi pago e nem publicado.

Nota: Este trabalho era Awawa World, uma paródia de Zatoichi nunca publicada em antologias ou volumes encadernados. Só pode ser encontrada na íntegra em duas partes na Bird Land Press, o boletim informativo do fã-clube de Toriyama.

Toriyama: Sim. Foi um trabalho que me tomou muito tempo. Eu não tinha intenção de me tornar um mangaká na época, estava interessado no dinheiro do prêmio e, como não consegui da primeira vez, estava determinado a continuar até chegar lá.

Torishima: E então eu fiz parte da equipe que selecionou seu segundo trabalho.

Nota: Mysterious Rain Jack, publicado também apenas na Bird Land Press em duas partes.

Toriyama: Contudo, também não consegui nada nesta segunda tentativa.

Torishima: Mas tinha uma boa razão para isso, este trabalho era uma paródia completa de “Star Wars“.

Nota: Torishima havia mencionado anteriormente em uma entrevista que as paródias nunca ganham prêmios porque, além das questões relacionadas à originalidade da obra em si, também há considerações legais.

Toriyama: É verdade que cheirava a “Star Wars“. (risos)

Mas esse trabalho chamou a atenção deles, não é?

Toriyama: Parece que sim, mas quando perguntei ao Sr. Torishima depois, ele disse que achava que eu era especialmente bom em caligrafia.

Torishima: É verdade. Ele já era muito bom em desenhar os personagens, mas as letras para os efeitos sonoros, como o som “bakoon”, foram feitas lindamente.

Toriyama: Sim, afinal, eu vim da publicidade.

Torishima: As letras no logotipo da primeira página também foram feitas de maneira soberba, fiquei muito impressionado. Tenho que admitir que não tinha grandes expectativas no início. (risos) Eu não estava responsável por qualquer outro artista, então pensei em ligar para ele.

O que ele te disse da primeira vez?

Toriyama: Fiquei muito nervoso quando me disseram que alguém da Jump iria me ligar. Quando se mora no meio do nada como eu em Nagoya, você não tem muito contato com editores de revistas, então eu me lembro de me sentir muito ansioso, como se uma celebridade me ligasse de repente. Ele me disse: “Se você trabalhar um pouco mais, talvez consiga fazer disso a sua vida”, e a partir de então fiquei totalmente convencido. Depois disso, desenhei durante um ano, a um ritmo de cerca de uma história por semana.

Torishima: E um deles foi publicado imediatamente. A história cômica tinha apenas 15 páginas, então foi fácil para a equipe editorial publicá-la. Chamava-se “Wonder Island” (publicado na Jump Nº 52 de 1978). Foi rejeitado terrivelmente na pesquisa de opinião dos leitores da Jump.

Toriyama: Sim, mas essa história foi realmente o fundo do poço…

Torishima: Foi na principal revista semanal, e depois disso também teve algumas histórias nas edições paralelas da Jump (Wonder Island 2, Today’s Highlight Island, Tomato, Girl Detective). Deve ter sido difícil para um recém-chegado encadear piadas como essas para obter votos, certo?

Toriyama: Na época, eu estava apenas começando a desenhar mangás a sério. Fui forçado a desenhar cerca de 500 páginas em um ano, mas senti que estava melhorando, que o que estava fazendo se parecia um pouco mais digno do nome “mangá” a cada vez, então não foi tão ruim.

A recompensa do concurso era a mesma, fossem 15 ou 31 páginas, que era de 100.000 ienes.

Você se concentrou na comédia a partir daquele momento?

Toriyama: Sim. Eu nunca fui do tipo que realmente pensa em uma história.

Torishima: É também porque requer menos páginas. Um mangá de história tem 31 páginas, mas um de comédia tem apenas 15.

Toriyama: É verdade. E a recompensa do concurso era a mesma, fossem 15 ou 31 páginas, que era de 100.000 ienes. (risos) É por isso que eu só tinha piadas em mente desde o início. Além disso, não sou bom em pensar seriamente nas histórias, e não sou o tipo de pessoa que pensa nas coisas da vida cotidiana, então achei que nessas condições era melhor desenhar piadas “descompromissadamente”. Além disso, uma história tem que ser bem contada, certo?

Mas durante a série “Dr. Slump”, havia momentos em que você não usava retículas, e apenas desenhava, por assim dizer.

Torishima: É porque não vendia retículas em seu bairro.

Toriyama: Costumava ser o caso, mas mudou desde então. Porém, retículas são muito complicadas, não é? Eu mesma aplico-as, mas dá muito trabalho. Não gosto muito.

Oh! Não é o seu assistente que aplica as retículas?

Toriyama: Na época, o assistente cuidava principalmente do preenchimento com tinta preta, então tínhamos que terminar nossas tarefas ao mesmo tempo. Não é bom para a produtividade se você é o único a terminar. É por isso que quem tem tempo livre continua na tarefa seguinte. Se o assistente estiver ocupado com alguma coisa, eu cuido do clareamento, da borracha e da coloração, se necessário.

Nota: Vale lembrar que Toriyama teve apenas dois assistentes oficiais em sua carreira, um por período, e que o primeiro deles, Hisashi Tanaka, só vinha ao estúdio uma vez por semana para cuidar das tarefas que lhe cabiam.

Você tem vontade de tentar desenhar histórias contínuas no futuro?

Toriyama: Sim. Mas não cheguei a pensar em algo específico no momento. Por agora, acho que gostaria de desenhar algo mais “sério” de tempos em tempos.

Quando “Dragon Ball” começou, senti que sua lineart ficou um pouco mais fina do que antes.

Toriyama: Sim, é verdade. Eu não fiz isso conscientemente, mas desde a última parte de “Dr. Slump“, fiquei um pouco entediado da minha lineart e acho que ela ficou um pouco confusa. No início de “Dragon Ball“, eu estava realmente empolgado com o projeto e, portanto, me foquei mais nos desenhos. Mas não tenho certeza se isso acontecerá novamente no futuro. (risos)

Torishima: Sim, você ama desenhar. Há algum tempo, Toriyama comprou um carro e gostava de personalizá-lo como hobby. Ele queria fazer a melhor combinação de cores possível, então desenhou o carro com precisão e tirou uma cópia de cinco centímetros dele. Cinco centímetros em papel de cópia é muito. Ouvi dizer que eles verificaram todas elas, colorindo-as.

E que cores você acabou escolhendo?

Toriyama: Branco e cinza. (risos)

Eu não li nem Ashita no Joe e nem Kyojin no Hoshi

Você tem alguma história interessante para contar sobre o período antes ou depois de sua estreia?

Toriyama & Torishima (juntos): Histórias interessantes, hein…

Torishima: No seu caso, sua primeira experiência com quadrinhos parou em Astro Boy e Disney. É por isso que você não conhece “Ashita no Joe” ou “Kyojin no Hoshi“.

Toriyama: Ah, sim, eu os conheço, apenas não os li.

Torishima: Ah, entendi. Em suma, você não os leu. Normalmente, um editor e um mangaká conseguem conversar um pouco sobre “Ashita no Joe” e “Kyojin no Hoshi”, certo? Com Toriyama, isso não é possível. (risos) Essa é uma anedota interessante. Ou assustadora, dependendo de como se vê.

O que você estava fazendo naquela época?

Toriyama: Eu realmente não sei. Quando eu estava na escola primária, apenas brincava na rua. Eu era um garoto do interior, sabe, e brincávamos principalmente de jogos de arremesso de pedras. A regra era: se chorar, perde. (risos) Foi o mesmo no ensino fundamental e médio. Quando eu estava no ensino médio, fazia parte de um clube de mangá, mas não enviei nenhum trabalho pessoal. Então me formei e encontrei um emprego. Saí da empresa depois de três anos e fiquei desempregado por um ano.

Torishima:Então, se não me engano, você tinha 23 anos quando estreou.

Toriyama: Isso mesmo.

Torishima: Já era tarde! Se um novato de 23 anos chegasse hoje, pensaríamos duas vezes. Atualmente, um aspirante a mangaká teria que ter 15 ou 16 anos, começar profissionalmente aos 18 ou 20, e aos 23 já deveria ter uma série nas mãos.

Um mangaká capaz de cumprimentar adequadamente seu editor

Como foi trabalhar em uma agência de publicidade?

Toriyama: Acho que muitas coisas que fiz naquela época realmente me ajudam agora. Por exemplo, eu criei muitos letreiros, desenhei muitos panfletos de anúncios, busquei manuscritos, cumprimentava as pessoas, etc..

Torishima: Isso foi muito útil para você. Quando cheguei à redação, poucos mangakás cumprimentavam adequadamente seus editores. Além disso, tenho um cronograma mensal, mas não posso enviar até que o prazo seja de dois dias. Portanto, as dificuldades que os editores enfrentam com os autores são amplamente ignoradas.

Toriyama: É por isso que as reuniões são rápidas. Demora menos de cinco minutos.

Torishima: Por outro lado, ligamos um para o outro quase todos os dias. E não é que falamos de trabalho ao telefone, quase só falamos de filmes. Temos gostos parecidos e idades próximas e, se houver algo interessante, quero contar a ele.

Toriyama: Mas apesar de sermos parecidos, temos personalidades muito diferentes. Eu, ao contrário de você, sou uma pessoa gentil.

Torishima: Oh, então você está dizendo que eu não sou gentil? (risos)

Então a maioria dos diálogos vistos em seu mangá sobre o Sr. Torishima são fictícios?

Toriyama: Sim e não. Não é pura mentira. Você deve saber que eu não tinha permissão para fazer mais nada até que meus manuscritos fossem concluídos.

Torishima: Nos comunicamos por telefone, e como não podíamos nos ver pessoalmente, ele aproveitou a oportunidade para trapacear com o tom de voz.

Toriyama: Eu digo a ele coisas como: “começou a nevar forte de repente”, em uma voz desesperada e arrependida. (risos)

Torishima: Sim, eu pensei que ele estava muito lento em terminar seus manuscritos ultimamente, e descobri que ele havia tirado sua licença de moto sem contar a ninguém.

Toriyama: Ha, ha, ha! Tive que me esforçar muito para não ser pego. (risos)

Não me lembro como consegui segurar minha caneta com uma febre de 40 graus!

Mas você nunca passou pela situação de entregar manuscritos com atraso?

Torishima: Aconteceu algumas vezes, mas não me causou muitos problemas.

Toriyama: Mas aquela época da gripe foi realmente problemática. Eu tive uma febre de 40 graus.

Torishima: Sim, sua voz estava bem rouca naquele tempo, então eu sabia que estávamos com problemas…

Toriyama: Estou falando sério sobre isso. Ainda não sei como consegui segurar minha caneta.

Torishima: Mas os manuscritos foram entregues no prazo, não foram? Veja bem, Toriyama, você costumava trabalhar para uma pequena agência de publicidade, certo? Então você conhece os problemas que os impressores e fabricantes de chapas de impressão enfrentam quando os manuscritos são entregues com atraso. Você sabe como é complicado criar manuscritos para este tipo de pranchas e como é problemático não poder gerir as cores antecipadamente quando eram necessárias. Tenho certeza de que você está frustrado como artista, mas conhece os limites do processo tão bem quanto eu.

Toriyama: Sim, eu aprendi um pouco sobre isso.

Em “Dragon Ball” fala-se atualmente de um Torneio de Artes Marciais.

Toriyama: Eu gosto de torneios assim, são fáceis de fazer. Em outras palavras, depois de iniciar um torneio, você pode estendê-lo por quantas semanas forem necessárias. Além disso, é divertido pensar em como os participantes vão lutar na próxima luta, e acho que as crianças gostam disso. Quando éramos crianças, todo dia era uma luta.

Você pensa em seus leitores crianças?

Toriyama: Não, não penso muito. Se eu começar a pensar em como as coisas são percebidas pelos leitores, o processo criativo acaba ficando chato. Mas não é como se eu não estivesse ciente deles.

E os resultados das pesquisas de popularidade?

Torishima: São bons. Não posso te dizer a classificação exata porque é um segredo comercial, mas, junto a Hokuto no Ken, Kinnikuman e Captain Tsubasa, Dragon Ball se tornou um dos líderes da revista.

Que tipo de cartas de fãs você recebe?

Toriyama: São todas de crianças pequenas que escrevem a lápis. Muitas delas simplesmente dizem: “Mestre Kame é nojento!”, esse tipo de coisas.

Torishima: O resto são pedidos, né?

Toriyama: Sim. Pedidos como: “Me dê um autógrafo ou não serei mais seu fã”. (risos). Também é interessante receber cartões postais nos quais está escrita apenas uma palavra: “Cocô”. Não leio todas, só cerca de metade, mas eu realmente acho que deveria ler todas.

Torishima: Em termos de número de cartões postais, no entanto, ainda é uma quantia pequena em comparação com o que Yōichi Takahashi recebe, que é o mangaká que mais as recebe. Em contrapartida, você recebe correspondências menos problemáticas.

Nota: Yōichi Takahashi é o criador do mangá Captain Tsubasa, conhecido no Brasil como “Super Campeões”.

Toriyama: Sim, não são problemáticas. No meu caso, não há maníacos e eles são apenas bem sinceros: “Nesta semana foi chato” ou “Está seguindo o caminho errado, seu tonto”. É tão sincero que me deixa feliz.

Torishima: Li uma carta de um fã que nunca vou esquecer. Aquela que dizia: “Lemos os capítulos em família”. Acho que foi um menino que mandou, e ele estava na metade do ensino fundamental; a irmã mais nova devia estar no início do ensino fundamental e os pais dele tinham uns 30 anos. “Em casa, temos uma ordem de leitura definida e lemos por ordem de importância. Minha mãe lê primeiro, depois meu pai, depois eu e, por fim, minha irmã.” Além destas, temos cartas de professores do primário e do ensino fundamental. Eu também sou responsável por vários outros autores, mas a primeira vez em que vi esse tipo de carta de fãs foi com o Toriyama.

Toriyama: Não pretendo desenhar mangás recomendados pela Associação de Pais e Mestres.

Torishima: Bom, nunca tem sangue jorrando e pessoas morrendo, então está bem, certo?

Qual é a sua programação semanal?

Toriyama: Para a “Jump”, a regra é que os manuscritos sejam enviados na sexta-feira. Então, vendo o processo ao contrário, começo a desenhar na quarta e termino na quinta. Um dia antes disso, espero pelo feedback do rascunho. No sábado e no domingo trabalho neste mesmo rascunho. Acho que é um padrão que sexta-feira seja um dia de folga. Quando comecei com “Dr. Slump“, estava em um estado terrível, pois a cada três dias ficava dois acordado a noite toda e não tinha sequer um dia de folga.

Torishima: Sim, não havia descanso. Naquela época, ele tinha que ir ao aeroporto de Nagoya para entregar os manuscritos, mas nem conseguia reconhecer a cor dos semáforos no caminho, de tão cansado que estava.

Toriyama: Foi MUITO DIFÍCIL… Eu disse a mim mesmo: “Chega de serialização, não posso mais fazer isso!” Quando comecei Dr. Slump, não sabia que era possível usar assistentes, então fiz tudo sozinho.

Torishima: Sem contar que, na época, você tinha que colorir quinzenalmente.

Toriyama: Eu me vi morrendo várias vezes.

Como é o padrão do seu dia a dia?

Toriyama: De manhã… ou melhor, à tarde, eu levanto às 14 ou 15 horas e ando de moto até o jantar.

Viaja para longe?

Toriyama: Não, só passeio pela vizinhança.

Torishima: Sabe, se você não andar muito de moto, eventualmente a bateria acabará. Este é o motivo da maior parte dos seus passeios, certo?

Toriyama: Não, não, eu ando de moto porque gosto. Eu realmente curto isso.

Quantas motos você tem?

Toriyama: Duas. Uma Silk Road Kai (Honda) e uma KR250 (Kawasaki).

Torishima: Oh, não eram sete?

Toriyama: São sete se você incluir as lambretas, mas estou guardando-as com cuidado para minha velhice. Fora isso, sou realmente preguiçoso. Demora cerca de 10 minutos para chegar a Nagoya de moto, mas raramente vou lá. Fico passeando pelos campos de arroz e vou às cafeterias.

Torishima: E você fica folheando as “Shonen Sunday” e “Shonen Magazine“, né?

Toriyama: Ah, quando não tem nada para ler.

Torishima: Você lê as “Jumps” que são enviadas para você?

Toriyama: Não leio muito (em voz baixa). Mesmo sobre o meu próprio trabalho, não leio o que é publicado nas revistas. Em geral, sinto que terminar o trabalho é o suficiente. (risos)

Dentre os animes originais, Conan era o mais bem-sucedido e interessante.

Você usa vídeos de referência para seus mangás?

Toriyama: Sim, com certeza. Eu gosto mais de filmes do que de mangás, e assisto a muitos deles.

Torishima: Sim, mesmo quando falamos ao telefone, conversamos mais sobre filmes do que sobre as obras de outros artistas de mangá.

Toriyama: Então, quando vou a Nagoya de vez em quando, é principalmente por causa de filmes, embora não assista a tantos.

Torishima: Entre os filmes que vi recentemente, “A Testemunha” foi interessante, não é?

Toriyama: Sim, eu gostei. Foi comovente. Continuo sendo uma pessoa simples de coração.

Torishima: Uma obra que se tornou bastante comentada por nós dois este ano foi, na verdade, uma bastante antiga. “Mirai Shonen Conan” de Hayao Miyazaki.

Toriyama: Sim, “Mirai Shonen Conan” é divertido.

Torishima: No momento, fala-se muito sobre OVAs. Então compramos alguns e os vimos juntos, mas não eram tão interessantes. Naquela época, entre as coisas que comprei estava “Conan“, que era o mais bem-sucedido e interessante. Não gostamos de coisas sombrias ou complacentes.

“Exterminador do Futuro” não é sombrio pra você? (estava na prateleira)

Torishima: Era como um mangá shonen, não é?

Toriyama: Era simples e interessante.

Mas “Mad Max” era uma história sombria, não é?

Toriyama: Hm… não deveria ser classificada como simples?

E o que você acha de “Duna” (1984)?

Toriyama: Eu não entendi “Duna” quando o vi no cinema, e achei que era um filme estranho, então decidi assistir novamente em vídeo.

Torishima: Você entendeu depois de ver de novo?

Toriyama: Sim, mais ou menos. Mais ou menos.

Você realmente não é fanático por vídeos?

Toriyama: Sim, não sou. Quanto a filmes, não acho que seja um fanático também, mas se parecer interessante, assistirei. É basicamente isso.

Quais são suas impressões sobre “Mirai Shonen Conan”?

Toriyama: Os movimentos não são tão suaves quanto os da Disney, mas são cheios de uma energia que é única nos mangás. Além disso, acho que a personalidade do personagem principal Conan é um pouco semelhante ao meu personagem. O contraste entre Conan e Gimsy é muito bem feito, e o Capitão Dice é um dos meus personagens favoritos. De qualquer forma, é um anime interessante. É muito bom e enérgico.

Acredito que modelos de plástico também é um de seus hobbies.

Toriyama: Sim, também gosto de modelos de plástico. Mas não construo qualquer um sem pensar duas vezes, e sim quando sai algum kit que me parece interessante. É por isso que não chamo de hobby.

Você está sempre assistindo a filmes?

Toriyama: Sim. Quando eu estava no ensino fundamental, assistia a séries de monstros o tempo todo. Eu costumava fazer fila no cinema nas manhãs com minha lancheira em mãos. (risos)

Poderia listar filmes memoráveis para você em ordem cronológica?

Toriyama: Bem, depois das séries de monstros, eu gostava de faroestes macarrônicos. Quando criança, eu estava sempre assistindo as coisas legais como “Por um Punhado de Dólares”, depois as histórias de guerra como “Tora! Tora! Tora!” e “A Batalha da Grã-Bretanha”. Então, quando comecei a trabalhar em uma empresa, estava vendo Star Wars, esse tipo de coisa… No entanto, acho que há muito mais filmes que vi na TV do que no cinema.

Torishima: Há apenas um gênero que você não gosta, certo? Romance.

Toriyama: Não suporto romances.

Como foi sua vida amorosa?

Toriyama: Bem, não tínhamos muitos encontros e nos falávamos ao telefone todos os dias, mas eu estava com pressa.

E os familiares?

Toriyama: Nós dois estávamos desenhando mangá em Nagoya, e os pais da minha esposa eram da nossa vizinhança, então nós cinco nos encontramos primeiro para conversar. Na época, não achei que minha futura esposa fosse a pessoa certa, mas depois de namorar com ela por cerca de seis meses, senti que como éramos ambos mangakás, ela entendia muito bem o nosso tipo de vida, e também nos dávamos bem. Então liguei para ela e perguntei se ela queria se casar comigo. E ela disse que sim, e esse foi o fim de todo esse namoro.

Foi bem fácil, né?

Toriyama: Sim, foi simples.

Torishima: Além disso, quando a pediu em casamento, ele o fez enquanto comia pão.

Sua lua de mel foi no Havaí, certo?

Toriyama: Sim, no Havaí.

Sua vida privada e o mangá se unem de forma simples, clara e direta.

Você também viajou para a China, não é?

Toriyama: Foi apenas para reunir material de pesquisa para Dragon Ball.

Você tem alguma história interessante da China?

Torishima: A História dos Banheiros.

Toriyama: Sim, os banheiros, mas basicamente tudo era interessante.

Torishima: As pessoas eram mais interessantes do que as paisagens.

Toriyama: Isso mesmo. Mesmo que o cenário seja incrível, é igual a um cartão postal. Mas as pessoas eram todas vívidas. Rostos e vozes autênticas. As crianças pareciam crianças. Observar as pessoas foi a coisa mais interessante dessa viagem. Isso me deixou nostálgico. Era assim quando éramos crianças.

Os resultados de sua viagem à China são refletidos em “Dragon Ball”.

Toriyama: Bem, um tanto no começo (risos).

Torishima: Quando ele foi para Bali, Dragon Ball também fez uma parada em Bali. No caso dele, sua vida pessoal e o mangá se entrelaçam simultaneamente. O que mais o interessa e empolga no momento se reflete diretamente em seu mangá.

Toriyama: Sabe, se você não tiver esse nível de exigência, vai ficar entediado fazendo mangá. Então, quando você lê os meus mangás, consegue dizer o que me interessa naquele momento. Também gosto de carros, que desenho muito. Mas evito desenhar motos, pois é muito trabalhoso. Existem mangás sobre motos como “Bari Bari Densetsu“, certo? Fico impressionado ao ver que conseguem desenhar motos semana após semana.

Você não faz mototurismo?

Toriyama: Se eu tivesse uma série sobre o assunto, faria. Não sou uma pessoa que planeja as coisas com antecedência. Peço ao Sr. Torishima que me faça um cronograma mensal, mas quando chega o trabalho de fazer uma capa ou a finalização de um volume, minha agenda inevitavelmente vira de cabeça para baixo.

Torishima: Não é o tipo de trabalho em que tudo para quando o sinal toca.

Toriyama: Seria muito mais fácil se fosse esse o caso.

Mas também não é um trabalho que você deva começar quando o sinal tocar.

Toriyama: É bem por aí mesmo. Tenho lembranças muito ruins de quando trabalhava em uma agência de publicidade.

Torishima: Em resumo, chegava atrasado.

Toriyama: Sinceramente, quantas vezes gritaram comigo por chegar tarde na empresa? Além disso, chegar atrasado afeta seu salário. Especialmente o bônus. Recebia menos do que a moça que tinha acabado de entrar na empresa e servia o chá. Isso era cruel. (chegava atrasado 2/3 das vezes)

Voltando a “Dragon Ball”, é ambientado na China, certo?

Toriyama: Sim, isso mesmo. A princípio, essa era minha intenção, mas seria bobagem me prender a isso, e achei que não havia necessidade de ser tão exigente a respeito, então tentei não mencionar a China desde o início. Aos poucos, fui alterando os lugares um após o outro. No começo, eu realmente queria seguir com “Jornada ao Oeste”. Também comprei a obra e a li para estudar. No entanto, seria chato fazer daquele jeito, e houve alguns capítulos que não puderam ser usados. Nesse caso, decidi manter o nome do personagem principal e pegar emprestado apenas a atmosfera. Então tentei fazer Bulma se parecer com Sanzo Hōshi e Oolong com Cho Hakkai. O resultado não foi bom. Achei que seria mais interessante desenhá-los como eu bem entendesse.

De onde veio a ideia de fazer como “Jornada ao Oeste”?

Torishima: Não veio de nenhum de nós, apenas aconteceu assim.

Toriyama: Sim, por alguma razão. Com um sentimento do tipo: “histórias de aventura como ‘Jornada ao Oeste’ não são legais?”.

Você tem a orientação do Sr. Torishima para coisas como mudanças de rota?

Torishima: Não, de jeito nenhum. Acho que é mais interessante deixar o artista desenhar o que ele ou ela mais quer fazer no momento, e acho que o leitor pode sentir a paixão desse jeito. Acredito que trabalhos dirigidos editorialmente são muitas vezes coerentes, mas pouco interessantes.

Bem na época em que a serialização começou, Daijiro Morohoshi e Kazuo Koike também estavam fazendo histórias baseadas em Jornada ao Oeste. Eu estava prestando muita atenção na progressão dessas três obras.

Torishima: Somos aqueles que, entre os três projetos, têm menos a ver com o trabalho original.

Nota: Daijiro Morohoshi estava publicando a obra “Saiyū Yōenden”, com temática de Jornada ao Oeste, em 1983. Kazuo Koike, mais conhecido por Lobo Solitário, estava publicando um mangá chamado “Son Gokuu” em 1984.

Toriyama: Quando nós dois estávamos discutindo o que fazer com nossa próxima série, as comédias românticas estavam no auge. Porém, quando éramos crianças, os mangás shonen que líamos com entusiasmo eram os de aventura. Você podia ver coisas correndo em alta velocidade, batendo em alguma coisa e explodindo em chamas. Queríamos fazer esse tipo de trabalho que faz você querer continuar virando as páginas, imaginando o que vai acontecer a seguir, e, quando terminar de ler, você pode correr feliz para fora para brincar.

Você ainda é atraído por aventuras?

Toriyama: Sim, eu gosto muito delas. Por exemplo, se quiser retratar a vida cotidiana, não acho que o mangá seja o melhor meio para isso. Eu gosto mais de histórias de aventura do que de mangás do dia a dia, digamos assim.

Quando penso nas histórias de aventura que costumava ler quando criança, penso especialmente nas do Sr. Tezuka.

Toriyama: Na verdade, o único título do Sr. Tezuka que eu conhecia era “Astro Boy“. Mas adorei o arco “O Robô Mais Forte do Mundo”.

Torishima: Além disso, você não disse que gostou de “Amefuri Kozou“?

Nota: É a segunda história do mangá “Lion Books”, de Osamu Tezuka.

Toriyama: Sim, mas essa foi uma leitura bastante recente.

Torishima: Você chorou quando leu, não foi?

Toriyama: Sim.

Torishima: Porém, você é o tipo de pessoa que chora facilmente.

Toriyama: Antigamente, eu não chorava mesmo se quisesse. Mas ultimamente tenho lágrimas nos olhos muito rapidamente. É a idade, sem dúvida.

Vamos lá, pense e encontre ideias!!

Você assistia ao anime de Astro Boy?

Toriyama: Sim. Eu costumava ir ao meu vizinho que tinha uma TV e assistia. Demorou para termos televisão em casa, acho que eu estava na quarta ou quinta série quando compramos uma. Eu fiquei tão feliz por poder ter uma TV em casa, mas aí as TVs coloridas começaram a aparecer nas casas ao meu redor, o que me deixou triste (risos).

Torishima: Foi como quando você finalmente comprou o City e o City Turbo saiu logo depois.

Nota: Modelos de motos da Honda.

Toriyama: Isso, isso.

Falando de obras da TV que foram influências.

Toriyama: Assisti a “Tarzan” e “Superman“. Além disso, gostei de “Chibikko Gang“. Também curti “Ultraman” e “Ultra Q“.

Torishima: Quando comecei a trabalhar com ele, havia uma cena do Ultraman comendo um bolinho de arroz, e foi um choque cultural quando vi isso.

Do que mais você gosta?

Torishima: Você curte Perdidos no Espaço, né?

Toriyama: Ah, eu realmente gosto.

Torishima: Comparativamente falando, você prefere produções estrangeiras, não é?

Toriyama: Bem, não estou tão certo sobre isso.

Torishima: Você provavelmente não conhece “Os Três Patetas“.

Toriyama: Conheço, sim!

Torishima: Sério? Você tem que ser consideravelmente velho para conhecer “Os Três Patetas“.

Você já assistiu “The Lucy Show”?

Toriyama: Sim, assisti. Você conhece “Mister Ed“?

Torishima: Sim! E “Lassie“?

Toriyama: “A Famosa Cadela Lassie”. Eu adorei.

Torishima: Você conhece “Fury” (série de TV americana de 1955)? E “The Adventures of Black Beauty” (série de TV britânica de 1972), a história de um cavalo inteligente.

Toriyama: Ah, eu não conheço esses. Mas eu assisti “Nana-iro Kamen” (o primeiro tokusatsu da Toei Company).

Torishima: E “National Kid“?

Toriyama:National Kid” não teve muito impacto.

Nota: National Kid foi uma série tokusatsu que não fez grande sucesso no Japão, mas ganhou um status cult no Brasil. Foi exibido por aqui pela Rede Record em 1964, quatro anos após a exibição original no Japão.

(Se perderam divagando sobre antigos programas de TV)

Toriyama: Eu não assisto animes. Quando se trata de TV hoje em dia, sempre assisto coisas de animais. Coisas como “Reino Selvagem”. Amo animais desde criança. Além disso, vejo programas de culinária.

Você sabe cozinhar?

Toriyama: Não, não consigo fazer isso de jeito nenhum.

Torishima: Então o que tem de tão interessante nestes programas?

Toriyama: Bem… como dizer? Não parece delicioso?

Você não recebe pedidos para aparecer em programas de culinária? Afinal, existem as mesas de celebridades.

Toriyama: Não, não recebo nada disso.

Torishima: Pessoalmente, gosto de assistir TV, mas não gosto de estar nela. O tempo de espera é bastante longo e não gosto disso porque sou impaciente e irritável por natureza.

Não teria problemas se você usasse o tempo de espera para pensar em ideias, certo?

Toriyama: Bem, não sou bom nisso. As ideias não vêm a mim se não estou na minha mesa. Se não me esforço para pensar, não sai nada.

Você assiste o anime “Dr. Slump”?

Toriyama: Não tenho visto muito ultimamente. Mas antigamente eu costumava assistir bastante, enquanto estava trabalhando na obra original. Eu me perguntava como eles iriam expandir o trabalho original. No entanto, o jantar era por volta das 19h30, então se eu saísse de moto até lá, havia momentos em que não conseguia assistir.

Como se sentiu sobre seu trabalho se tornar um anime?

Toriyama: Foi assustador no começo, afinal, o que eu desenhei estava sendo projetado na televisão. A razão pela qual eu odeio TV é porque fico horrorizado quando vejo minha cara feia nela. Quanto ao trabalho, não sou muito exigente, então achei que as vozes eram um pouco diferentes do que havia imaginado, mas não parecia fora do lugar. Além disso, não sei nada sobre anime, mas depois de ver este bom trabalho, sinto que quero fazer uma animação como essa.

De que tipo de livros de ficção você gosta?

Toriyama: Hm… Gosto de Yasutaka Tsutsui e Makoto Shiina. Quando estava no ensino médio, peguei emprestado na biblioteca da escola as chamadas aventuras de ficção científica, como a “Barsoom” e li com entusiasmo.

Nota: Yasutaka Tsutsui é um escritor de ficção científica cujo trabalho mais famoso é Toki wo Kakeru Shoujo (A Garota que Conquistou o Tempo), publicado em 1967. Makoto Shiina é um escritor, fotógrafo e diretor de cinema. Sua história mais famosa é Gakumonogatari (Gaku Stories; também conhecido como My Boy: A Father’s Memories), publicada em 1985, o ano desta entrevista. Barsoom é uma série literária de ficção científica criada pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs, mais conhecido por “Tarzan”.

Eu realmente não tenho tempo para ler esses dias.

Toriyama: Eu tenho tempo.

Mas se sair para andar de moto, ele desaparecerá.

Toriyama: Não é como se eu andasse apenas de moto. Mas, realmente, às vezes me pego pensando no que estou fazendo, porque muitas vezes fico apenas vagando por aí.

O quê? Você lê Dazai? Nossa…

Qual é o seu livro favorito?

Toriyama:Indo de Washi mo Kangaeta” (Eu Também Pensei na Índia) do Sr. Shiina. Na verdade, não sou bom em lembrar o título ou nome de uma pessoa. Minha esposa é mais detalhista neste quesito.

Torishima: Por muito tempo, até sua esposa se mudar para cá, esta casa quase não tinha livros impressos.

Toriyama: Que isso, até que havia uma boa quantidade.

Torishima: Certamente havia, como Osamu Dazai. Mas estavam praticamente intocados. Quando eu perguntei: “Olha só, você lê Dazai?”, ele me respondeu: “Ah, não leio, não”, certo?

Toriyama: Eu fiquei desanimado logo na primeira página. Afinal, uma ficção deve ser simples. A história tem que ser fácil de entender, e o desfecho tem que ter um final feliz.

Nota: Osamu Dazai foi um autor japonês considerado um dos maiores escritores da literatura japonesa do século XX.

Scans:

 

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